Claudia Raia: “Precisamos ser mais solidários, sair da nossa bolha e ajudar a diminuir a desigualdade”


Em tempos de pandemia, a atriz se tornou mais atuante nas redes sociais, onde encara como negativa a cultura do cancelamento. “Por outro lado, conseguimos levantar debates sobre assuntos importantes como racismo, homofobia, machismo, misoginia…”, enumera. Em seu Instagram, interage de forma mais efetiva com seu público e reforça as novidades profissionais. No próximo dia 16, lançará simultaneamente o livro de memórias Sempre Raia Um Novo Dia, e a fotobiografia Raia

* Por Carlos Lima Costa

A atriz Claudia Raia é uma pessoa ativa nas redes sociais. E durante esses oito meses de pandemia do Covid-19, intensificou ainda mais a relação. Ela considera a tecnologia positiva, mas acha preocupante a cultura do cancelamento. “As pessoas acabam embarcando em uma ideia de que para defender seu ponto de vista precisam massacrar o outro. Não é bem por aí. Se não houver espaço para o erro e para aprender, estamos perdidos. Tudo é muito novo também. Estamos entendendo ainda a lidar com esse universo, a saber como tudo isso funciona”, analisa. Por outro lado, exalta a importância dessa modernidade. “Não podemos deixar de dizer que há um lado positivo que é a visibilidade, o potencial de debate que existe nas redes. Que bom que conseguimos falar sobre assuntos importantes e levantar debates sobre racismo, homofobia, machismo, misoginia…”, realça.

Dia 16, Claudia lança livro de memórias e fotobiografia (Foto: Vinícius Mochizuki)

Dia 16, Claudia lança livro de memórias e fotobiografia (Foto: Vinícius Mochizuki)

E prossegue: “Acabei ficando mais presente até por causa das lives. Fiz algumas no meu Instagram e participei de tantas outras. Conversei bastante com as pessoas por ali. A tecnologia traz essa possibilidade de, mesmo longe, estarmos perto. Isso é maravilhoso. Consigo interagir com as pessoas de uma maneira mais direta e efetiva. É um lugar também que a gente pode criar muito, em diversos formatos. O meu programa 50 e Tantas, por exemplo, está no meu IGTV. A segunda temporada dele vai chegar logo por lá”, explica.

Nas redes, tem falado também sobre os dois livros que lançará simultaneamente, na próxima segunda-feira, dia 16, o Sempre Raia Um Novo Dia, e a fotobiografia Raia, que, por conta da pandemia, não contará com nenhum evento presencial. E está animada com a participação na Bienal de São Paulo, que acontecerá virtualmente.

Mas tendo ainda uma longa trajetória a percorrer, apesar dos 35 anos de carreira, o que motivou Claudia a lançar uma espécie de biografia? “Essa foi a primeira coisa que eu falei quando comentaram sobre o assunto, que estava muito nova para ter um livro desse, que ainda tinha vários sonhos a realizar. Estou começando agora o segundo ato da minha vida e o segundo é sempre mais interessante, intenso (risos). Então, pensamos que em vez de ser uma biografia fosse um livro de memórias, recontando histórias importantes da minha vida e carreira. Aí comprei a ideia. Eu e a Rosana Hermann, que escreve comigo, não ficamos limitadas por respeitar uma cronologia nem nada. Fomos criando, encaixando as histórias. Tanto que abro o livro falando sobre meu casamento com Alexandre Frota”, conta ela.

Na hora de entrar na Igreja da Candelária, no Rio, ouviu sua mãe, dona Odette, que morreu ano passado, aos 95 anos, falar para que não se casasse. “Tenho muitas passagens que o público não conhece. Tem amor, emoção e muito humor. Minha vida são esquetes de comédia! Não tem como ser diferente. Falo do meu pai, que faleceu quando eu ainda era criança, sobre o Fernando Collor e meu apoio a ele, sobre meu casamento com Edson (Celulari) de uma maneira que não tinha abordado até então. São muitos assuntos (risos). Falo sobre tudo, não escondo nada”, assegura ela, que aborda também uma tentativa de romance por parte de Fausto Silva.

A mãe da atriz, Odette, a irmã, Olenka, Claudia e a avó Ernestina (Foto: Arquivo Pessoal)

A mãe da atriz, Odette, a irmã, Olenka, Claudia e a avó Ernestina (Foto: Arquivo Pessoal)

Para elaborar o texto, ela reviu e refletiu sobre seu percurso e concluiu que se pudesse não faria nada diferente. “Se estou onde estou é por causa de todos os passos que eu dei para chegar até aqui. Aprendi com tudo que faz parte da minha trajetória”, aponta. Quem é Claudia Raia, hoje? “Uma capricorniana que não desiste, que não tem medo de trabalho nem de correr atrás dos seus sonhos. Uma pessoa inquieta, cheia de ideias e com muitas coisas para realizar ainda”, aponta.

Claudia continua sendo uma referência para as mulheres que ficam boquiabertas sobre como ela consegue manter o físico em forma através do tempo. Comentários do gênero acontecem até quando ela posta em seu Instagram, por exemplo, uma foto mais ousada. “Percebo muitas pessoas falando sobre isso. Mas não tem uma fórmula mágica. Eu sempre cuidei do meu corpo, da minha alimentação. Comecei a fazer balé muito nova. Minha mãe era professora de balé, rígida, disciplinadora, exigente, e eu estava sempre no estúdio de dança. Queria ser bailarina e não tinha atalho para isso. Então, é isso que posso dizer às mulheres: Não tem atalho, não tem caminho fácil. Cada uma deve se cuidar da maneira que entender que é a melhor para ela. Outro ponto é não se comparar. Cada pessoa é de um jeito, cada corpo é único. O importante é procurar se sentir bem”, comenta ela.

