A começar pelo nome, a Galeria Paçoca, localizada em uma rua arborizada na Gávea, no Rio de Janeiro, tenta aproximar o contato das pessoas com todo tipo de artes visuais. O casal de artistas Smael Vagner e Luluta Alencar criou um espaço democrático e informal para exposições envolvendo arte urbana, contemporânea, naïf e fotografia. “A galeria Paçoca surgiu da necessidade de criar um espaço para artistas que ainda não foram descobertos pelo mercado, ou mesmo para aqueles que se recusam a fazer parte do mercado, mas nossas portas também estão abertas para quem tenha um projeto paralelo interessante”, contou Luluta diretora e curadora da galeria.
Nós do site HT visitamos ontem, dia 12 de dezembro, a abertura da sétima edição da tradicional exposição Coletivão. Nove artistas participam este ano e as obras ficam expostas até o dia 10 de fevereiro. Além dos sócios da galeria, Smael e Luluta, o artista André Bauduin mostra o seu atual trabalho de fotografia intitulado Flower Power. Marcelo Jou usou apenas papel e tinta na criação 3D da montagem exposta no Coletivão. A artista plástica Renata Richard participa com a obra Pandanus. Além de Mika Chermont, Márcio SWK, Roberto Cardim e o novato no coletivo de artistas, Gustavo Nogueira, que chegou direto de Nova York para o evento.
“Essa exposição já está no nosso calendário anual, repetimos todo final do ano na segunda semana de dezembro e trabalhamos com artistas que já fazem parte do time da galeria. Esse ano temos um artista novo, o Gustavo Nogueira. Buscamos sempre trazer alguém que ainda não expôs com a gente. E dessa vez, o tema foi livre”, disse Smael, um dos sócios da casa. O artista expõe mais uma obra da nova série Utopia ou Realidades Inventadas. Neste último trabalho, Smael gastou duas semanas para desenvolvê-lo e usou uma técnica mista de padronagem e grafite.
Outro expositor é o fotojornalista Gustavo Nogueira que atualmente reside em Nova York e foi lá onde a fotografia exposta foi tirada. A obra Trump fotografada no dia 21 de maio deste ano tem uma história curiosa e o artista contou um pouco sobre esse clique para o site HT. “Eu sei exatamente o dia, porque eu estava vindo de uma manifestação na Union Square. Era sobre um governador do Alabama apoiado pela Ku Klux Klan na década de 60 e que decidiu aplicar Lei marcial para impedir que as pessoas fossem às ruas para manifestar. Era uma movimentação para relembrar esse ato em 1961. Começou a chover e entrei no metrô e vi esse cara. Já tinha guardado todo o meu material, mas troquei a lente da câmera e fiz a foto desse negro lindo”, relatou Nogueira. O título da obra faz referência ao atual presidente dos Estados Unidos e também é o diminutivo em francês de trompete. “Cliquei pensando no contexto atual dos governantes e sofrendo por antecipação do que estaria por vir na política do Brasil. Quando eu olho para a foto eu sinto uma paz e um silêncio que diz muito”, completou. O fotojornalista tenta em todos os seus trabalhos unir arte e reflexão social. Ele já fez fotografia documental na Índia, Paquistão e Bangladesh.
A artista plástica Renata Richard interage com a natureza nas suas experimentações. Em Pandanus, exposta na Galeria da Paçoca, a artista fez uso de pigmentos naturais, que não agridem o ambiente, para colorir as raízes da árvore que dá nome à obra. “Eu costumo brincar que é como se eu estivesse colocando batom na árvore, colocando brincos e roupas coloridas. Eu pinto a natureza viva com o intuito de mostrar o que ela já é, por isso uso pigmentos que não ferem, embora visualmente seja impactante e cause uma reação nas pessoas. Uso coloral, açafrão, pimenta da Jamaica ou adubo”, contou. Há dez anos ela faz esse trabalho no Jardim Botânico, mas mudou a direção do parque e ela perdeu a autorização, então esta Pandanus foi encontrada no Parque da Cidade, também no Rio de Janeiro.
Richard coloriu uma espécie de saia vermelha e fez da planta uma escultura viva, depois ela fotografou o experimento. Tudo isso para provocar uma reflexão acerca da menor duração de vida das árvores no meio urbano comparado ao ambiente da floresta. Ao invés de viverem 200 anos o tempo de vida diminui para 40. “Para mim as árvores são mulheres e esta é uma bailarina. Eu fazia esse trabalho na floresta e agora estou em lugares ocupados humanamente para levantar uma questão sobre as árvores de rua. Quando elas estão no ambiente natural elas se conectam pelas raízes e se comunicam. Quando vemos uma árvore sozinha na cidade ela na verdade é como um menino de rua, pois tem a força da juventude, mas não tem a estrutura da família. Dentro da cidade a árvore vive o tempo da juventude”, disse Richard. As pessoas a interrompem, porque acham que a artista está agredindo o meio ambiente, mas na verdade ela está levantando esta questão.
A Galeria Paçoca é antes de tudo, segundo Luluta Alencar, um espaço alternativo para encontros informais em torno da arte, envolvendo também vinho e boa música, que na maioria das vezes tem o set list escolhido por ela. “Um espaço para troca de ideias e realização das mesmas e a comercialização das obras passa a ser secundária”, afirmou a artista visual que também é DJ. Enquanto não toca nas noites cariocas, ela produz suas obras de arte. A intitulada Quiet Night foi elaborada através de técnicas misturadas, envolvendo canetinha, colagens, muita tinta colorida e palavras. “É uma série de um momento mais livre da minha criação, antes eu era mais presa, mas esse ano meu traço está um pouco mais solto. Eu rendo mais à noite, esse quadro foi todo feito de madrugada”, completou a artista.
Vale a pena a visita à Galeria Paçoca, confira as obras na galeria:
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