*Por João Ker
Um livro com textos e relatos sobre a incrível trajetória de Celeida Tostes (1929-1995) será lançado nesta terça-feira (2/8) na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Com o nome da própria artista e organizado em parceria entre o crítico e curador de arte Marcus de Lontra Costa e a jornalista Raquel Silva, o calhamaço ainda tem com consultoria de Luiz Aquila, revelando obras como a ousada e inovadora “Passagem”, uma performance onde a artista se cobriu de argila e saiu de um “casulo” feito com o material, aparecem com textos de outros artistas e amigos.
Celeida também teve uma trajetória como professora na própria EAV do Parque Lage, na Escola de Belas Artes da UFRJ e até no Morro do Chapéu Mangueira, onde fazia um trabalho social bem antes de existirem UPP’s. Falecida em 1995, sua carreira aparece revista no livro, por exemplo, através do texto “Celeida Tostes: dama e operária à espreita da mutação”, onde os ex-alunos e atuais artistas, Jorge Emmanuel e Ricardo Ventura, batem um papo sobre as memórias que têm da professora. Em “Da Lama ao Caos, Do Caos à Lama” e “Celeida Tostes, a essência alquímica”, os críticos Daniele Name e Marcus Lontra comentam sobre a importância de Celeida para a arte contemporânea e como ela foi uma das grandes influenciadoras dessa nova geração, assim como outros textos e imagens que evidenciam e repetem a ideia de que esta foi uma das artistas plásticas e escultoras mais importantes do país.
Quem foi aluno dela na EBA, por exemplo, se lembra das aulas que ministrava na virada dos anos 1980/1990 sobre “a grande panela primordial”, expressão que ela se referia aos buracos feitos no barro, durante a pré-história, no quais os povos ancestrais cozinhavam os elementos. Figuras de linguagem como essa em suas aulas colaboraram para imprimir uma aura ao mesmo tempo folclórica e fascinante na ceramista, escultora e professora que causava em seus alunos – assim como no público que assistia a suas obras – um misto de surpresa e exaltação. Sim, a artista faz parte da estirpe de criadores que são capazes de transformar sua arte em algo maior através da encenação, seja através de performances conceituais inseridas no contexto, seja pela magnífica forma com que envolvia sua legião de seguidores nas aulas quew ministrava.
Sobre a inovação que a artista trouxe tanto à técnica quanto aos materiais, o curador Marcus Lontra de Costa afirma: “A opção pela matéria não surge pela sua plasticidade e sim por sua característica essencial e tecnologia primeva. A matéria que nomeia o lugar onde vivemos recebe os impulsos do homem que recria a natureza: ele molha, amassa, molda, sopra, respira, queima. E assim cria e recria um outro corpo, quem sabe o mesmo corpo transformado, que se repete, que cai, que quebra, que se derrete, que se constrói”. Foi nesse tipo de corpo que Celeida se autotransfigurou em “Passagem”, onde se uniu ao barro para dele emergir.
Fotos: Divulgação
SERVIÇO:
Livro: “Celeida Tostes”
Autores: Marcus de Lontra Costa e Raquel Silva (orgs) | Luiz Aquila (consultoria)
Lançamento: 2 de setembro de 2014
Horário: 19h às 22h
Mesa redonda com a participação dos autores (Marcus, Raquel e Aquila) e o artista Floriano Romano
Noite de autógrafos
Local: Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Rua Jardim Botânico 414 – Jardim Botânico
Rio de Janeiro
Tel: (21) 3257-1800
Realização: Memória Visual Produção Editorial
Edição: Editora Aeroplano
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