Em 23 de dezembro, Claudia vai completar 54 anos. “Até hoje, mantenho uma rotina de exercícios que envolve as aulas de balé e musculação. Durante o confinamento, não consegui fazer musculação, porque estava só em casa. Então, optei por treinos funcionais sempre com a orientação de um profissional. É importante ter um para te orientar. Manter a rotina de exercícios é algo que faz parte do meu dia a dia, é natural para mim. Meu corpo é meu instrumento de trabalho. Ele precisa estar bem”, explica.

Claudia vai interpretar a mãe de Larissa Manoela, em novela da Globo, em 2021 (Foto: Paschoal Rodriguez)

Claudia vai interpretar a mãe de Larissa Manoela, em novela da Globo, em 2021 (Foto: Paschoal Rodriguez)

Nessa relação direta com o público, também no Instagram, durante a quarentena festejou os nove anos de união com o ator Jarbas Homem de Mello. “Uma casa se sustenta por várias vigas, assim é também uma relação. No nosso caso, são companheirismo, parceria, afinidade, muito amor e humor. O confinamento só confirmou que queremos compartilhar absolutamente tudo das nossas vidas e estar sempre juntos”, garante.

Dessa forma, enfrentaram a doença. Ambos tiveram o Covid-19. “O confinamento tem altos e baixos. Sempre fui muito ativa, fazendo mil coisas ao mesmo tempo. De repente, parei com tudo. Foi meio aflitivo, angustiante. Mas também me forçou a rever isso, de estar sempre correndo, ocupada. Então, estou aprendendo a priorizar ainda mais. Quando você vê o resultado positivo dá um susto. Segui as recomendações médicas, mas os sintomas se manifestaram de maneira leve”, lembra. E mesmo já tendo passado por isso, continuam seguindo todos os protocolos. “Não sabemos como é essa doença, tudo ainda está sendo pesquisado. Precisamos nos cuidar até para proteger os outros. Temos que pensar no coletivo”, alerta.

Qual o segredo para manter um equilíbrio físico e mental nesse período de pandemia? “O importante é reconhecer que a gente não controla absolutamente nada. Temos que aprender a dançar conforme a música que está tocando e, diante disso, buscar o que nos faz bem nesse momento. Eu li, vi séries e filmes, estou revendo A Favorita, Sassaricando, escrevi o meu livro de memórias…”, enumera.

E discorda com relação a propagada expressão “novo normal” tão falada neste ano de 2020. “Não sou muito fã. Que novo normal é esse? Estamos longe de qualquer normalidade. E acho que, mesmo com a vacina, não vamos e nem devemos voltar a ser como éramos antes. Temos que olhar para frente, estamos nessa vida para evoluir. Precisamos de mais solidariedade, empatia para seguir em frente, renovar as coisas”, aponta.

E crê que a pandemia realmente mudou as relações entre as pessoas. “Este é um momento de repensar tudo, ressignificar. Estamos vivendo muito virtualmente, encontros, festas de aniversário, entrevistas… Faz falta o abraço, o olho no olho. Além disso, fica ainda mais claro que não somos uma ilha, não vivemos isolados. Precisamos uns dos outros. E para isso funcionar, temos que estar mais atentos ao próximo, ser mais solidários, sair da nossa bolha e ajudar como pudermos para diminuirmos essa desigualdade enorme que existe. Não vejo um outro caminho possível”, pontua.

Apesar da quarentena, Claudia teve Covid-19 (Foto: Gui Paganini)

Apesar da quarentena, Claudia teve Covid-19 (Foto: Gui Paganini)

Nesse período de reclusão forçada, transformou em hábitos coisas que ela já gostava, como a ioga, por exemplo. “Comecei a fazer mais intensamente durante o confinamento. Não vivo mais sem isso. Pesquisei mais sobre medicina ayurveda e incorporei muito dela no meu dia a dia. A gente se cuida também de dentro para fora. É importante buscar esse equilíbrio entre corpo, mente e espírito”, ensina.

No mundo virtual, ela também não deixa de falar da questão materna. “Minha relação com meus filhos Enzo e Sophia é a melhor possível. Somos próximos, amigos mesmo. Mas além de amiga, sou mãe. Então, dou puxão de orelha quando é necessário, falo as verdades que acho importantes serem ditas. Mas tudo com muito amor. Eu só quero o bem dos dois. Não sou de meter na vida deles, de ditar regras. Eles precisam ter a liberdade para escolherem seus próprios caminhos. Eu fico torcendo e querendo ajudar como posso. Temos uma relação franca, aberta, de muito diálogo”, relata.

Em termos profissionais, por conta da pandemia, ela e Jarbas terminaram mais cedo a temporada da peça Conserto Para Dois, em Portugal, e, ao retornarem ao Brasil, em março, cancelaram a turnê que fariam pelo Nordeste e depois no Rio e em São Paulo. “Chegamos no Brasil e fomos direto para o confinamento”, lembra.

Projetos não faltam para 2021, como a novela das seis da Globo, Além da Ilusão. “Estava prevista para este ano, mas como tudo, foi adiada. Vou ser mãe da personagem da Larissa Manoela, que já vou adotar também (risos). Que menina talentosa! E estou aguardando para ver quando conseguiremos retornar aos palcos com Conserto para Dois. Queremos muito reencontrar o público”, finaliza.