* Por Junior de Paula
O artista plástico australiano radicado na Grã-Bretanha Ron Mueck não veio conferir a comoção que sua primeira exposição no Brasil está causando desde que estreou, na semana passada, no MAM-RJ. Ainda bem, na verdade, já que uma das principais características do artista, que começou muito cedo a criar boneco e marionetes ainda na Austrália incentivado pelo pai, é ser avesso à grandes aglomerações.
Em seu estúdio em Londres, para onde se mudou ainda nos anos 80, Ron gosta de trabalhar sozinho, no seu tempo e é capaz de passar horas moldando apenas um dedo até chegar à perfeição que ele tanto procura. Perfeccionista, sisudo e um tanto quanto melancólico, Ron impressiona por seu trabalho meticuloso, no qual se utiliza de uma mistura de materiais em grande quantidade, que inclui poliestireno, resina de vidro, silicone, espuma de poliuretano, fibra acrílica e tecidos.
“Uma exposição de Ron Mueck é um evento incomum. Mueck vive em Londres e suas mostras têm sido aclamadas no mundo todo, desde o Japão, Austrália e Nova Zelândia, até o México. Mueck trabalha lentamente em seu pequeno estúdio ao Norte de Londres, e o próprio tempo transmuta-se em um elemento importante dentro de seu processo criativo”, conta Carlos Alberto Chateaubriand, presidente do MAM, que costurou essa visita das obras à cidade junto com Adriana Rosenberg, diretora da Fundación Proa, e Bruno Assami. “Há mais de quatro anos desejávamos expor os trabalhos de Ron Mueck na América Latina”, contou. O Rio, aliás, é a única cidade brasileira que vai poder ver de perto as obras.
A exposição desembarca na cidade com nove esculturas hiper-realistas – três feitas especialmente para esta mostra que estreou no ano passado em Paris, na Fondation Cartier, onde foi vista por cerca de 300 mil pessoas, e, em seguida, foi apresentada em Buenos Aires, na Fundação Proa, para mais de 600 mil pessoas nos meses em que esteve em cartaz.
Por aqui, no primeiro fim de semana, 15 mil pessoas percorreram o MAM para conferir as criações que se utilizam, de forma impressionante, de uma mais que interessante brincadeira de escalas. O maior – literalmente – exemplo disso é a escultura de um casal de idosos sobre o guarda-sol de três metros de altura, na qual você percebe até as unhas por cortar, as rugas e veias saltadas, ou o superfrango de mais de dois metros pendurado no teto e depenado.
Tem ainda a “Woman With Shopping” (Mulher com as Compras), “Young Couple” (Jovem Casal), a famosa “Woman with Sticks” (Mulher com Galhos, 2009) e “Mask II” (Máscara 2, 2002), um autorretrato de Mueck que reproduz seu rosto dormindo, “Man In a Boat” (Homem em um Barco), “Youth” (Juventude, 2009), e “Drift” (À Deriva, 2009). Já que Ron não veio pessoalmente, a gente pode se contentar com um documentário dirigido por Gautier Deblonde intitulado Still Life: Ron Mueck at Work (Natureza morta: Ron Mueck trabalhando), em que se vivencia junto do artista a rotina de criação das obras vistas no museu.
Mais do que esculturas, o que se vê são pequenas histórias estáticas, quase sempre com personagens de olhar triste e com um toque de existencialismo, onde cada espectador é convidado a criar sua própria trama em relação a cada um daqueles personagens que, de tão perfeitos, fica impossível não se criar uma cumplicidade à primeira vista. É pagar para ver!
Fotos: Divulgação
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.
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