Galeria Laura Alvim abre a temporada anual com “Águas Furtadas” da artista Laura Erber


A programação da galeria, sob curadoria de Glória Ferreira, apresenta até o próximo ano individuais de Marilá Dardot, Ricardo Basbaum, Malu Fatorelli e Eduardo Coimbra. Confira!

A palavra “furtadas” alude ao processo de apropriação que a artista faz de imagens alheias, como as de Eckhout, do rosto de Tarsila Amaral e ainda o “furto” da paisagem da Galeria Laura Alvim. “Roubei do espectador o espetáculo atlântico…”, diz Laura Erber. É com este clima que a artista inaugura a temporada 2014-2015 do espaço, localizado em Ipanema, no Rio de Janeiro, e vinculado à Secretaria de Estado de Cultura (SEC), nesta quarta-feira (26/03). A expo “Águas Furtadas”, da carioca Laura, conta com uma série de video instalações e colagens realizadas entre 2008 e 2014. O título, sem hífen, remete também às ‘águas-furtadas’ com hífen, que significa sótão, já que o espaço da galeria está vedado ao exterior e penumbroso para esta mostra. A programação da galeria, sob curadoria de Glória Ferreira, apresenta até o próximo ano individuais de Marilá Dardot, Ricardo Basbaum, Malu Fatorelli e Eduardo Coimbra. Ou seja, o ano produtivo começa promissor.

Em “Águas Furtadas”, a artista e escritora Laura Erber (1979) exibe um conjunto de trabalhos que põem em tensão cinema, vídeo e pintura, fazendo emergir histórias de águas, e com elas, figuras literárias, míticas ou reais, destoantes entre si como a do poeta Ghérasim Luca, morto no Sena em 1994, assim como uma Vênus em desequilíbrio nas rochas do Mediterrâneo ou, ainda, os primeiros caranguejos do Planeta, como narrados por uma menina de seis anos em sua versão da origem da vida na pequena televisão de uma casa de bonecas.

“Nunca havia mostrado tantas vídeo instalações realizadas em momentos tão diferentes em um mesmo espaço. Assim, a exposição tem também um certo um caráter retrospectivo, acrescido de uma pesquisa visual que se desdobra em direções não pré-determinadas, desta vez com a inclusão das imagens de Eckhout das quais me apropriei para pensar em nossa relação com o que está reprimido na construção dessa paisagem “paradisíaca” das nossas praias”, conta Laura.

A água comparece em seu caráter metafórico e como elemento real. A instalação multimídia “O funâmbulo e o escafandrista” (2008), por exemplo, ocupa duas salas e sonda o rio Sena, que ganha contornos enigmáticos no contraste entre a insistência dos suicídios e a atração turística. “Imamagem” evoca o Rio (de Janeiro) obliterado com seu mar, apenas entrevisto através do seio da imagem de uma mulher retratada pelo pintor holandês Albert Eckhout no século XVII. E, no Mediterrâneo de onde emerge a video instalação “Vênus Titubeantis (2010), o mar é cenário dos diálogos do escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950) sobre os quais o vídeo é projetado. Já em “Procurando Tarsila” (2014), retro-projeção de 3” uma lama azul recobre o famoso rosto da artista Tarsila do Amaral, enquanto a água dos primórdios de onde saem as primeiras criaturas aparece na voz da menina do vídeo “Pré-história”. Na colagem sem título, Erber ainda junta jabutis saídos de obras de Eckhout com imagens de água.

Na exposição, a grande janela da Galeria Laura Alvim, que dá vista para o mar de Ipanema está totalmente coberta por uma segunda parede, onde estará a reprodução de uma pintura de Eckhout, modificada com um furo recortado sobre o seio da figura da mulher negra retratada. Essa pequena abertura permitirá ao espectador apreciar a paisagem sob a condição de “mamar” na imagem, como sugere a artista, que intitulou a obra inédita de “Imamagem” (2014). Eckhout visitou o Brasil em uma das expedições artísticas no século XVII e, agora, além de inspirar a arte de Laura, ainda serve de mamadeira concetual.

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Fotos (Reprodução)

A artista e escritora nasceu no Rio de Janeiro e sua prática artística vem se caracterizando pelo trânsito entre linguagens (filme, vídeo, escrita, desenho, fotografia) e pelo questionamento das fronteiras entre campo verbal e campo visual. Teve seus trabalhos expostos em festivais internacionais de cinema e vídeo, em centros de arte no Brasil e na Europa (Grand Palais, Jeu de Paume, Iaspis, Nikolaj Kunsthalle, CCBB) e realizou exposições individuais no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na Fundação Miró (Espanha) e no Centro Internacional de Arte e da Paisagem de Vassivière (França). Foi artista residente no Centro de Arte Contemporânea Le Fresnoy (França) e na Akademie Schloss Solitude (Alemanha). Desde 2007 colabora com a performer Marcela Levi. É autora de Ghérasim Luca (Eduerj 2012), uma introdução à obra do poeta morto em 1994, dentre outras publicações.