A 56ª Bienal de Arte de Veneza intitulada “All The World’s Futures” inaugurou no dia 9 de Maio e pode ser visitada até o dia 22 de Novembro de 2015, curada por Okwui Enzwezor , com mais de 136 artistas vindos de 53 países diferentes.
Focando no relacionamento entre arte e o desenvolvimento do mundo no âmbito social, político e humano, o objetivo dessa Bienal é investigar como as grandes tensões do mundo em que vivemos atuam e afetam a sensibilidade, a energia vital e expressiva dos artistas e seu desejo de criar.
A idéia do curador não era elaborar previsões de possíveis futuros, seu desejo era juntar arte e artistas do mundo todo para instaurar uma exposição global onde nós espectadores tivéssemos a liberdade de questionar e escutar o que os artistas tem a nos dizer acerca do mundo em que vivemos.
Essa Bienal fala predominantemente sobre violência e conflito, é provocante e trata claramente da realidade em que vivemos. As obras de arte apresentadas mostram lutas políticas e econômicas, guerras e os prejuízos psíquicos, econômicos e físicos gerados pelo capitalismo global.
É uma exposição forte, profunda e até angustiante em certo ponto, mas também cheia de momentos de contemplação e imensa beleza. Foi minha segunda visita à Bienal de Veneza, mas a primeira vez em que pude estar na cidade durante sua inauguração, o que muda tudo, pois são inúmeros eventos e inaugurações incríveis, várias festas animadíssimas e cinematográficas, além do badalo no Bauer, parada obrigatória, todas as noites e das festas no Palazzina Grassi.
Comecei a visita pelo Pavilhão Central dos Giardini onde está a mostra universal curada por Enzwezor. Logo na entrada somos recebidos pelas bandeiras negras de Oscar Murillo e pelas palavras “Blues, Blood, Bruise” (tristeza, sangue e ferida) de Glenn Ligon em letreiro luminoso dando o tom, seguidas pelas palavras “The End” e “Fine”, na sala seguinte, realizados pelo falecido artista italiano Fabio Mauri (1926-2009). Ali no início da jornada já se percebe que o clima é sombrio… Já se anuncia o Fim e nem bem começamos…
Entre as muitas obras-primas neste pavilhão, se destacam os trabalhos de Robert Smithson “Dead Tree”, de 1969, os famosos trabalhos de Hans Haacke incluindo o “Moma Poll”, de 1970, a sala dedicada às caveiras de Marlene Dumas, batizada “Skull series”, produzida entre 2013-2015, também adorei as pinturas de Kerry James Marshall e, claro, o trabalho vencedor do Leão de Ouro de Adrien Piper, “Everything will be taken away”, 2003.
No Arsenale, onde continua a exposição central da Bienal o clima segue escuro… Por lá, vi trabalhos excepcionais como o do artista Kutlug Ataman, “The Portrait of Sakip Sabanci”, 2014, que é de tirar o fôlego, feito com 9216 painéis de LCD que juntos pareciam um tapete voador, exibindo milhares de faces sem parar, muito impactante.
Nossa Sonia Gomes que está presente com um trabalho lindo que foi florescendo durante a montagem da obra, tomando forma, ganhando vida, se encaixando nas fendas das colunas, como se tivesse nascido para aquele espaço e preciso dizer que foi emocionante encontrar a artista ao lado de sua obra no momento da visita.
Outros trabalhos imperdíveis que vale a pena citar aqui: Joana Hadjithomas & Khalil Joreige, “Latent Images, Diary of a Photographer”, a instalação de Katharina Grosse, “Untitled Trumpe”, impactante e cheia de emoção, os trabalhos do artista Eduardo Basualdo, que ocupam uma sala com destaque para o Grito na foto entre vários outros…
O nosso Pavilhão foi um sucesso absoluto, foi muito procurado e respeitado pela crítica e imprensa internacionais, além de um enorme sucesso de público e crítica! “É Tanta Coisa que não cabe aqui”, curada por Luiz Camillo Osorio teve como ponto de partida as manifestações de 2013 que se espalharam pelo nosso país e o nome escolhido para a exposição vem de um dos mais emblemáticos cartazes vistos durante as passeatas.
Antonio Manuel, Berna Reale e André Komatsu apresentaram trabalhos bárbaros que dialogam fortemente entre si. É muito interessante observar como de maneira muito única e particular, cada um dos artistas trata do aprisionamento, da falta de liberdade, como se dissessem que para ser livre é preciso estar preso em estruturas, regras e normas, eles falam de uma liberdade ilusória, de espaços limitantes. Os trabalhos dos três artistas reforçam ainda mais o tema central da mostra da Bienal.
Sem dúvida saímos do circuito dos pavilhões com a cabeça e o espírito mexidos, seja por emoção, seja por tristeza ou por revolta, mas sem dúvida mexidos, e refletindo sobre o mundo que vivemos e os possíveis futuros que nos esperam.
Para saber e ver mais sobre a Bienal de Veneza é só entrar no blog: www.constancabasto.art.br
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