Giovanna Nader, do Se essa roupa fosse minha, no GNT, lança livro sobre moda e planeja filho com Gregório Duvivier


“Enquanto o que rege é dinheiro, o ato de consumir é político. Cabe a nós a responsabilidade de direcioná-lo e apoiar quem está querendo o bem do mundo”, analisa a autora do recém-lançado livro ‘Com que roupa?’ sobre economia circular e casada com o integrante do ‘Porta dos Fundos’ que interpretou o polêmico Jesus Gay em ‘A primeira tentação de Cristo’. A ativista ambiental diz que é adepta do upcycling, que visa a reutilização de roupa, e da sustentabilidade de uma ponta a outra da cadeia produtiva de moda

Giovanna Nader, do Se essa roupa fosse minha, no GNT, lança livro sobre moda e planeja filho com Gregório Duvivier

*Por Brunna Condini

No meio do caminho de um livro, uma pandemia. Mas Giovanna Nader enxergou no atraso para lançar o seu ‘Com que Roupa?’, que chega às livrarias nesta sexta-feira (21) – convidando o leitor a participar de uma jornada para reinventar sua relação com o que veste e consome – a oportunidade de trazer assuntos relevantes para o cotidiano das pessoas, como a sustentabilidade, em uma época crítica. “Comecei a escrever esse livro há dois anos, em um outro mundo, sem a pandemia. Enquanto escrevia, muito aconteceu e o livro passou por um processo de transformação. Inicialmente seria um guia de consumo sustentável para amantes da moda. Era para ter sido lançado ano passado, mas acredito que ele chega no tempo certo”, avalia a comunicadora, ativista ambiental e apresentadora do programa ‘Se essa roupa fosse minha’, do GNT.

"Temos que ficar atentos para quando pudermos colocar os pés fora de casa novamente, estarmos transformados interiormente para transformar o mundo” (Foto: Theodora Duvivier)

“Temos que ficar atentos para quando pudermos colocar os pés fora de casa novamente, estarmos transformados interiormente para transformar o mundo” (Foto: Theodora Duvivier)

“A pandemia acelerou valores muito importantes da sustentabilidade, que estavam ‘engatinhando’ ainda. A gente está bem no limite e em uma década chave para mudanças de paradigmas, de atitudes, de sistema. Sabemos, por exemplo, que temos 10 anos para reverter a questão da crise climática ou isso se tornará irreversível. A pandemia veio no início dessa nova era e acelerou esses valores, mas temos que ficar atentos para quando pudermos colocar os pés fora de casa novamente, estarmos transformados interiormente para transformar o mundo”.

Um mundo melhor porque Marieta chegou

Casada com Gregorio Duvivier e mãe da pequena Marieta, de 3 anos e meio, Giovanna fala das transformações que a maternidade impulsionou em sua vida. “Me transformou por completo. A começar pelo trabalho que faço hoje, que veio muito por que a Marieta estava no mundo e eu tinha a necessidade de protegê-la, proteger a sua geração”, reflete.

“Mudei minha relação com o tempo, por exemplo. Quando você não tem filhos, tem todo tempo do mundo. Hoje, ele não é só mais meu, então tirei da vida atitudes que me consumiam, como até ir a salão de beleza. Toda essa visão de mundo sistêmica, construí a partir da Marieta. E conquistei muita resiliência, força, determinação. Entendi mesmo que não controlamos nada e aprendi a amar de uma maneira diferente”. Sobre o futuro em família, Giovanna também revela: “Queremos dar um irmão para Marieta”.

“Queremos dar um irmão para Marieta, temos esse desejo” (Reprodução)

“Queremos dar um irmão para Marieta, temos esse desejo” (Reprodução)

A comunicadora divide também sua vivência neste período de recolhimento com Gregorio e a filha: “Atravessar esse momento com uma criança pequena não tem sido fácil. A rotina mudou, a logística. Mas por outro lado, uma criança dessa idade não sabe o que está acontecendo no mundo, então somos obrigados a fazer festa, dentro de casa, no ‘bom sentido’, o que acaba sendo uma ‘pequena fuga’ dessa realidade. Tem sido um desafio como deve estar sendo para outras mães, mas com muito aprendizado. Sobrevivemos”.

