A partir de restos de MDF e materiais do cotidiano, Vinícius Pinto Rosa cria dispositivos de arte. “Eu vou agregando valor a esse resto de marcenaria”


Apesar de ainda não conseguir viver da sua arte, Vinícius acredita que o mercado esteja se abrindo devido a quantidade de novos artistas brasileiros “É difícil você usar essas peças de arte, mas é fácil criar porque nós temos todas essas referências e o Brasil tem essa potência de produção. Mas, eu vejo que essa absorção está vindo aos poucos”

Filho de peixe, do mar será. Entre os expositores do Mercado Mundo Mix, que voltou ao Rio de Janeiro no mês passado, com curadoria de Evangelina Seiler, encontramos Vinícius Pinto Rosa e sua arte em MDF. Em entrevista ao HT, o artista disse que começou a produção das peças com os restos do material de trabalho usado pelo pai marceneiro. “É uma vivência que tenho desde criança, sempre tive esse acesso. Eu comecei a juntar as sobras de madeira que meu pai jogava fora com matérias do cotidiano que eu ia roubando do mundo, como a mangueira, por exemplo. Eu vou agregando valor a esse resto de marcenaria. E aí eu fui experimentando isso desde novo até conseguir chegar nessa identidade que eu acho que está se formando agora”, contou Vinícius que possui a marca há quatro anos, mas só há dois segue a mesma identidade visual.

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Colares, brincos, pochetes… Tudo pode virar arte nas mãos do artista. Como nos contou, o processo de criação dos dispositivos – essa é a forma que Vinícius chama as suas artes em analogia aos dispositivos móveis, que funcionam como uma extensão do corpo da pessoa. “Ao mesmo tempo que é do corpo, não é do corpo” – é totalmente intuitiva. “Sempre é um teste, e desse experimento eu tenho uma resposta, que é o material em si. Eu testo e isso me diz alguma coisa visualmente ou da funcionalidade da peça. Se funcionou e está bonito, é isso. Eu vou sempre na tentativa de chegar nesse resultado final, mas quem determina esse fim é o próprio objeto”, explicou.

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Vinícius, que hoje estuda artes na UFF (Universidade Federal Fluminense) em um curso que pratica mais a vertente contemporânea, disse que seus dispositivos dialogam mais com a arte do que com a moda. “Eu acho que os meus acessórios vão muito mais para o lado da criação artística do que para as tendências da moda, por exemplo”, completou ele que vende mais para o “público da noite”, composto por drag queens e clubbers.

Apesar da singularidade de cada peça apresentada e da dedicação do artista, Vinícius contou que ainda não consegue viver do seu trabalho. Porém, segundo ele, é um processo que está caminhando. “Eu estou conseguindo agora esses espaços e uma visibilidade maior. O Beto Lago – idealizador do Mercado – me convidou para o Mundo Mix e eu fiquei super feliz em participar. É, de fato, um espaço que é bem predisposto a um público mais aberto a essas novidades, que vêm para procurar novos artistas, designers e estilistas para buscar diferentes processos e identidades”, argumentou.

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E, embora, para ele, o mercado brasileiro não esteja acostumado a consumir o novo e o não-convencional, os artistas do nosso país têm uma criatividade muito grande. “Eu acho que o Brasil tem a potência dessa produção louca, diferente e antropofágica, que é a identidade do país. Eu vejo como uma ideia de pegar alguma coisa lá de fora em transformar em algo muito novo, e, para mim, isso nós temos muito. Mas é difícil esse mercado. Eu acho que o preconceito visual, por exemplo, é um fator. Uma pessoa diferente na rua é logo taxada de homossexual ou estranha. É difícil você usar essas peças de arte, mas é fácil criar porque nós temos todas essas referências e o Brasil tem essa potência de produção. Mas, eu vejo que essa absorção está vindo aos poucos”, declarou o artista Vinícius Pinto Rosa.