“Sempre soube que as palavras são acessórios importantes para decodificar sentimentos”, enfatiza Érica Magni


Transformando um blog em livro, a poeta e jornalista conta ao site HT sobre sua primeira publicação ‘Poérica’, um compilado de sentimentos e experiências cotidianas que será lançado no dia 6, no Estúdio Maravilha 8, em Botafogo, pela editora Cousa

A poeta Érica Magni lançará ‘Poérica’ , dia 6, no Estúdio Maravilha 8 (Foto: Felipe Oneill)

*Por Rafael Moura

“Quiseram me furtar, se tu te pareces frágil te furtarão até o ar faltar.

Te furtarão furta cor. De forma que te tornarás pálida e sem pigmento.

Terás que refazer a tua cor se te furtarem. Me furtaram já, eu sinto.

Estou como a última palavra. Estou com a última atualização. E sólida

como um disco duro me deixo permanecer”, Metrø.

Essa experiência de um quase assalto dentro do metrô, em Barcelona, virou um poema e é um dos 32 textos presentes no ‘Poérica’, o primeiro livro da poeta e jornalista Érica Magni, publicado pela editora Cousa, que será lançado no dia 6 de setembro, no Estúdio Maravilha 8, em Botafogo, Rio de Janeiro. A publicação, repleta de ‘ericolices’, traz uma reunião de textos que falam de força e vivências cotidianas. “Eu sempre soube que as palavras são acessórios importantes na caminhada para decodificar sentimento. Passei minha infância, adolescência e juventude, escrevendo”, revela, em entrevista ao site Heloisa Tolipan.

“Atrás de meu corpo olhos cegos

no meu copo pedaços do outro

passo do medo batendo dentes

saco a alquimia desses bandos

que gracejam mais um voo raso

olhos cegos, inertes se deslocam

quase posso ouvir a engrenagem”, O olho cego do som.

A capa de ‘Poérica’, o livro de poesias da jornalista Érica Magni, publicado pela editora Cousa

A poeta acredita que enveredou pelo caminho da escrita, porque contar histórias faz parte de sua família. “O senso de escrever vem muito da minha oralidade, pois percebi que podia refinar essas histórias. Então descobri a poesia, que é uma linguagem refinada e fragmentada”, pontua, e completa “gosto de imaginar que ‘Poérica’ é minha primeira casa”. Por 16 anos, a jornalista carioca se debruçou quase secretamente na prática da poesia e agora publica sua primeira obra com poemas cuidadosamente escolhidos da página [poerica.tumblr.com], no ar desde 2011. O livro nasce depois de dois anos de preparação, passando por edição e design até ser finalmente impresso, ganhando um corpo vagante no mundo. “A poesia faz parte da minha sensibilidade é onde me sinto mais completa. O olhar poético é o que costura essa cama literária. Eu gosto de experimentar, sempre terei espaço para outros tipos de linguagens, mas o olhar poético antecede a forma, o que me dá mais liberdade de compor”, explica.

O Poérica é uma reunião de textos sobre as vivências cotidianas da autora Érica Magni (Foto: Felipe Oneill)

O livro traz impressões de quem nasceu numa terça-feira do carnaval carioca, da “mescla de mãe imigrante do Norte com pai italiano forasteiro” como define a autora, que passou boa parte da infância e juventude em Vila Kennedy, na Zona Oeste, do Rio de Janeiro, e outra parte em Boa Vista, Roraima. Ainda na infância, os livros sempre estiveram em sua vida, era fã de autores clássicos como Machado de Assis e Rachel de Queiroz. Na juventude, inspirada pela poeta Hilda Hilst, começou a criar coragem para escrever sobre sensações e impressões de mundo que transitavam por sua cabeça.

O Poérica é um blog que está no ar desde 2011. Para o livro, Érica Magni reuniu 32 textos (Foto: Felipe Oneill)

Formada em Jornalismo, Érica atuou como repórter em veículos como o jornal O Globo, e coordenou a comunicação de projetos culturais. Em 2014, a poeta optou por desbravar o continente europeu e buscar novas inspirações para seus textos numa experiência que somou, ao todo, quatro anos, baseada em pequenos espaços de tempo por cidades como a catalã Barcelona, Londres, Florença, Roma, Madri, Reykjavik, Paris, Anger, Lisboa, Porto, Coimbra, Ponte Vedra, Berlim e outros lugares “que lhe atravessaram profundamente. Pensar sobre o ‘Poérica’ me dá mais liberdade. Não quero determinar o trajeto desta obra que acaba de nascer, ela há de ter vida própria”, analisa a escritora, e complementa: “O ‘Poérica’ é como uma poeira leve pairando. Desejo que ele chegue ao público com a leveza displicente de um dia de outono. Ele fala de política, feminismo e ascensão cultural”, ressalta.

Leitura do livro ‘Poérica’ durante a FLIP 2019, em Paraty (Foto: @fotografiafeminista)

A poetisa acredita que “estamos começando um bonito trabalho de inclusão dos públicos para a aceitação poética e os poetas devem aproveitar a deixa e propor mais ao público para o além da caixa”. Magni teve uma experiência com o livro durante a FLIP. Ela fez uma leitura do poema ‘Tetê Terraço’, na Cadeia Literária, que era uma antiga cadeia da cidade de Paraty. “Foi muito emocionante participar da FLIP, porque o livro ficou pronto na semana do evento. Fiz uma apresentação entre a cadeia e a igreja. Como uma transeunte dessa história poética. Eu morei anos próximo ao Bangu 1, então aquele local fez parte do meu ‘trânsito’, e, desde criança, minha mãe me levava para a igreja. O feedback foi superpositivo”, reflete. Sobre o sucesso na feira literária, que reuniu quase nove mil pessoas ao longo do evento, a autora acha que, no geral, as pessoas estão mais abertas a esse olhar poético. “A internet trouxe acesso à histórias e temas diversos, mas acredito que ainda exista uma preguiça social, exatamente pela poesia estar linkada ao belo, ao sentimento, a flor, o espinho…”, dispara.

Na FLIP 2019, em Paraty, Érica Magni leu o poema Tetê Terraço, um dos 32 no Poérica (Foto: @fotografiafeminista)

Sobre o lançamento, no Estúdio Maravilha 8, Érica conta que é um espaço super cool por onde já passaram nomes como Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e muitos outros. Line up vai de música experimental até performances com bailarinos. “A ideia é fazer uma ode à poesia”. E avisa, que no dia 7 de setembro, estará na Bienal do Livro, participando de sua primeira mesa como autora, a convite do Igor Calazans perguntando ‘qual o papel da poesia brasileira nos dias atuais’, ao lado de Paulo Sabino (que já falamos aqui neste site sobre sua mostra ‘Somos Somas’, no Centro Cultura Oi Futuro) e do Rafael Zveiter.

O editor Saulo Ribeiro e a poeta e jornalista Érica Magni, autora do Poérica

SERVIÇO LIVRO

Poérica – Editora Cousa

44 páginas

Preço sugerido: R$ 34

Link venda online: cousa.minestore.com.br/produtos/poerica

SERVIÇO LANÇAMENTO

Data: 6 de setembro – sexta-feira

Local: Estúdio Maravilha 8

Endereço: Rua Visconde Caravelas, 123, Botafogo – Rio de Janeiro.

Horário: 19h

LIVRO + FESTA: R$ 45