A seriedade de uma cerimônia de premiação até tentou reinar ontem no Jockey Club do Rio de Janeiro. Mas, por lá, o que se destacou mesmo foi a piada. Afinal, a noite foi para acender holofotes sobre uma categoria importante das artes brasileiras. No Rio, a 2ª edição do Prêmio do Humor reuniu nomes de diversas gerações em uma celebração à comédia brasileira. No evento, idealizado e patrocinado por Fábio Porchat, Agildo Ribeiro foi o grande homenageado deste ano e não poupou elogios à iniciativa do companheiro de profissão. “Eu torço para que todo ano a gente tenha humoristas sendo premiados em cada vez mais oportunidades. Nós temos ótimos redatores, atores e profissionais que precisam ser reconhecidos. E eu sou muito grato ao Porchat por ter lembrado de mim nesse momento”, disse o ator que está com 85 anos.
Em sua segunda edição, o Prêmio do Humor destacou profissionais e produções em cinco categorias. Dos vencedores, dois trabalhos conquistaram dois troféus cada. Este ano, a cerimônia premiou Jefferson Schroeder pelo Melhor Texto e Melhor Performance no monólogo “A Produtora e a Gaivota” e a peça “[Nome do Espetáculo]”, que ganhou em Melhor Espetáculo e Categoria Especial. O troféu de Melhor Direção foi para Chico Pelúcio por “Pagliacci”. “O Prêmio do Humor foi pensado para destacar a comédia porque nós nunca somos lembrados. Só dá drama. Comediante nunca ganhou nada, nem Chico Anysio e Renato Aragão. No máximo, pelo conjunto da obra. Então, esta foi a hora de dizer que aqui não concorre drama, aí a gente tem que ganhar. É um pensamento muito curioso de premiação”, disse Fábio Porchat.
Com esta iniciativa, aliás, o humorista preenche uma lacuna bastante comentada por gerações anteriores. Entre os presentes na cerimônia ontem à noute, havia um ar de alívio por Fábio Porchat ter tirado um projeto de tantos anos do papel e seguido em frente com esta ideia de exaltar a comédia brasileira. “Era uma ideia antiga e eu sou um cara que gosto de tirar projetos do papel. Eu gosto de trabalhar e inventar coisas. Esse prêmio eu sentia que era uma bola quicando que ninguém chutava para o gol. E foi aí que eu entrei em campo”, contou Fábio que completou: “Quando nós juntamos todos esses comediantes de diferentes gerações destacando a classe, a gente reforça uma categoria que é a que dá mais público e mais dinheiro. Porém, menos prestígio. Essa é uma oportunidade de nos exaltar”.E assim, ao seu lado, Fábio Porchat reuniu colegas, novos nomes da comédia e admiradores. Em comum, todos eles comemoraram a força e o incentivo que o Prêmio do Humor traz para a categoria. “Essa premiação apenas oficializa o que já é muito importante na vida dos brasileiros. O humor não precisa de um evento para ser querido. Para mim, ele apenas legitima o quanto é difícil fazer rir e homenageia artistas que nos divertem há décadas. Então, o Prêmio do Humor dá uma chancela sobre isso tudo”, comentou Marcos Veras.
Já que o destaque da noite era para aqueles que nem sempre são lembrados, como disse Fábio Porchat e alguns colegas de profissão, os representantes da categoria não minimizaram discursos em prol da comédia. Entre os nomes da nova geração, Ney Latorraca comentou a importância e a dificuldade do fazer humor para a arte e a sociedade brasileira. “O humor sempre foi considerado uma arte menor. Mas eu acho o contrário. Entre o drama e a comédia, a segunda é a mais nobre e mais difícil de fazer. Aqui no Brasil nós temos essa mania de achar que o humor vem em segundo plano. E não é. Só os grandes atores conseguem fazer”, defendeu.
Por falar em ícones de nossa comédia, Lúcio Mauro Filho foi um dos presentes que apontou para a necessidade de homenagearmos esses artistas a todo tempo. No ano passado, ele participou do Prêmio do Humor de forma diferente e muito especial. Na primeira edição do evento, Fábio Porchat homenageou Lúcio Mauro, que, inclusive, hoje completa 91 anos de idade. Para o filho, é fundamental que façamos isso enquanto eles ainda estão vivos. “A gente deve isso a esses pioneiros e gênios do humor. Alguns grandes comediantes partiram sem ter a oportunidade de ver um prêmio como esse e nem receber uma homenagem pelo que fizeram. Agora, precisamos aproveitar os que ainda estão aqui. São figuras fantásticas que já passaram dos 80 anos e continuam fazendo graça. Isso mostra que a comédia é algo muito democrático e que nos permite trabalhar até o último dia de nossas vidas”, disse Lúcio Mauro Filho.
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