O que é ser mulher de 50 anos? Pesquisa revela frustrações e desejos da geração que viu a ascensão do feminismo


O ensaio “Festina Lente – Apressa-te lentamente”, autoria de Ana Cristina Leonardos e Martha Scodro, aborda sentimentos, dúvidas e desejos de mulheres. Um subsídio para a geração que vem sentindo cada vez mais os impactos das transformações sociais. Publicado pela Editora Autografia, o livro terá noite de autógrafos no dia 12, na Livraria Travessa, no Shopping Leblon

*Por Fernanda Quevêdo

O que querem as mulheres de 50 anos? Elas são financeiramente empoderadas? Feminismo para quem? Nesta fase, existe um paradoxo entre a longevidade e a finitude? O que elas ainda precisam e querem conquistar? Estas são algumas reflexões do livro “Festina Lente – Apressa-te lentamente”, escrito em dobradinha pela socióloga Ana Cristina Leonardos e pela psicóloga Martha Scodro. Inspiradas por situações pessoais e respaldadas por 66 mulheres, elas aprofundaram-se em uma pesquisa que durou seis anos e reuniu centenas de depoimentos. Em comum, as entrevistadas responderam à indagação: Qual a pergunta mais importante que você se fez no último ano?Em entrevista ao Site HT, as autoras fizeram questão de ressaltar que o material não pretende traçar um panorama de todas as mulheres desta faixa etária, mas ser um subsídio para a geração que vem sentindo cada vez mais os impactos das transformações sociais. Publicado pela Editora Autografia, o livro terá noite de autógrafos no dia 12, na Livraria Travessa, no Shopping Leblon.

Ana Cristina Leonardos e Martha Scodro (Foto: Camila Maia)

“Os ‘manuais’ que herdamos das gerações anteriores não nos servem mais. Dizem que, aos 50 anos, a aposentadoria está próxima, o ninho vazio e o sexo sem graça. O tom é de condescendência e a mensagem é de arremate, ou finalização”. A frase é de uma das 66 mulheres entrevistadas e, segundo a escritora Ana Cristina, expressa toda a “complexa conjuntura das mulheres. É o reflexo das mudanças ocorridas do mundo na última década. O controle da natalidade, a revolução demográfica, o aumento da qualidade e a expectativa de vida em 25 anos alteraram muitos paradigmas dessas pessoas”. Embora seja esta uma geração que conta com um número grande de pesquisas que evidenciam o bem estar e o envelhecimento saudável, muitas mulheres não se identificam por completo nestes estudos. O feminismo por exemplo, segundo Ana Cristina, foi abordado de uma forma mais sutil e, na realidade, as mulheres desejam ser mais cúmplices entre si, dividor seus medos e desejos e estão voltando o olhar para “um eu profundo”.

Ana Cristina Leonardos é pesquisadora, PhD em Ciências Sociais aplicadas à educação (Stanford University) escritora, poeta e autora de ‘Porto Breve’, ‘Longe: memórias de um Líbano recente’ e ‘Tempo Outro’ (Foto: Camila Maia)

“Foram conversas inusitadas, surpreendentes e muitas delas tinha a ver comigo também. É uma geração que sente vontade de falar, e sabe que tem o poder de ser o que quiser. Hoje, pela minha própria experiência, sinto que essas mulheres desejam falar do seu lado pessoal”, enfatizou Martha Scodro. O grupo de 66 mulheres foi integrado por empresárias, empreendedoras, funcionárias públicas, professoras universitárias, entre outras. “Durante a pesquisa, vimos que elas não querem mais chegar a um só lugar, mas ocupar vários espaços. Não se trata de fazer mais e mais atividades, mas de potencializar o que já estão fazendo”, ressaltou a autora. Nesse aspecto, Ana Cristina também concorda: “A ideia do final da vida passou a ficar mais distante e diferente da geração anterior que “já sabia’ o que iria acontecer. As mulheres de hoje querem prospectar o futuro, concluir tarefas que por algum motivo deixaram para trás, e não necessariamente fazer isso obedecendo ao tempo cronológico, mas ao tempo emocional”. 

O livro foi organizado em cinco grandes temas a partir das questões colocadas pelas entrevistadas e propõe as “hashtags aos 50”: Conexão Interna, Balanço de Vida, Em Movimento, Busca Espiritual e Projeções. O  título, a expressão latina Festina Lente, exprime conceitos opostos – apressar-se, mas devagar. Sugere que a mulher deve apressar o passo para se conhecer melhor; e então, com tranquilidade, redefinir e priorizar suas ações, caminhos, novas carreiras e atividades, e o que mais desejar projetar para si e realizar. O livro é super democrático e homens, jovens, filhos e netos terão uma prazerosa leitura. 

Martha Scodro é psicóloga, terapeuta de família, escritora e fotógrafa. É conselheira do Athena Center for Leadership da Barnard University em NY, dedicado ao estudo, desenvolvimento e apoio a jovens mulheres (Foto: Camila Maia)