Leo Dias: “Anitta já disse que não vai envelhecer no palco. Em breve, a carreira dela vai terminar”


Autor de “Furacão Anitta – biografia não autorizada”, o jornalista contou detalhes de sua apuração: “A Anitta precisou beijar a mão de Caetano Veloso e Gilberto Gil para ser mais aceita”

*Com Karina Kuperman

Vida, história, infância em Honório Gurgel – bairro do subúrbio do Rio de Janeiro -, polêmicas, romances, desavenças, religião, fofocas. Isso tudo é só uma parte do recheio de “Furacão Anitta”, biografia não-autorizada da cantora, escrita pelo jornalista Leo Dias, e que será lançada no dia 30, no Bangu Shopping, no Rio de Janeiro.  Não-autorizada, aliás, é um modo controverso de se referir à obra. “Não é proibida. A própria Anitta me deu entrevista, autorizou a mãe, irmão, amigos, todo mundo a falar comigo. Tem a ciência dela. Mas chamamos de não-autorizada, porque é um livro que ela ainda não leu”, disse Leo, que conversou com o site HT às vias do livro chegar às gondolas e à internet.

Jornalista famoso por furos de reportagem que reviram as intimidades das celebs, Leo tomou alguns cuidados especiais a pedido da cantora. “O que ela mais temia era como eu abordaria a questão da religião, principalmente”, revelou. Isso porque Anitta tem enorme respeito pelo lugar onde se conecta com a sua paz interior, ele explica. “Anitta frequenta um terreiro (de candomblé), na Baixada Fluminense, e eu dediquei um capítulo especial batizado: ‘Não é sorte, é certo’. Não queria falar só de religião, mas tudo ligado à conexão espiritual. Ela sabe bem onde encontra a paz”, contou Leo, que chegou a entrevistar o pai de santo da cantora. “Ela pediu para que eu não divulgasse o nome completo dele. Essa foi a única recomendação, na verdade”, adiantou.

Infância em Honório Gurgel: Larissa de Macedo Machado, a Anitta, com o irmão Renan Machado (Foto: Divulgação)

Histórias sobre a vida de Anitta são muitas. “Quando ela fez o clipe de ‘Menina má’, pagou tudo. Mas não tinha muito dinheiro. A Regina Lobato, que era assessora na época, me passou o contato de uma produtora de moda que ajudou muito e trabalhou para valer sem cobrar nada. E ela tinha uma boa situação, era produtora do Ego, o marido era dono de uma loja de carro. Mas o Ego acabou, as revistas foram falindo, e a produtora acabou perdendo o emprego, ficou numa situação difícil e, por alguma razão, ela e Anitta se encontraram na internet. E, quando contou tudo, Anitta disse: ‘passa na minha empresa amanhã que você vai trabalhar comigo. Nem sei em que cargo, mas você vai trabalhar lá. Preciso retribuir e é agora’. Até contei essa história no final do capítulo de religião, porque o orixá guia dela sempre mostrou que precisava saber retribuir”, contou.

Falando em orixá, a fé foi um dos motivos que fez com que, nas eleições do ano passado, Anitta acabasse sendo atacada nas redes sociais por não ter se posicionado politicamente contra ou a favor ao então candidato Jair Bolsonaro – embalado pelo movimento do #Elenão. “Abordamos essa questão no livro. Ela foi pressionada a se posicionar, mas estava deitada para o santo – o que significa recolhida no terreiro. Lá, ela fica descalça, fazendo as obrigações do local. Por conta da repercussão negativa em relação ao nome dela (no que diz respeito à suposta omissão), acabou que teve que cancelar o lançamento do álbum que estava marcado para setembro e que será lançado agora, dia 5 de abril.”

Anitta no começo de sua carreira (Foto: Divulgação)

Na visão de Leo, “Anitta é muito madura e não tem amarras porque não precisa mais fazer média”. Explica-se: “No ano passado, deu uma entrevista no aniversário dela em que disse que o objetivo no ano seguinte era não ter que convidar todos que estavam ali. Isso porque alguns integravam a lista só por lobby. Mas ela não precisa mais puxar saco de ninguém”. Isso inclui nomes como Ivete Sangalo, Preta Gil – a quem a intérprete de “Vai malandra” deixou de seguir nas redes sociais, e Pabllo Vittar.

Polêmicas, aliás, são com ela mesma. “A Anitta sabe tirar proveito da repercussão que as atitudes geram e do que falam sobre sua vida pessoal”. De fato: a vida da cantora gera pano para mangas. A relação com a ex-empresária Kamilla Fialho, que rendeu um enorme processo na Justiça, também está descrita no livro. “A Kamilla não quis falar, mas o sócio, Rafa Brahma, esclareceu muitos pontos. As acusações entre Anitta e Kamilla são mútuas. Eu coloquei, inclusive, no capítulo ‘Anitta é fruto de muito jabá’, histórias que eu soube de que a Kamilla a obrigou em ir a shows – e isso têm testemunhas. Pessoas que presenciaram a Kamilla gritando com a Anitta. Li 28 mil páginas do processo das duas – que acabou – e eu reporto isso. O grande momento do livro é o final desse processo. A Anitta pagou uma fortuna para ter de volta algumas de suas músicas de início de carreira, como ‘Show das Poderosas’, ‘Menina Má’, ‘Meiga e abusada’…. Cerca de R$ 9 milhões”, revelou.

