Nelson Leirner empresta seu (bom) humor crítico à obra do sul-africano William Kentridge


Em “Uma conversa com W. K.”, o brasileiro empresta seus Mickeys e adesivos à metalinguagem interpretativa dos desenhos sombrios do artista africano

*Por João Ker

Nelson Leirner apresenta hoje (9/9) a sua nova exposição na Galeria Silvia Cintra + box 4, na Gávea, Rio de Janeiro. Mais uma vez, ele funde o seu trabalho ao de outro artista que, a princípio, parece não ter semelhança alguma com Nelson. Em “Uma conversa com W.K.”o brasileiro viaja até a África do Sul para desconstruir e reinventar a obra de William Kentridge, dialogando os dois universos e descobrindo interseções psicológicas entre  seus trabalhos.

À primeira vista, as sombras e traços obscuros dos desenhos quase expressionistas de Kentridge não parecem em nada com os adesivos coloridos e reapropriações clássicas de Nelson. Claro, estamos falando aqui de um artista que já conseguiu “parodiar” a própria paródia e transformar até obras dadaístas, como o famoso mictório de Marcel Duchamp (1887-1968), em uma versão ainda mais bem-humorada e menos formal ainda da peça original.

Mas, ao contrário do que possa parecer, há algumas semelhanças entre os dois artistas: “Kentridge é ruído e movimento. Eu sou silêncio; sou tantas cores e ele, sombras, dramaticidade. Ao estudar vida e obra do artista, descobri que há muito em comum em nossas trajetórias”, explica Nelson, fazendo referência à sua luta contra a ditadura brasileira e à do outro contra o Apartheid no seu país de origem.

Leirner, que conheceu Kentridge durante a 6º Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, confessa também que esse é um dos seus trabalhos mais emblemáticos, mesmo já tendo se aventurado pelas obras de como Leonardo da Vinci, Mondrian, Fontana e Christo: “Quase sempre deixo muito claro com quem estou dialogando ou usando de uma metalinguagem para criticar o sistema da arte. É impossível não encontrar referência histórica na obra de arte, pois não procuramos originalidade, mas sim um fio condutor que sempre aparece mesmo inconscientemente”, disse.

A mostra, que contempla apenas as obras bidimensionais de William Kentridge, fica em cartaz até 11 de outubro. Confira!

Este slideshow necessita de JavaScript.

Fotos: Divulgação

Galeria Silvia Cintra + box 4 – Rua das Acácias, 104, Gávea. De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábado, das 12h às 18h. Tel: 2521-0426 www.silviacintra.com.br