O site HT foi dar um giro insider pela Bienal de Veneza. Nossa guia? A superdesigner Constança Basto. Vem com a gente!


A designer cult e chiquérrima Constança Basto esteve na abertura da maior mostra de arte do mundo e contou pra gente o que viu por lá. “Destaque para o pavilhão brasileiro”

* Por Constança Basto

A 56ª Bienal de Arte de Veneza intitulada “All The World’s Futures” inaugurou no dia 9 de Maio e pode ser visitada até o dia 22 de Novembro de 2015, curada por Okwui Enzwezor , com mais de 136 artistas vindos de 53 países diferentes.

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Focando no relacionamento entre arte e o desenvolvimento do mundo no âmbito social, político e humano, o objetivo dessa Bienal é investigar como as grandes tensões do mundo em que vivemos atuam e afetam a sensibilidade, a energia vital e expressiva dos artistas e seu desejo de criar.

A idéia do curador não era elaborar previsões de possíveis futuros, seu desejo era juntar arte e artistas do mundo todo para instaurar uma exposição global onde nós espectadores tivéssemos a liberdade de questionar e escutar o que os artistas tem a nos dizer acerca do mundo em que vivemos.

Constança entre as obras de Georg Baselitz

Constança entre as obras de Georg Baselitz

Essa Bienal fala predominantemente sobre violência e conflito, é provocante e trata claramente da realidade em que vivemos. As obras de arte apresentadas mostram lutas políticas e econômicas, guerras e os prejuízos psíquicos, econômicos e físicos ​​gerados pelo capitalismo global.

É uma exposição forte, profunda e até angustiante em certo ponto, mas também cheia de momentos de contemplação e imensa beleza. Foi minha segunda visita à Bienal de Veneza, mas a primeira vez em que pude estar na cidade durante sua inauguração, o que muda tudo, pois são inúmeros eventos e inaugurações incríveis, várias festas animadíssimas e cinematográficas, além do badalo no Bauer, parada obrigatória, todas as noites e das festas no Palazzina Grassi.

Comecei a visita pelo Pavilhão Central dos Giardini onde está a mostra universal curada por Enzwezor. Logo na entrada somos recebidos pelas bandeiras negras de Oscar Murillo e pelas palavras “Blues, Blood, Bruise” (tristeza, sangue e ferida) de Glenn Ligon em letreiro luminoso dando o tom, seguidas pelas palavras “The End” e “Fine”, na sala seguinte, realizados pelo falecido artista italiano Fabio Mauri (1926-2009). Ali no início da jornada já se percebe que o clima é sombrio… Já se anuncia o Fim e nem bem começamos…

Entre as muitas obras-primas neste pavilhão, se destacam os trabalhos de Robert Smithson “Dead Tree”, de 1969, os famosos trabalhos de Hans Haacke incluindo o “Moma Poll”, de 1970, a sala dedicada às caveiras de Marlene Dumas, batizada “Skull series”, produzida entre 2013-2015, também adorei as pinturas de Kerry James Marshall e, claro, o trabalho vencedor do Leão de Ouro de Adrien Piper, “Everything will be taken away”, 2003.

No Arsenale, onde continua a exposição central da Bienal o clima segue escuro… Por lá, vi trabalhos excepcionais como o do artista Kutlug Ataman, “The Portrait of Sakip Sabanci”, 2014, que é de tirar o fôlego, feito com 9216 painéis de LCD que juntos pareciam um tapete voador, exibindo milhares de faces sem parar, muito impactante.

Lucio Salvatore e Sonia Gomes

Lucio Salvatore e Sonia Gomes

Nossa Sonia Gomes que está presente com um trabalho lindo que foi florescendo durante a montagem da obra, tomando forma, ganhando vida, se encaixando nas fendas das colunas, como se tivesse nascido para aquele espaço e preciso dizer que foi emocionante encontrar a artista ao lado de sua obra no momento da visita.

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Outros trabalhos imperdíveis que vale a pena citar aqui: Joana Hadjithomas & Khalil Joreige, “Latent Images, Diary of a Photographer”, a instalação de Katharina Grosse, “Untitled Trumpe”,  impactante e cheia de emoção, os trabalhos do artista Eduardo Basualdo, que ocupam uma sala com destaque para o Grito na foto entre vários outros…

O nosso Pavilhão foi um sucesso absoluto, foi muito procurado e respeitado pela crítica e imprensa internacionais, além de um enorme sucesso de público e crítica! “É Tanta Coisa que não cabe aqui”, curada por Luiz Camillo Osorio teve como ponto de partida as manifestações de 2013 que se espalharam pelo nosso país e o nome escolhido para a exposição vem de um dos mais emblemáticos cartazes vistos durante as passeatas.

Antonio Manuel, Berna Reale e André Komatsu apresentaram trabalhos bárbaros que dialogam fortemente entre si. É muito interessante observar como de maneira muito única e particular, cada um dos artistas trata do aprisionamento, da falta de liberdade, como se dissessem que para ser livre é preciso estar preso em estruturas, regras e normas, eles falam de uma liberdade ilusória, de espaços limitantes. Os trabalhos dos três artistas reforçam ainda mais o tema central da mostra da Bienal.

Sem dúvida saímos do circuito dos pavilhões com a cabeça e o espírito mexidos, seja por emoção, seja por tristeza ou por revolta, mas sem dúvida mexidos, e refletindo sobre o mundo que vivemos e os possíveis futuros que nos esperam.

Para saber e ver mais sobre a Bienal de Veneza é só entrar no blog: www.constancabasto.art.br