Já temos um novo presidente eleito: Jair Messias Bolsonaro. Nesse domingo, quando o mundo recebeu o resultado, essa arte aí de cima começou a circular com muita força nas redes sociais que dizia, simbolicamente, “Ninguém solta a mão de ninguém”. A ilustração, que não era assinada, virou um fenômeno e funcionou como alívio para quem estava com medo do que poderia vir a partir da eleição do candidato do PSL. O site HT foi atrás do nome por trás da imagem, para bater um papo e entender melhor de que forma isso aconteceu.
Thereza Nardelli, a autora da ilustração tão simbólica, falou com a gente na noite dessa segunda-feira, depois de um dia intenso de entrevistas, respostas de mensagens e até uma certa incredulidade com tudo o que estava acontecendo. “Eu fiquei bem chocada com a repercussão. Eu, até domingo, tinha um perfil no Instagram com 9 mil seguidores, que já é bastante, mas nada demais, no qual eu mostro meu trabalho. Depois que publiquei a imagem, começaram a chegar os prints de amigos, as marcações e a viralizar também entre os famosos, como Bruno Gagliasso e Bruna Marquezine. Aí pensei: ‘agora a coisa ficou séria’. A partir daí, o número de seguidores começou a subir loucamente e, desde então, fiquei por conta de responder as demandas dessa repercussão. Desmarquei todos os meus compromissos”, contou a jovem mineira, de Belo Horizonte, de 30 anos.
Como compromissos profissionais, leia-se as tatuagens que ela tinha de fazer, já que ela, além de ilustradora, é tatuadora e ganha a vida com seu traço. “Sou de Belo Horizonte, tenho 30 anos, sou formada em ciências sociais, estudei belas artes e tenho mestrado em comunicação social. Comecei a trabalhar com as agulhas logo depois do mestrado”, explicou Thereza, que teve a ideia do desenho depois de ouvir a frase da boca de sua mãe. “Ela me disse isso em um contexto pessoal, mas também politico, e achei que era perfeito para a ocasião”, completou.
De 9 mil seguidores, Thereza viu seu perfil @zangadas_tatu no Instagram pular para 28 mil seguidores em dois dias. Sem contar as centenas de mensagens que ela recebeu em todas as outras redes sociais. “Essa onda me afetou positivamente. Foi bonito receber as mensagens de pessoas que se sentiram acolhidas, gente que estava com medo, se sentindo sozinha, desesperada, que encontrou na imagem qualquer tipo de conforto ou um chamado para a resistência, para a união”, enfatizou.
Muita gente, claro, compartilhou a imagem sem os devidos créditos. Mas não por maldade, longe disso, mas por não saber, mesmo, de quem era a autoria, já que Thereza não costuma assinar as suas postagens. “Geralmente, não assino nada, já que na internet a dinâmica é diferente. É print e repostar. Não me importo com a falta de crédito, para algumas pessoas mandei mensagem contando que era eu a autora, algumas responderam, creditaram, está tudo certo. A imagem fala por si só, não quero impedir de circular. Com crédito ou sem”, anunciou.
Política, claro, é um assunto que faz parte do imaginário de Thereza, já que, como contamos no começo do texto, a sua graduação foi em ciências sociais. Por isso, muito da sua arte tem uma pegada nesse sentido, falando sobre o feminismo e outros temas que giram em torno deste universo. Além da sua formação, isso vem, também, das dificuldades de ser uma mulher em um sociedade machista. O munda da tatuagem, onde ela se insere como profissional, é um bom exemplo disso. “É um ambiente supermachista, apesar de que isso está mudando bastante. Tem muita mulher trabalhando e muita cliente interessada em ser tatuada por outras mulheres. Eu tenho muita sorte, pois nunca estive em nenhuma situação de assédio ou na qual me sentisse constrangida, mas tenho várias colegas que ja reclamaram de assédio, tanto por parte de clientes como de outros tatuadores. É uma situação frequente, por isso tem surgido iniciativas de estúdios de tatuagem femininos para mulheres, com o objetivo de nos fortalecermos. A tatuagem, assim como vários outros campos de atuação, é bastante machista e é uma luta constante. Mas eu e minhas colegas seguimos resistindo e desenrolando pra conseguir trabalhar melhor”, ressaltou.
E, para encerrar, não poderíamos deixar de perguntar as impressões dela sobre o nosso atual presidente eleito, já que sua arte começou a ser usada como uma reação à eleição do último domingo. “Ele nao foi meu candidato. E o que a gente pode esperar daqui para frente é fazer resistência ao que vem por aí. O segundo turno foi um momento importante de aprendizado para as pessoas que acreditam que todos devem ser tratadas com direito e dignidade, independente de gênero, classe social, orientação sexual, cor de pele e assim por diante. Estou esperançosa de que a gente vai fazer uma oposição produtiva aos discursos de ódio”, finalizou. Sigamos juntos. Ninguém solta a mão de ninguém.
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