Thalita Rebouças é um fenômeno. Amada pelos jovens, é a escritora brasileira que mais vende livros de seu segmento no país. Sorte? Carisma e talento. Ela, que contou diversas vezes que, em sua primeira Bienal do Livro, chegou a fazer polichinelos e brincar com quem passava por seu estande para chamar atenção, hoje não precisa de nenhum recurso especial para vender. Mesmo assim, faz questão de continuar a mesma Thalita do começo, sempre próxima de seus leitores. Para ela, o sucesso não tem uma fórmula específica. “A minha, pelo menos, é escrever sem julgar. Não quero passar lição de moral, quero fazer rir e pensar. Gosto quando me dizem que mudaram alguma opinião, que repensaram algo. Se você fala para o adolescente o que ele deve fazer, ele não faz”, disse ela, que, desde 2000 – quando lançou “Traição entre amigas”, já escreveu mais de 20 livros.
Influenciar jovens a gostar de ler vem com uma responsabilidade grande junto, mas ela prefere pensar nisso como um privilégio. “Me sinto muito feliz. Quando comecei a escrever não tinha ideia que iam gostar tanto dos meus livros. É uma honra”, declarou. A ideia de público-alvo que Thalita tinha em mente, no começo, eram jovens adultos. “Fiz ‘Traição entre amigas’ para os mais velhos, mas a galera de 13, 14 e 15 anos amou e começou a pedir mais. A reação dos adolescentes me causou espanto, mas me fez entender que tinha um nicho a ser explorado. Que bom que se identificavam com o que eu escrevia. Foram eles que me escolheram”, disse, emocionada. Se os adolescentes leem seus livros desde 2000, atualmente, ela interage com outros públicos que cresceram junto de sua obra. “É lindo ver quem se tornou adulto e ainda ama meus livros. Tenho leitores de 25 anos que ainda ficam na fila quatro horas para me ver”, contou. E eles não ficaram órfãos. Thalita planeja lançar, em 2016, um livro para os mais velhos. “No ano que vem, publico o ‘Adulto sem filtro e outras crônicas’ para esse público”, adiantou.
Não são só os mais velhos que vão ficar felizes no ano que vem. Thalita planeja alcançar também os pequenos e já tem o projeto de escrever um livro infantil narrado por seu cachorro, o Lindão, o cotton de tulear que é seu grande xodó. Enquanto isso, outras histórias já correm pela cabeça criativa da escritora. “Estou começando a escrever um livro que ainda não tem título. Quero falar sobre alunos excluídos”, contou. E o público não pára de crescer. Desde 2007, Thalita marca presença nas livrarias de Portugal, onde tem 8 publicações, e de alguns países na America Latina. “Ainda quero traduzir para outras línguas. Foi uma vontade minha começar por Portugal por conta do idioma. Acabei me apaixonando pelo país e amo ir até lá. Na América Latina, eu tenho dois livros, mas as meninas escrevem para mim direto. É um sonho realizado. Quero e espero publicar em mais países”, declarou. O sucesso com os adolescentes ao redor do mundo, para ela, tem explicação: “É uma fase igual para todo mundo. De conflito com os pais, interno, espinha, amor platônico. Tem coisas que não mudam, a adolescente que eu fui não é diferente da de hoje”, disse.
Para escrever, ela busca inspiração no cotidiano. “O bacana é misturar realidade com imaginação. Eu observo muito no dia a dia, na praia, no elevador. A vida real é minha grande fonte de inspiração”, entregou. Se Thalita busca estímulo no cotidiano, muita gente busca nela. Suas histórias já viraram séries, peças de teatro e até mangás japoneses. Em “As brasileiras”, da Rede Globo, viu seu “Fala sério, mãe” tomar vida na pele de Glória Pires e suas filhas Ana Pires e Antônia Morais. “Eu fiz uma participação e quando cheguei no estúdio e vi a casa delas montada, fiquei toda arrepiada. Tinha tanta gente trabalhando por uma ideia que saiu da minha cabeça e o que era fruto da solidão do meu escritório se tornou tão real. Glória viveu lindamente a Angela Cristina”, elogiou. A mesma história também foi contada nos palcos. “Fala sério, mãe” ficou em cartaz por várias temporadas em teatros do Rio de Janeiro. “Tudo por um popstar” também já virou espetáculo e, nesse ano, “Era uma vez minha primeira vez” ganha os palcos em uma adaptação divertida. “Adoro estar em vários veículos. Tem projetos que só dou uma palavra. Por enquanto, tenho sido agraciada por diretores e roteiristas que respeitam a essência do meu trabalho”, disse.
Thalita não se tornou uma personalidade à toa. Ela, que dedica seu tempo a interagir com os fãs nas redes sociais – é fácil encontrá-la em todas, adora a troca com o público. “Quando eu era adolescente não podia falar com o Pedro Bandeira, por exemplo. Só por carta. Hoje, todo mundo pode trocar ideia comigo por um clique. Eu adoro o contato, não só olho no olho. A história do escritor excluído está cada vez menor, com a internet. Os autores estão nas redes, frequentam feiras”, disse. Nas ruas, não são só os fãs que a abordam. “Muitos pais falam comigo. Às vezes gente que nem me conhece, mas gosta de mim pelo fato de eu fazer adolescente ler. É muito gostoso, as pessoas só dizem coisas boas, acho que sou querida”, declarou. Não temos dúvidas.
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