*Por Rafael Moura
“Eu já recebi mais de 2.000 cartas e respondi quase 300 delas em cerca de 55 episódios do ‘Cartas Pra Pepita‘”, conta a mulher trans, carioca, comunicadora e funkeira Pepita logo no início da nossa conversa. Com uma audiência arrebatadora do programa no IGTV, Pepita, que é considerada símbolo da diversidade e consultora sentimental, quebra barreiras mais uma vez sendo uma mulher trans que fala sobre aceitação, amor e autoestima. A musa que se tornou um ícone de amor-próprio, com o ‘Cartas Pra Pepita’, lançou seu primeiro livro (que leva o mesmo nome do programa), pelo selo Monocó, da Editora Arole Cultural, focado em publicações de títulos e autores da comunidade LGBTQ+ e sobre a diversidade sexual. É coordenado pelos editores Diego de Oxóssi e Rayanna Pereira e teve um preview desse boom no último dia da Bienal do Livro. “Eu sempre recebi muitas mensagens de seguidores me contando seus problemas, desabafando e contando que se inspiravam em mim. Acredito que meu jeito espontâneo de lidar com as situações da vida e a forma leve com que mostro isso atrai as pessoas”, enfatiza.
A ideia desse fenômeno veio da agência Mynd, que ao saber que o Instagram tinha um projeto de desenvolver o IGTV no Brasil, e da grande interação de Pepita com seus seguidores, pensaram que o ‘cartas’ seria um bom conteúdo, que, além de entreter, teria o propósito de contribuir com os internautas. “Gravamos o piloto e foi um sucesso, graças a Deus. No programa, eu aconselho a galera e falo sobre várias áreas da vida por meio de mensagens que recebo. O público abraçou o programa e me abraçou, já recebemos mais de 2.000 cartas. Tanto sucesso e retorno positivo do público acabou virando um livro, a questão foi apenas encontrar os parceiros certos para mais essa empreitada na minha vida. O ‘Cartas para Pepita’ é uma alegria muito grande e responsabilidade enorme também, pois lido com as emoções de outras pessoas, por isso eu faço com muita dedicação. Esse novo ‘filho’ veio para somar forças e dar mais voz para a comunidade trans”, explica.
Pepita ganhou destaque nas redes sociais falando de amor e aceitação em um dos programas com maior audiência no Instagram, e onde conquistou o coração dos internautas e ganhou o título de ‘coach da autoestima’ dado por seus mais de 500 mil seguidores. Tanto sucesso fez com que Pepita ultrapassasse as barreiras da internet e reunisse várias histórias engraçadas, além de outras sobre amor próprio, com alguns dos melhores conteúdos de cartas enviadas ao folhetim e respondidas pela comunicadora. “O programa é uma grande conquista e um passo importante para a bandeira da diversidade ganhar cada vez mais força. Agora lançar o livro potencializa esse alcance. A mulher trans muitas vezes não se sente amada, então não é comum falarmos de autoestima em uma sociedade que muitas vezes nos marginaliza. Fico imensamente feliz em quebrar esse paradigma com ‘Cartas para Pepita’, e poder trocar experiências e conselhos com pessoas de várias idades e sexo. Também é uma responsabilidade muito grande e que eu faço com muita dedicação”, explica.
Símbolo da diversidade e ativista LGBTQIA+, Pepita quebra barreiras mais uma vez, sendo uma mulher trans que fala sobre amor e autoestima, uma vez que os transexuais ainda são alvos de muito preconceito e nem sempre se sentem amados. No programa, ela aconselha seu público e dá pitacos em várias áreas da vida por meio de cartas lidas ao vivo, sem pudores e num tom bem humorado. “Acredito que é a forma leve com que falamos dos problemas, e por eu dar pitaco sem medo, muitas das vezes os amigos têm receio de falar a verdade, pois isso pode machucar quem escuta. Mas eu falo o que penso mesmo, quando precisa dou uns puxões de orelha, sem pudores, num tom bem humorado, e claro com muito respeito ao próximo”, enfatiza.
Em suas letras Pepita traz uma militância, ativismo, a valorização da autoestima, com letras muitas vezes chocantes, revelou uma faceta, até então desconhecida do público. “Posso dizer que esse lado de consultora sentimental me acompanha desde sempre. Na escola minhas colegas já me procuram para dividir aflições, contar sobre os crushs, e eu acabava aconselhando elas. Via algumas meninas se desvalorizando por causa de um cara, e já falava ‘garota para com isso, você é incrível, maravilhosa, não pode, tem que reconhecer seu valor’. Sempre foi natural para mim, gosto de ver as pessoas bem, e vejo o que elas muitas vezes não enxergam em si próprias. Sempre conversei com meus amigos com bom humor, acho isso importante para levar a vida com mais leveza”, conta.
Pepita iniciou sua carreira como dançarina de funk. Enquanto apresentava-se em boates cariocas, a cantora foi presenteada com a música ‘Tô à Procura de um Homem’ e imediatamente lançou-se na carreira musical. Seu primeiro show foi na cidade de São Paulo. De lá para cá podemos nitidamente perceber que a Pepita está sempre se reinventando. “Fico muito feliz com essa percepção. Primeiramente queria reforçar a importância do “Cartas para Pepita”, com o programa e agora o livro, que potencializam a voz trans e nos ajuda a quebrar barreiras mais uma vez, afinal sou uma mulher trans que fala sobre amor e autoestima, em uma sociedade em que os transexuais ainda são alvos de muito preconceito e nem sempre se sentem amados. Além desse projeto incrível, com lançamento do livro na Bienal e depois com eventos em Campinas e São Paulo, estou me preparando para estrear no teatro, com monólogo de como é a vida de um travesti, que deve acontecer entre o final do ano e início de 2020”, comemora. No dia 12, ela estará na Livraria Leitura, no Shopping Dom Pedro, em Campinas e dia 15 de setembro, na Livraria Martins Fontes, na avenida Paulista.
Cada vez mais estamos imersos num mundo virtual, perguntamos a Pepita como equilibrar essas ‘duas mulheres’ com o mundo real. “Principalmente com o programa, que tem essa interação com seguidores, teve um momento que me vi bem envolvida entre os ‘dois mundos’, é inevitável não levar um problema que um seguidor dividiu comigo ou uma história forte para casa. Muitas vezes me vi pensando em cartas e me afligindo com isso fora do estúdio. Foi a hora de respirar e pensar no poder que as redes sociais estava me proporcionando, em ser uma ouvinte e ajudar de alguma forma o próximo, mesmo que seja somente uma ferramenta de desabafo. Tantas vezes queremos colocar algum sentimento para fora e não temos com quem compartilhar e o mundo digital está permitindo isso. Claro que nem sempre as pessoas usam as redes para o bem, mas acho que saber enxergar mais a vantagem é um bom caminho para seguir”, reflete.
No fim do nosso papo, Pepita, avisa que no próximo dia 12, “eu e a Nininha Problemática, de Salvador, vamos lançar o clipe do nosso feat ‘Quem Manda’ que promete ser hit e até o final do ano vou lançar mais uma música”, comemora.
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