Existe um mundinho perfeito? A ilusão é tema da primeira expô de Vagner Domasc

Processos da natureza humana, sua organização e seu habitat são os pontos de partida do artista Vagner Donasc na construção das diferentes linguagens usadas em ‘LVDO’, sua primeira exposição individual, que estreia neste dia 23 de novembro na galeria Homegrown, em Ipanema, conhecido point carioca de criadores moderninhos.

O artista plástico elegeu a ilusão e a mentira da vida real, adornadas pela propaganda do mundo perfeito, como tema central de sua obra, estabelecendo um discurso ácido e chamando atenção para o seu trabalho. “Do que as pessoas se escondem? O que querem camuflar? Qual a razão de fingir ser o que não é? Em qual mentira querem acreditar: na propaganda feita pela mídia ou na história contada nos livros? No ser humano? Nas drogas? No delírio? Na fuga da realidade? Na desilusão?”, são algumas das muitas questões indagadas pelo artista, que, pelo jeito, curte filosofar com a arte. Nietzsche perde!

Não é de hoje que as artes, em geral, se propõem a indagar sobre a ilusão do mundo contemporâneo e das vidas aparentemente desperdiçadas desses iludidos, aliás, todos nós. Exemplo contundente disso é a trilogia Matrix, retumbante sucesso comercial do cinema hollywoodiano que, ao estabelecer uma metáfora entre vida real e realidade virtual, ganhou o público ao associar o mundo da ilusão ao estilo impecável das boutiques, de personagens chiques e assépticos, mas irreais, das vitrines de lojas e cenários impecáveis capazes de deixar o ambiente mais deslumbrante do Casa Cor no chinelo. Afinal, o que seduziu tanto os espectadores? A história do embate entre homens e máquinas em um universo apocalíptico determinado por inúmeras guerras ou as belas imagens, repletas de computação gráfica e photoshop que são a cara da riqueza?

O fascínio que a humanidade tem pelo belo inalcançável – retratado nos alter egos virtuais dos personagens de Matrix- não é exatamente o ingrediente que levou todo mundo às salas de cinema e deixou os produtores desses filmes milionários? Domasc obviamente se refere a este tipo de ilusão midiática, estabelecida não apenas pela estética da publicidade, mas pelos delírios estilísticos de todas as artes audiovisuais. E, assim como no enredo de Matrix,  tudo se resume à questão da escolha da pílula certa. O que você prefere? Tomar a pílula vermelha que te faz encarar a realidade nua e crua de um mundo roto, imperfeito, encardido e puído ou se entregar ao comprimido azul da ilusão e viver em um mundo de mentirinha? Falso sim, mas muito mais sedutor.