Kika Seixas lança biografia: ‘Vivi bons momentos com Raul e outros nem tanto, mas foi emocionante revisitar tudo’


A produtora, ex-mulher de Raul Seixas, com quem tem uma filha, a DJ Vivi Seixas, lança livro que traz relatos e registro inédito sobre sua vida ao lado do ícone do rock, material que desperta a curiosidade em qualquer tempo: “Raulzito tinha uma ótica atemporal e genial em suas músicas. O Raul transcende gerações. Uma vez ele me disse: “Kika, não tenho medo de morrer, só não quero ser esquecido”. Este livro é uma das formas que encontrei de mantê-lo vivo”. A Ubook, maior plataforma de audiotainment da América Latina, disponibilizou nas versões audiobook, ebook e impressa

Kika Seixas lança biografia: 'Vivi bons momentos com Raul e outros nem tanto, mas foi emocionante revisitar tudo'

*Por Brunna Condini

“Tive o privilégio de conviver com um gênio que não era arrogante ou prepotente, muito pelo contrário: era uma pessoa doce e generosa”. É com essa frase que Angela Maria de Affonso Costa, a Kika Seixas, define sua parceria no amor e na música com Raul Seixas (1945-1989). Ex-mulher do ídolo do rock brasileiro, Kika falou com exclusividade ao site sobre a biografia ‘Coisas do Coração‘ (alusão ao nome de uma canção composta pelos dois), que fala da sua vida com o artista. A Ubook, maior plataforma de audiotainment da América Latina, disponibilizou nas versões audiobook, ebook e impressa. “Quero que os fãs conheçam o Raul que conheci e tive a felicidade de conviver: as conquistas, os desafios, os problemas, enfim, tudo que traz vida à memória dele. Entre momentos bons e outros nem tanto, foi muito emocionante revisitar todas essas lembranças que estão no livro”, revela a produtora, sobre a obra lançada na sexta-feira, 28 de março, dia do aniversário de 40 anos da DJ Vivian Seixas, sua única filha com o artista: “Só posso agradecer a oportunidade de presentear minha filha com um livro que conta minha história com o pai dela. Ela tem o jeito carinhoso do Raul. E os olhos também”.

“Quero que os fãs conheçam o Raul que conheci e tive a felicidade de conviver: as conquistas, os desafios, os problemas, enfim, tudo que traz vida à memória dele" (Divulgação)

“Quero que os fãs conheçam o Raul que conheci e tive a felicidade de conviver: as conquistas, os desafios, os problemas, enfim, tudo que traz vida à memória dele” (Divulgação)

O livro, alinhavado a quatro mãos com Toninho Buda, amigo do casal e grande conhecedor da obra de Raul, começou a ser escrito em 2019, e reúne material e memórias inéditas. Kika elege uma delas para compartilhar aqui. “A música ‘Aluga-se’, de 1980, do LP ‘Abre-te Sésamo’, foi composta quando Raul leu no Jornal O Globo uma carta dos leitores na qual uma pessoa sugeria ‘alugar o Brasil, já que devíamos ‘zilhões’ de cruzeiros na época ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Diziam que o Brasil ia ‘dar o calote’. A inspiração veio daí. Gostaria de saber quem foi esse leitor para agradecer a ‘parceria’ na música (risos)”.

Raul Seixas e Kika: "Entre momentos bons e outros nem tanto, foi muito emocionante revisitar todas essas lembranças que estão no livro” (Arquivo Pessoal)

Raul Seixas e Kika: “Entre momentos bons e outros nem tanto, foi muito emocionante revisitar todas essas lembranças que estão no livro” (Arquivo Pessoal)

E revela lembranças comoventes registradas na obra, que evidenciam sua cumplicidade amorosa com o ídolo: “Me emocionam as cartas que Maria Eugenia (mãe de Raul) me escrevia no final de 1984 até a morte dele, em 1989. Elas me trouxeram lágrimas aos olhos. Ficamos amigas até o final da vida dela”.