Anitta no começo de sua carreira (Foto: Divulgação)

Além de Kamilla, outra pessoa se recusou a falar para o livro. Trata-se de Rômulo Costa, fundador da Furacão 2000 – onde Anitta, de fato, debutou no palco. Mas o filho de Rômulo, Jonathan Costa, acabou concedendo entrevista – ele, aliás já chegou a ser apontado pela imprensa como affair da cantora no passado. Affair, aliás, é um capítulo à parte. O ex-marido Thiago Magalhães também está no livro. “Eu conto detalhes do casamento, a separação… É um mal necessário. Tudo aquilo que o pai da Anitta falou no Instagram, de que o Thiago a insultava, já está no livro. Ele ia ter um capítulo, mas agora é apenas parte de um”, disse Leo.

Anitta e o ex-marido, Thiago Magalhães (Foto: Reprodução)

A editora do livro chegou a questionar a ideia do livro de Leo Dias. O motivo? A (pouca) idade da protagonista da história. “Eu contei um pouco sobre a vida dela, mas algumas pessoas perguntaram como fazer a biografia de uma menina de 25 anos? No entanto, argumentei: uma pessoa é digna de biografia por qual motivo? Não pode ter uma vida linear… há de se considerar altos e baixos, puxada de tapete, virada de jogo… rompantes. Lógico que foi uma ideia audaciosa, mas dois motivos fizeram com que eu escrevesse a história. O primeiro: geralmente, biografia é redigida no final da vida de uma pessoa e eu queria escrever uma contemporânea. Todo mundo nessa história está vivo. O segundo? Anitta já me disse que não vai envelhecer no palco. Em breve, a carreira dela vai terminar. Se fosse uma carreira planejada até os 40, 50 anos, acho que não escreveria agora. Mas acredito que, em cinco ou seis anos, a Anitta pare”, arriscou. Por que? “Até coloquei o nome desse capítulo de ‘Sabe o Pelé?’, porque é bem isso que ela diz. O Pelé foi rei, brilhou e tchau. Ela não quer que a vejam envelhecer no palco. Considera que é injusto consigo mesma e com seu público. Anitta diz que, aos 30 anos, não vai ter a mesma disposição de competir com uma menina de 20, que provavelmente surgirá”, contou. Mas quem pensa que a poderosa vai curtir a vida longe da arte, se engana. “Acho que ela vai ter outra posição e transformará esse patrimônio em outros projetos, como por exemplo, se tornar uma empresária. O ‘Clube da Anittinha’ é aposentadoria dela”.

Como um dos maiores jornalistas de celebridades do país, Leo Dias acompanhou passo a passo da carreira de Anitta (Foto: Reprodução/SBT)

Apesar de muitas passagens marcantes, quem pensa que o “Furacão Anitta” é pura fofoca, se engana. “Esse livro faz uma análise interessante. A Anitta é a primeira artista fruto da internet. Durante os anos de 2013, do ‘Show das poderosas’ e 2015, de ‘Bang’, a classe C cresceu substancialmente de poder aquisitivo com os programas de assistência social. Entre 2013 e 2014, por exemplo, 10 milhões de pessoas passaram a ter acesso à internet no Brasil. Os anos de 2013 a 2015 são os que mais se vendeu smartphones no país, a internet se proliferou… tudo isso tem Anitta. A ascensão da classe C, o aumento do uso de smartphones, a necessidade de se ter um ídolo. As pessoas viram nela a identificação real entre um produto da classe C que crescia financeiramente. Se não fosse a internet e o crescimento econômico da classe C, a Anitta seria produto local do Rio de Janeiro”, analisou Leo, indo além: “A Anitta não precisa da televisão para nada. Ela é o maior case de marketing da história da música no Brasil. Nem quando ela foi descoberta na Furacão 2000 foi por acaso. Ela se juntou, conheceu os câmeras, ia aos bailes. Aquele vídeo que ela postou no Youtube foi em uma conta emprestada, e não foi obra do acaso.. nada é obra do acaso. Ela faz acontecer”.

E por que será que a poderosa ainda é alvo de tantas críticas? “A burguesia sempre olha com preconceito movimentos sociais da periferia. O samba era vítima de preconceito no passado, hoje é o funk. Acrescente isso ao fato de ela ser uma mulher dona do próprio corpo e o expõe. Aparece seminua, canta funk…. E quando falo burguesia não estou me pautando por dinheiro. É a burguesia intelectual. A Anitta precisou beijar a mão de Caetano Veloso e Gilberto Gil para ser mais aceita, ir nas Olimpíadas…”, lembrou. “A virada econômica da vida dela não foi ‘Show das Poderosas’, como pensam. A guinada foi em ‘Bang’. Aquele clipe fez ela perder o ranço de funkeira, pobre, e virou cool. A partir dali, ela fechou cinco grandes contratos publicitários no valor de R$ 4 milhões de reais, por ano, cada. Ao todo, são R$ 20 milhões de parceiros como Claro, Ambev, Renault, O Boticário e Itaú”. Além desses, Anitta é rosto (e cabelo) da Niely por conta de um sentimento que, como já dissemos acima, guia sua vida: a gratidão. “Não é um contrato milionário como os outros, mas foi a primeira marca a acreditar nela. E Anitta sabe ser grata”, concluiu.

A capa do livro que será lançado no começo do próximo mês (Foto: Divulgação)

Serviço:
Lançamentos:
30/03 – Rio de Janeiro – Bangu Shopping, às 15h
02/04 – Rio de Janeiro – Village Mall, às 19h
04/04 – São Paulo – JK Iguatemi Shopping, às 19h
06/04 – São Paulo – Shopping Center Note, às 15h
07/04 – Salvador – Shopping Salvador, às 15h
13/04 – Recife – RioMar Shopping Recife, às 15h
14/04 – Fortaleza – Shopping RioMar, às 15h