*Com Bell Magalhães
A luta de Luisa Mell pelos direitos dos animais é full time. Em meio ao lançamento do livro infantil ‘Se os Bichos Falassem: Austrália’, pela Globinho, a ativista foi até Guarulhos (SP) para uma reunião com o prefeito, Gustavo Henric Costa (PSD), para pedir que ele vete o projeto de lei do vereador Edmilson (PSOL-SP) regulamentando o uso de charretes com cavalos como animais de tração para passeios e festas típicas da região. À frente do Instituto Luisa Mell, no qual confere o resgate e reabilitação de animais em situação de vulnerabilidade, Luisa desaprova totalmente a medida: “É algo sem pé nem cabeça, uma vergonha. Fico impressionada que tive que sair da minha casa para lutar contra a sanção dessa proposta absurda, porque é óbvio o quanto ela evidencia um retrocesso nas leis de proteção animal. Foi uma conversa tranquila com o prefeito. Ele vetou, mas o projeto ainda voltará à Câmara dos Vereadores e a nossa luta continua”, frisa.
Leis como esta foram um dos motivos que fizeram Luisa pensar em criar o primeiro livro da série, que conta a história da personagem homônima que salva animais. Nele, Luisa recebe um pedido de ajuda de um coala e viaja até a Austrália para salvar os animais de um incêndio na floresta. A ideia é que a obra seja uma introdução ao conhecimento e à luta pela proteção dos ecossistemas terrestres para crianças. “Eles foram pensados para que a geração que o leia seja aquela que realmente transforme o planeta”. E como adaptar os temas para o público infantil? “É um desafio, porque é muita tragédia que estamos vivenciando. Quanto mais eu estudo sobre os temas que podemos abordar, mais chega perto de um filme de terror, mas não posso falar os assuntos de uma forma tão impactante. Cheguei em uma linguagem que eu mesclo as temáticas, procurando mostrar uma parte bonita e com esperança”, completa a ativista.
A inspiração para mergulhar no mundo da literatura infantil foi o trabalho de Rita Lee com o livro ‘Amiga Ursa — Uma História Triste, Mas Com Final Feliz’ (2019),que retrata o resgate da ursa Rowena, no qual a militante fez uma participação especial na obra: “Esse livro teve uma ótima aceitação com as crianças de vários lugares. Em algumas escolas, as pessoas me falaram que as crianças comentaram bastante sobre mim”. Contudo, não conseguiu encontrar nenhuma produção de literatura infantil sobre ecologia que ensinasse corretamente, de forma lúdica e divertida, o que se tornou mais um incentivo para produzir a série: “Tive experiências terríveis de encontrar livros que passam mensagens muito erradas, e não vi um que falasse de questões urgentes e atuais, como o aquecimento global e a destruição do planeta”.
Com ilustrações de Guilherme Francini, o livro conta ainda com Enzo e Zoe, duas crianças que compartilham o dia a dia da protagonista salvando os animais. O menino, inclusive, foi baseado no filho da autora com o empresário Gilberto Zaborowsky, também chamado Enzo, de seis anos. Luisa diz que ele foi a peça-chave para a concepção do livro, que surgiu de um hábito que nutre com o filho desde muito pequeno: “Desde os dois anos, eu leio para o meu filho todas as noites, no mínimo três histórias. É um momento importantíssimo da nossa relação e este hábito faz muita diferença no desenvolvimento do vocabulário da criança, fora o nosso vínculo que se fortaleceu desde então”.
E a opinião do filho é lei para Luisa: “O Enzo foi o meu grande parceiro nessa produção. Mostrei para ele e aprovou cada ilustração que chegava. Quando eu contei que a personagem principal se transformava, metade do bicho, metade de gente, ele ficou louco (risos). Com a reação dele pensei: ‘é isso, consegui chegar onde eu queria!’”, conta triunfante.
Segundo Luisa, são esperados mais três livros que compõem a série. Cada volume se passará em uma região do planeta, e adianta que o próximo lançamento terá a tônica nos mares: “O oceano é uma temática importante, porque ele sofre com a exploração da pesca, poluição de navios e lixo despejados pelas pessoas, fora a ameaça aos corais, que são os responsáveis pela manutenção da vida marinha e terrestre”. E acrescenta: “Todos estarão interligados para mostrarmos como os continentes estão unidos e sofrendo as mesmas consequências do aquecimento global, e que, se modificarmos hoje as nossas atitudes com a natureza, as mudanças serão sentidas pelo mundo inteiro e beneficiará a todos”.
Polêmicas e posicionamento forte
Enquanto ativista, Luisa Mell se posiciona de forma pública constantemente, denunciando crimes e gerando polêmicas dentro e fora do campo da vida animal. Foi a protagonista de duas polêmicas envolvendo animais adotados em sua fundação. A mais recente, envolve Larissa Manoela, que devolveu uma cadela vira-lata chamada Vitória Regina. A militante criticou Larissa em um post nas redes sociais e tocando no histórico de abandono da cadela: “Vitória já tinha uma história de abandono, de negligência antes da adoção. Passou anos com a Larissa e agora, terá que recomeçar. Estou com o coração em pedaços” e concluiu pedindo o amadurecimento da atriz: “Admiro sua história, sua garra e conquistas merecidas, mas espero que, em breve, você compreenda o que essa atitude representa e o exemplo que você pode ter dado aos seus fãs”.
A segunda foi quando usou novamente o Instagram, dessa vez para criticar a atriz Cláudia Ohana. Na ocasião, a atriz precisou realocar dois cachorros, Thor e Tigrão, que haviam sido acolhidos da ONG de proteção animal ‘Projeto Toca do Bicho’ por conta de problemas de saúde que estava enfrentando no momento que a impediam de cuidar dos animais. No post, Luisa começou compreensiva: “Cláudia, eu sei exatamente o que é ter uma casa destruída por um filhote. Sei que não é fácil, nem agradável. Mas não é comparável a dor de ser abandonado. ‘Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas’ ou tenha responsabilidade nas suas ações quando elas envolvem seres que têm sentimentos”.
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