Ela exalta ainda, as descobertas proporcionadas pela convivência intensa. “Somos uma família unida, mas muito amiga acima de tudo. Estamos ali um para o outro. Descobri no Gregorio um grande parceiro para tudo, inclusive de divisão de tarefas, de forma igualitária, isso é importante dizer. A rotina dele é bizarra: tem programa, gravações, o ‘Porta dos Fundos’, mas, ao mesmo tempo, também se dedica integralmente à Marieta”, diz. “Nossa filha também tem se tornado uma parceira de vida. Estamos cada vez mais companheiras. Ela está deixando de ser bebê e entrando cada vez mais em nosso universo. É uma filha maravilhosa, uma amiguinha que tenho no mundo. Acho que a grande surpresa dessa pandemia foram essas descobertas, destes dois parceiros de vida. Estamos cada vez mais fortalecidos”.

“Somos uma família unida, mas muito amiga acima de tudo. Estamos ali um para o outro" (Reprodução)

“Somos uma família unida, mas muito amiga acima de tudo. Estamos ali um para o outro” (Reprodução)

Missão de comunicar

Com o livro Giovanna oferece um panorama do mercado de moda atual, com dicas de estilo, autoconhecimento, técnicas de como aproveitar melhor o guarda-roupa e orientações para consumir menos e melhor. “Moda sustentável são duas palavras contraditórias, né? Enquanto moda significa novidade, frescor, o que vem por aí, sustentabilidade significa o que perdura, o que vem para ficar. Um grande desafio que temos é justamente frear a produção e consumo em um mercado tão vibrante e ávido por novidades”, alerta a ativista, que começou esse caminho há oito anos, quando fundou o projeto de moda sustentável ‘Gaveta’, onde as pessoas trocam roupas que não usam mais. “Hoje encaro como uma missão comunicar e informar cada vez mais pessoas. Mas quando criei o ‘Gaveta’, comecei esse movimento, para celebrar o uso das roupas usadas, a troca, diminuindo assim o consumo. Era uma percepção só na moda, mas depois busquei o todo. E quando a minha filha nasceu, percebi que a geração impactada por esse consumo desenfreado já estava viva e era a dela”, recorda.

"Quando a minha filha nasceu, percebi que a geração impactada por esse consumo desenfreado já estava viva e era a dela” (Foto: Theodora Duvivier)

“Quando a minha filha nasceu, percebi que a geração impactada por esse consumo desenfreado já estava viva e era a dela” (Foto: Theodora Duvivier)

“Desde então, busco iniciativas para viver uma vida mais sustentável. A mudança individual nos ensina a questionar sistema, governos e indústrias, e vem acompanhada de algumas ações que podemos fazer dentro da nossa realidade para, assim, engajar o coletivo. Consumir menos, fazer melhores escolhas, usar de maneira inteligente o seu armário, cuidar melhor das suas roupas para que elas durem mais, lavar menos e descartar de maneira correta. Tive duas grandes viradas: quando criei o projeto ‘Gaveta’, em 2013, e quando Marieta nasceu, em 2018”.

Setor responsável por 8 a 10% das emissões de gases de efeito estufa, o mercado da moda ainda precisa evoluir na sua relação com a natureza e com as pessoas. “Somos 7,6 bilhões de pessoas com vontades infinitas diante de recursos naturais finitos. A moda precisa mudar drasticamente seu modelo de negócio: produzir menos, aumentar a circularidade no setor, incorporar na sua cadeia produtiva peças e materiais que já estão no mundo. E, por outro lado, pessoas precisam se abrir a novas formas de consumo. Só assim teremos, de fato, uma moda sustentável”, defende Giovanna, pós-graduada em Branding pela Universitat Pompeu Fabra, de Barcelona.

