Em um cenário em que as fotos ganham quase a mesma velocidade da piscada dos olhos e o papel perde espaço no jornalismo, nas cartas e até nos livros, Jorge Bispo vai na contramão disso tudo. Colunista do site HT e sucesso quando o assunto é foto com conceito e poesia, o fotógrafo lança hoje a Revista 4, quarta edição de sua publicação autoral. Desta vez, a estrela da obra é a atriz, escritora e diretora Maria Ribeiro que, em clima intimista e entre amigos, posou nua para Bispo. Em mais de 100 fotos inéditas recheando as 70 páginas da Revista 4, o fotógrafo dá sequência ao seu projeto que, acima de qualquer objetivo comercial, visa ser um objeto de colecionador com tiragem numerada e assinada por ele.
O novo trabalho, que será lançado hoje à noite no Rio de Janeiro em um encontro entre amigos, irá revelar novas facetas de Maria Ribeiro. Como musa da Revista 4, Jorge Bispo explicou que a escolha pela atriz e escritora foi uma consequência natural da edição anterior, que teve Maria Flor como estrela da revista. “Assim como vem acontecendo desde o início, a escolha pela Maria Ribeiro também foi bem orgânica para esta edição. Ela assinou um texto na revista passada e o convite surgiu de forma natural. Eu costumo dizer que não sou eu que escolho quem vai ser a estrela da revista, ela e o destino que me escolhem”, explicou Jorge Bispo que, na primeira edição, teve Bruna Linzmeyer e, na segunda, Mariana Lima e Enrique Diaz como personagens. “As revistas têm se entrelaçado de alguma maneira. Às vezes, de uma brincadeira ou uma participação em uma edição, aquela pessoa acaba virando o tema da seguinte”, completou.
No entanto, neste movimento orgânico, Jorge Bispo contou que ainda não tem um nome definido para a Revista 5, que deverá sair no Carnaval. Pelo menos é isso o que idealiza o fotógrafo. Sem uma periodicidade definida, as três primeiras edições foram lançadas em um intervalo médio de seis meses. No entanto, em 2017, apenas Maria Ribeiro ganhou as páginas de Jorge Bispo. “Eu faço quando dá”, brincou o fotógrafo que afirmou não ter nenhum nome definido. “Ainda não pensei na Revista 5. Eu tenho algumas ideias, mas nada que esteja minimamente concretizado. Este é um projeto muito trabalhoso e caro. Então, agora, eu preciso de alguns meses sem pensar nisso para tomar coragem e fazer a próxima”, disse.
E nós já queremos outras obras de arte em forma de foto. Desde a edição com Mariana Lima e Enrique Diaz, que ilustraram a Revista 2, Jorge Bispo tem investido na tiragem do produto. Todas com exemplares esgotados, o fotógrafo saltou de 120 para 200 unidades e, agora, com Maria Ribeiro, serão 220 revistas. O que vem mudando também é a inspiração de Bispo para os ensaios. Cada um com uma proposta diferente, o fotógrafo foi das ruas da Lapa com Maria Flor para seu apartamento com Maria Ribeiro. Ao contrário da atmosfera noturna e quase cinematográfica da Revista 3, a edição que será lançada hoje tem aspecto intimista e mais reservado. “Não tem muita regra. Nos dois casos, a Maria Flor e a Maria Ribeiro estão nuas. Mas isso varia de cada uma. Tem gente que prefere estar inserida em um cenário de ficção e faz as fotos quase como um personagem. Mas também tem casos em que a pessoa se sente mais confortável entre amigos e em um local mais reservado”, apontou.
O fato é que, seja nas ruas da Lapa ou em seu aparamento, Jorge Bispo destacou que sua musa precisa estar a fim de viver aquela experiência. Sem cachê e nem a intenção de fazer da Revista algo apenas comercial, o ensaio tem o objetivo de ser uma satisfação e um deleite para ambos os lados. “Não faz sentido ninguém fazer se não estiver com tesão por aquela ideia. Não é para ganhar dinheiro, é por estar ali fazendo aquilo”, explicou o fotógrafo que acredita que este contexto artesanal também influencie na exposição do corpo nas fotos.
Nua, Maria Ribeiro ganha tom poético. “Existe uma sensualidade porque a pessoa é sexual. Mas a forma física não é o mais importante naquele contexto. Esta é uma revista numerada, que custa caro e quem a compra, não está querendo ver uma mulher pelada como é em uma dessas publicações masculinas que encontramos na banca de jornal. Eventualmente, pode ser até que tenha uma foto ou outra mais no estilo ‘tradicional’, mas também terão outras mais loucas, que nunca sairiam em uma revista masculina”, explicou.
Afinal, a proposta da Revista de Jorge Bispo não é ser mais da mesma. Com seu trabalho e assinatura única, o fotógrafo vence o panorama que parecia ser desfavorável e, mais uma vez, imprime em alta qualidade fotográfica sua obra. “Eu sou um cara que cresci na fotografia analógica e agora trabalho só com o digital. Não sou um velho que fico falando que o passado era muito melhor, mas gosto de ter esse contato. Eu gosto de pegar a foto na mão e ter uma sensação ótica e tátil diferente. Então, esse trabalho vai na contramão de tudo o que nos cerca. Enquanto o papel está acabando, por exemplo, eu estou teimando para fazer o meu. É mais que uma revista, é um projeto pessoal. Acaba sendo um portfólio também”, argumentou Bispo que também destacou o fato de o trabalho impresso em papel ficar eternizado, enquanto o digital pode ser perder pelas telas e nuvens do mundo virtual.
Mesmo a Revista sendo um projeto bem trabalhoso na carreira de Jorge Bispo, o fotógrafo contou que segue sua rotina com diversas outras iniciativas profissionais. Como destaque no momento, além de sua badalada coluna para o site HT, ele adiantou o livro de retratos que irá reunir duas décadas de sua vida dedicadas à fotografia. “Vai ser um livrão com alguns retratos inéditos e outros arquivos antigos”, disse Bispo sobre a obra que está em pré-produção e tem previsão de lançamento para o ano que vem. Fora isso, ele deve ter seu programa de TV no Canal Brasil renovado e contou de um projeto audiovisual que ainda não está assinado, mas deverá tomar o tempo do fotógrafo futuramente. Isso sem falar na direção de clipes, como o mais recente de Tiê, campanhas publicitarias e tantos outros empreendimentos. Jorge Bispo é uma máquina!
Artigos relacionados