*Por Brunna Condini
Alessandra Begliomini, a Leka, ex-participante do primeiro Big Brother Brasil, se prepara para lançar no Rio de Janeiro o livro ‘Loka, Eu? Minha história de pesos, limites e big compulsões‘. Na obra, ela reflete sobre o mundo das compulsões sob a ótica de quem enfrentou na pele os piores momentos da bulimia. “Achei que posar para a Playboy no passado, me faria feliz com o meu corpo. Mas, eu não tinha nem condições emocionais para isso”, recorda Leka, que posou para a revista em 2002, assim que saiu do reality da Globo. “Como não me via neste lugar, fiz para ter aprovação. É a ‘curtida’ da rede social hoje. Acreditava que a minha paz vinha desse olhar externo me validando. Por isso também entrei no Big Brother. Joguei em cada um desses lugares de poder essa expectativa e não adiantou. Hoje busco cada vez mais o autoconhecimento, entendendo o que tenho de bom e ruim, como todo mundo. Não tenho mais o corpo de 20 anos atrás, mas ganhei entendimento de mim e da vida. Me propus mergulhar no que foi duro para mim e a consciência virou uma aliada”, avalia.
Esses filtros em redes sociais, por exemplo, são grandes gatilhos para dismorfia, transtorno de imagem, alimentar. Se continuar assim, daqui há alguns anos teremos muitas meninas dismórficas, novas gerações perdendo a identidade – Leka, atriz e empresária
Aos 48 anos, casada há 17 com o empresário Thiago Lobo e mãe de Giovanna, de 16, e Gabriel, 12, ela avalia que não se sente curada do transtorno. “Me sinto no meio do caminho. Até brinquei outro dia, dizendo que quero me ver livre dessa pressão, mas ‘balanço’ na primeira promoção de Ozempic (remédio de diabetes usado para emagrecer), sabe? Mas não tomo mais nada. É tão bom falar isso assim, de boca cheia. Não tenho mais dependência dessas medicações. Na minha época, os princípios eram a anfetamina, imagina, com consequências pesadíssimas. Parei de tomar esses remédios quando a minha filha nasceu porque quase tive um treco. Minha saúde deu um alerta e não tive mais como não olhar”, conta.
E desabafa: “A compulsão ainda é um lugar muito difícil de deter. Comecei a eliminar danos, porque causaram muitas consequências. Fui para a comida, a bebida, trocando as compulsões, falo disso no livro. Ainda sou compulsiva, ainda tenho crises de compulsão. Cada vez menos, mas caio na ‘vala’ e sei que preciso estar atenta”.
“Buscava ser pop, famosa, estar no padrão, busquei um a um todos esses lugares de poder e me decepcionei. Eu não era nada disso. Sei o que me custou acreditar na resposta do outro. O Big Brother foi para mim, como é para uma grande maioria que participa, uma resposta externa, uma aceitação, que eu não conseguia ter com meu corpo, com a minha imagem”.
Não tomo mais nada. É tão bom falar isso assim, de boca cheia. Não tenho mais dependência dessas medicações – Leka, atriz e empresária
E acrescenta, destacando a importância de ter falado sobre a bulimia em um reality como o BBB: “Sofri muito com essa busca por aceitação. Perdi bons momentos de vida, são prisões que vamos criando. Quando toquei no tema no confinamento, não tinha a menor ideia do nível de exposição do programa, estava apenas dividindo o que vivia na pele. Fico feliz que o Big Brother venha mudando através dos tempos, como a sociedade. Trazendo entretenimento, mas entendendo também que é importante destacar os temas relevantes, de um jeito acessível, popular. Existe um movimento de aceitação dos corpos hoje, de liberdade, mas ainda tem muita pressão. Eu fiz tratamento a vida inteira por isso. E não falo hoje de um lugar de cura, quero deixar bem claro. Progrido todos os dias, porque me cuido, olho para mim. Observo a idosa que eu quero ser e tudo o que ela precisa para ser feliz”.
Mais de duas décadas após sua participação na primeira edição do programa, Leka revela que o livro, a ser lançado no dia 3 de abril, às 18h:30, na Livraria da Travessa do Leblon, é só o início do caminho que deseja percorrer. “Estou preparando as palestras e também vou levar essa história para o teatro. O livro é o ponto de partida dessa discussão. Ainda tem muito a ser explorado sobre o tema, quero escrever mais livros. Inclusive, o segundo já está quase pronto. Pretendo promover reflexões sobre o assunto. Meu objetivo hoje é ter uma voz que leve este debate adiante. Sinto que é uma missão mesmo, e é lindo quando acontece assim, porque você se apropria da causa sem vaidade, entendendo que ela existe por que é um lugar de gratidão por ter chegado até aqui depois de tudo o que vivi”.
Ainda há muita ignorância quando falam do transtorno de imagem e do alimentar. Têm muitos mitos que precisam ser derrubados – Leka, atriz e empresária
Leka revela que, quando tinha 17 anos tomava remédios para emagrecer. “Comprometi a minha saúde. Hoje tenho problemas para dormir. Durmo pouquíssimo, o que é bem ruim. Perdi muito, oportunidades de trabalho, momentos da infância e da juventude, deixei de viajar. É um lugar triste. É difícil explicar o transtorno psicológico, porque ele não é tangível. Fico pensando que se eu tivesse acesso a esses filtros das redes sociais na minha época, eu nem sairia de casa para que as pessoas não vissem a Leka real. Mas, hoje combato isso, porque tenho essa consciência e ela ajuda muito no caminho com o transtorno. Quem sofre dessa forma, acha que se for magra a vida vai ser perfeita. Muitos adolescentes ainda sofrem com isso. A ideia da palestra é justamente para promover essa reflexão. Precisamos falar”.
Esse livro foi a maior terapia que fiz na vida. Ainda há muita ignorância quando falam do transtorno de imagem e do alimentar. Têm muitos mitos que precisam ser derrubados. Falar cura – Leka, atriz e empresária
BBB
Relembra da importância de ter abordado o tema da bulimia em rede nacional durante sua passagem pelo BBB1. “Eles não estavam preparados para lidar com o transtorno e nem eu. Eu tinha que falar sobre o assunto, fui a primeira pessoa a falar publicamente sobre bulimia no Brasil. Eu precisava fazer alguma coisa com a minha história. Hoje estou fazendo como mulher que sofre essa pressão ao longo da história e como mãe”. Esses filtros em redes sociais, por exemplo, são grandes gatilhos para dismorfia, transtorno de imagem, alimentar. Se continuar assim, daqui há alguns anos teremos muitas meninas dismórficas, novas gerações perdendo a identidade”, pontua Leka.
Mergulho profundo
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