"A moda precisa mudar drasticamente seu modelo de negócio: produzir menos, aumentar a circularidade no setor, incorporar na sua cadeia produtiva peças e materiais que já estão no mundo" (Foto: Theodora Duvivier)

“A moda precisa mudar drasticamente seu modelo de negócio: produzir menos, aumentar a circularidade no setor, incorporar na sua cadeia produtiva peças e materiais que já estão no mundo” (Foto: Theodora Duvivier)

Por que acha que em pleno 2021 tanta gente ainda nega a importância de uma conscientização mais ecológica, sustentável da vida? Por que tem gente que banaliza e acha o tema ‘chato? “Acredito que porque ainda não perceberam o impacto de fato. Só que todos nós já estamos sendo impactados. O aquecimento global é fato, a terra está aquecendo. O desmatamento que acontece lá na Amazônia, longe da gente, tem total ligação com a nossa existência no mundo. Mas muita gente pode não perceber a seriedade disso, porque ainda é intangível”, analisa Giovanna.

“Diferente da pandemia, por exemplo, em que temos maneiras concretas de tentarmos nos proteger, a crise climática parece ser algo longínquo. Mas só parece. Tem muita gente já sendo afetada. Uns mais e outros menos, de acordo com privilégios e desigualdades sociais. Quem tem condições menos favorecidas são os primeiros impactados. Temos o dado hoje, que até 2050 teremos mais de 100 milhões de refugiados climáticos, porque grandes cidades ficarão embaixo d’ água, já que vai acontecer essa elevação do nível do mar. Então, acho que essa falta de urgência das pessoas em relação ao tema vem porque ainda não enxergaram a gravidade. Uma vez que você abre os olhos, não tem volta”.

O tempo virou

Desde o ano passado, Giovanna também apresenta um podcast de conscientização ecológica, ‘O Tempo Virou’, onde conversa com convidados sobre temas referentes ao meio ambiente, colocando em pauta os dilemas da vida contemporânea e os hábitos já estão fazendo a diferença no planeta. “O nome saiu de um brainstorming que fiz com Gregorio. O podcast é meu e do meu irmão Giordanno Nader que é roteirista e economista, o que dá esse viés bem político no roteiro. Senti uma necessidade grande de falar com mais gente. Até então falava nas redes sociais, sabia que tinha um público de moda forte, mas também veio a vontade de entrevistar gente que eu admirava, falar de temas variados, que não domino exatamente”.

E acrescenta: “Na primeira temporada fomos bem nichados, abordando temas ligados mesmo à sustentabilidade e crise climática. Agora queremos variar. Já falamos muito sobre direitos humanos e queremos trazer temas que permeiam a nossa existência, que estão ligados à sustentabilidade, mas ao autoconhecimento também”.

"Senti necessidade grande de falar com mais gente. Até então falava nas redes sociais, sabia que tinha um público de moda forte, mas também veio a vontade de falar de temas variados” (Reprodução)

“Senti necessidade grande de falar com mais gente. Até então falava nas redes sociais, sabia que tinha um público de moda forte, mas também veio a vontade de falar de temas variados” (Reprodução)

Como explicaria para as pessoas que comer, se vestir e consumir são atos políticos? “A política está em tudo. Nossa existência é um ato político, as nossas decisões. Então, você pode estar ingerindo um alimento que está totalmente ligado ao desmatamento das florestas ou à bancada ruralista e os agrotóxicos, por exemplo. Ou você pode comer um alimento que está em uma cadeia ainda invisibilizada, da agroecologia, do pequeno produtor de orgânicos. Você vai fazer bem não só para o planeta – já que é a maneira mais natural de se produzir – mas para uma cadeia produtiva que faz bem ao mundo e precisa de apoio. Além de fazer bem a você, que vai ingerir algo de qualidade”, esclarece. “Enquanto vivermos em um sistema em que o que rege é o dinheiro, o ato de consumir é político. Para onde direcionamos esse dinheiro tem valor, então cabe a nós a responsabilidade de direcionar o dinheiro e apoiar quem está querendo o bem do mundo, um futuro para ele”.