No ano passado, Victor Niskier tornou-se o arquiteto mais jovem a participar da Casa Cor ao apresentar em um espaço de 25 metros quadrados, sua Colmeia Urbana, ambiente para exposição de objetos de arte inspirado na geometria das colmeias. Agora, na edição 2019, realizada no prédio do antigo Touring do Rio de Janeiro, edifício tombado pelo IPHAN, na Praça Mauá – que foi um grande centro de acolhida aos imigrantes vindos de navio na primeira metade do século passado -, Victor está de volta e aposta no mix de tecnologia com tradição na sala Leitura Tech, onde passado e futuro convivem em total harmonia, um funcionando como complemento do outro.
A tradição está presente na homenagem que o arquiteto presta a seu bisavô, Mordka Niskier, que fugiu de uma Polônia onde o antissemitismo ganhava terreno e veio dar no Rio de Janeiro, onde fundou o primeiro colégio judaico da cidade, o Talmud Torah, hoje associado ao Colégio Israelita Barilan, em Copacabana. Com um pergaminho onde havia escrito o alfabeto hebraico nas mãos, o educador alfabetizou por décadas crianças recém-chegadas ao Brasil, fugidas do nazismo, captando com insistência recursos e doações que viabilizassem seu projeto de vida. O pergaminho pode ser visto no recanto Leitura Tech.
Já a tecnologia está em perfeita simbiose nas telas e na iluminação comandadas por celular. “O Leitura Tech apresenta a pluralidade brasileira e tem como missão retratar fragmentos da essência e da cultura de um Brasil multi, composto por histórias de vida e luta através da educação”, explica Victor, que descende de uma tradicional família de educadores. “Queremos abordar a forma de ler da sociedade contemporânea. Digital, físico, misto… No mundo de hoje, as vertentes tradicionais de transmissão de conhecimentos se mesclam aos métodos digitais”.
O espaço é bonito e convida à leitura. Iluminado e decorado em tons claros, tem, de um lado uma estante que ocupa todo o pé direito da sala com livros clássicos e peças art-déco em suas prateleiras. Diante da estante, do outro lado do cômodo, fica uma espécie de beliche, com sofá embaixo e um confortável futon no mezanino. Uma mesa de trabalho com tampo de vidro completa o ambiente, ao mesmo tempo aconchegante e funcional. O espaço conta ainda com a cadeira “Magrella”, com design criado pelo próprio Victor Niskier.
“Fazemos um convite para que o visitante navegue em sua própria forma de leitura, seja tech, seja tradicional, em um dos vários microambientes para se ler, de forma cartesiana ou despojada”, observa o arquiteto. “Aqui o design, a conexão e a cultura estão juntos em perfeita harmonia com a leitura e a comunicação”.
Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com pós-graduação em Conforto Ambiental pela Universidade de Coimbra, em Portugal, não é de hoje que Victor Niskier chama a atenção por seus projetos arrojados. No ano passado, o arquiteto foi convidado pela Kreimer Engenharia para projetar um centro comercial inteiramente montado dentro de contêineres na Rua Gomes Carneiro, em Ipanema, seguindo a tendência internacional de otimizar espaços. Assim nascia o Ipanema Harbor, hotspot que mistura cultura, arte, moda e gastronomia, além de abrigar consultórios médicos, escritórios e até shows de música. “Estamos abertos a qualquer manifestação cultural que tenha a pegada do investimento”, disse Victor Niskier, também curador do espaço, na época.
Outras “pegadas” muito interessantes e atuais do trabalho dele são a reutilização de materiais e a preocupação com o conforto ambiental, ainda pouco observados no país. Na questão do reuso, o arquiteto afirma: “Uma das minhas maiores preocupações é mostrar que o reuso pode chegar a um resultado belo, incrível”, costuma dizer Victor.
O conforto ambiental é uma tendência que pode ser observada em todos os seus projetos: “Conforto ambiental são todas as propriedades que envolvem as pessoas no seu ambiente de trabalho ou no espaço habitado. Envolve acústica, térmica, ergonomia. A minha pós foi bem pautada em transformar o ambiente no mais confortável possível para o usuário. Estudei como evitar ruídos através da espessura da parede ou de isolantes acústicos. É um tema bem atual”.
Gostou? A Casa Cor deste ano está sendo realizada no Edifício Touring, construído na década de 1920 em estilo art déco, com projeto do arquiteto francês Joseph Gire – responsável também por Copacabana Palace, Palácio Laranjeiras (atualmente residência oficial do governador do estado) e Edifício A Noite, que fica pertinho, quase em frente. Quarenta e cinco ambientes, entre residenciais, comerciais e jardins, ocupam o edifício histórico e seu galpão anexo.
SERVIÇO
CasaCor Rio de Janeiro 2019
Edifício Touring: Praça Mauá nº 2, Centro – 2512-2411 / 96432-2494
Terça a sábado, do meio-dia às 21h; domingo, do meio-dia às 20h
Ingressos:
Terça a sexta-feira: R$ 50 e R$ 25 (meia-entrada)
Sábados, domingos e feriados: R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada)
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