Fabiane Pereira entrevista Valesca – sim, a Popozuda – e revela um outro lado da cantora empoderada que acabou de lançar o livro “Sou dessas: pronta pro combate”


Valesca é cantora, mas tem ganhado os noticiários por outro motivo: seu novo projeto, o livro “Sou dessas: pronta pro combate” (editora Record). A artista aproveitou a 24ª Bienal Internacional do Livro, que aconteceu em São Paulo na última semana, para lançá-lo e nossa colunista de literatura bateu um papo com ela

*Por Fabiane Pereira

Quando fui convidada para escrever esta coluna, semanalmente, propus falar sobre literatura através de seus vários atravessamentos artísticos e esta semana a pauta está bastante fiel a esta proposta.

Valesca é cantora, mas tem ganhado os noticiários por outro motivo: seu novo projeto, o livro “Sou dessas: pronta pro combate” (editora Record). A artista aproveitou a 24ª Bienal Internacional do Livro, que aconteceu em São Paulo na última semana, para lançá-lo. Com apresentação da atriz – e fã – Susana Vieira, o livro traz várias histórias narradas em primeira pessoa. Desde os bastidores de seus shows, passando pelas causas LGBT’s até a promoção do empoderamento feminino através de assuntos polêmicos como aborto, liberdade sexual e funks proibidões.

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Nascida no bairro de Irajá, Valesca começou sua batalha profissional como frentista de posto de gasolina. Levou milhares de homens à loucura no ano 2000 quando tornou-se dançarina do grupo Gaiola das Popozudas. Mas foi só em 2013, quando lançou-se em carreira solo, que a cantora carioca conquistou todas as classes sociais com o sucesso “Beijinho no Ombro” (atire a primeira pedra quem não rebolou até o chão quando o hit começava a tocar nas pistas ou nos dials).

Aqui, Valesca se apresenta de um jeito diferente daquele que os fãs estão acostumados. Fã de Maria Bethânia, a artista mostra como venceu os preconceitos sendo hoje a rainha do funk – gênero musical oriundo das favelas cariocas que conquistou o país – ícone feminista e uma das divas da música pop nacional.

FP: Como a música entrou profissionalmente em sua vida?
VP: Foi tudo no susto. Eu, no início, vi a música como oportunidade profissional. Tinha um filho sendo gerado em meu ventre e precisava dar o melhor pra ele. Mas, logo no início, já vi que a música era pra mim, e para toda a minha vida. Contagia!

FP: Como surgiu a ideia de escrever um livro? E quanto tempo levou seu processo de criação?
VP: Foi um convite da editora Record – Best Sellers. No começo fiquei meio receosa em não ter muito o que contar aos leitores, mas ao começar a pensar nas histórias de vida que tive e tenho, fui me jogando. O processo todo levou quatro meses com muitas noites em claros, escrevendo, chorando e levantando a poeira de tanta história linda que já vivi.

FP: Suas músicas falam de empoderamento feminino muito antes do tema tornar-se pauta nas ruas e na internet. Quando e como você se reconheceu como uma mulher empoderada? Quais foram suas principais influências?
VP: Quem nasce mulher, pobre, negra e de favela, sabe bem que o empoderamento é necessidade. Não podemos calar a voz que grita por liberdade e por condições melhores. Minha melhor influência foi e sempre será minha mãe. Minha guerreira.

FP: Em seu primeiro livro, você relata passagens muito íntimas. Foi difícil revisitar estas memórias?
VP: Sim, foi bem triste em alguns momentos, já que tinham histórias que não me lembrava há mais de 10 anos. Mas foi uma terapia. No final, valeu a pena.

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FP: Quais são, na sua opinião, as maiores limitações impostas pela sociedade brasileira a uma mulher? E de que maneira você acha que podemos mudar esta conjuntura?
VP: Não nos dar direito a voz. Essa é a maior na minha opinião. Por isso, gritem! Se façam escutar. A voz, muda o mundo.

FP: Além de usar sua arte de modo mais “macro” – passando mensagem para multidões -, como você tenta combater o machismo diário e empoderar outras mulheres a sua volta?
VP: Não deixando ninguém passar por cima de ninguém. Somos todos iguais. Direitos igualitários.

FP: Com tantas denúncias vindo à tona de violência contra a mulher, com tantas críticas ao movimento feminista, com um governo interino formado exclusivamente por homens que não representam a maioria da sociedade brasileira, como ter forças para “não desistir”?
VP: Não temos outro caminho. Desistir seria ser de acordo com a pena de morte, sem ter culpa nenhuma.

FP: Quais são suas principais influências femininas na música e na literatura?
VP: Maria Bethânia em ambos os temas. Amo, Bethânia.

*Fabiane Pereira é jornalista, pós graduada em “Formação do Escritor”, sócia da Valentina Comunicação — empresa voltada para criação, divulgação e produção de projetos musicais e literários — apresentadora, roteirista, produtora e programadora musical do programa de rádio Faro MPB, da Rádio MPB FM.