Na versão audiobook do livro, as cartas que Maria Eugênia enviou para o filho são narradas pela atriz baiana Sônia Dias, conterrânea de Raul e amiga da adolescência em Salvador. Citações do artista em forma de flashback recebem a voz de Nelito Reis – ator que interpretou Raul nos palcos, na peça teatral “Raul Seixas, uma Metamorfose Ambulante”. E, finalmente, a convidada especial Vivian Seixas, revivendo as passagens de Kika ainda solteira no Rio de Janeiro.

“Me emocionam as cartas que Maria Eugenia (mãe de Raul) me escrevia no final de 1984 até a morte de dele, em 1989" (Reprodução)

“Me emocionam as cartas que Maria Eugenia (mãe de Raul) me escrevia no final de 1984 até a morte de dele, em 1989″ (Reprodução)

Raul longe dos holofotes

A produtora viveu com o músico de 1979 a 1984 e, enquanto estavam juntos, escreveram 13 músicas em parceria. Kika diz que o livro também tem como missão mostrar Raul Seixas fora do papel de ícone do rock. Como nos trechos em que ela destaca os dramas familiares e a luta do artista ao lado dos amigos e da família contra o alcoolismo. “O momento mais difícil foi quando ele ficou internado três meses no Hospital Albert Einstein em São Paulo sem sabermos como seria a recuperação dele após a retirada de parte do pâncreas”, recorda. Em 1978, Raul perdeu 1/3 do pâncreas, devido ao consumo excessivo de álcool. A partir daí, foram muitos problemas de saúde até sua morte, aos 44 anos, em 21 de agosto de 1989, vítima de uma pancreatite aguda fulminante.

Quando o alcoolismo dele começou e como ele lidava com a dependência? “Raul bebia desde os 12, 13 anos e isso era sinal de ‘rebeldia’ para um adolescente, na época. Depois transformou-se em hábito diurno, e mais tarde, em uma catástrofe que prejudicaria a carreira dele, as relações profissionais e pessoais. Ele nunca aceitou com humildade necessária que era dependente do álcool”.

Kika, a pequena Vivian e Raul: a versão caseira do ídolo do rock (Arquivo pessoal)

Kika, a pequena Vivian e Raul: a versão caseira do ídolo do rock (Arquivo pessoal)

Para Kika, Raul foi um companheiro afetuoso, que curtia estar em família. Uma imagem que contrastava com a rebeldia cantada. Como era essa parceria também na arte? “Era delicioso compor com Raul. A inspiração para ele chegava muito rápido em qualquer lugar: no estacionamento de carros, em um bar da esquina ou no estúdio aonde ele adorava ouvir música. Muitas vezes eu acordava e lá estava ele com uma canção pronta como ‘Metrô Linha 743’. Outras vezes, ele me chamava para terminarmos juntos uma música, com em ‘DDI’, por exemplo. Demos muitas risadas preparando essa música”.

"O Raul transcende gerações. Uma vez ele me disse: "Kika, não tenho medo de morrer, só não quero ser esquecido". Esse livro também é para isso" (Arquivo pessoal)

“O Raul transcende gerações. Uma vez ele me disse: “Kika, não tenho medo de morrer, só não quero ser esquecido”. Esse livro também é para isso” (Arquivo pessoal)

O que acha que Raul falaria vendo a atual situação do país? “Acho que ele cantaria algo como na canção ‘Não fosse o cabral’, de 1983: “Falta de cultura / Prá cuspir na estrutura /Falta de cultura / Prá cuspir na estrutura / Falta de cultura/ Prá cuspir na estrutura / E que culpa tem Cabral?”, aposta Kika.

Por que as pessoas devem ler esta obra, principalmente os jovens que não conheceram Raul? “As pessoas devem primeiramente ouvir as músicas de Raul! Raulzito tinha uma ótica atemporal e genial em suas músicas. O Raul transcende gerações. Uma vez ele me disse: “Kika, não tenho medo de morrer, só não quero ser esquecido”. Este livro é uma das formas que encontrei de mantê-lo vivo. Depois de conhecer seu trabalho musical, se quiserem conhecer a sua intimidade, então leiam “Coisas do Coração’”.