Ex-nadadora acusada de dopping nos Jogos Panamericanos Rio 2007 lança biografia contando a sua visão sobre os acontecimentos da época


No livro Virada Olímpica – a Carreira, a Queda e a Superação, Rebeca Gusmão fala sobre a depressão que teve após o acontecimento que culminou na tentativa de suicídio, em 2013

Rebeca foi acusada de dopping nos jogos panamericanos (Foto: Divulgação)

“Fui do poço ao topo”. Esta é a frase que a ex-nadadora profissional Rebeca Gusmão usa para definir sua vida. Isto porque a atleta sofreu momentos de altos e baixos durante a sua trajetória, que desde pequena foi dedicada ao esporte. Atualmente, trabalha como personal trainer incentivando as pessoas a se exercitarem para melhorar seu condicionamento físico, estímulos que há quatro anos ela não possuía. Nos Jogos Panamericanos Rio 2007, perdeu quatro medalhas conquistadas por ter sido acusada de dopping. Este momento foi só o início de uma fase turbulenta de sua vida que culminou na tentativa de suicídio em 2013. “A minha depressão não foi nem o fundo do poço, foi o pré-sal. Apesar disso, consegui ter forças para querer voltar a vida. Agradeço muito a Deus, aos meus pais, minha madrinha, minhas amigas e as minhas irmãs por estarem comigo. As pessoas se revezavam para ficar comigo para não me deixar sozinha, tentavam me levar para os lugares. Por um tempo não podia ficar só e tive a ajuda de grandes anjos na minha vida que fizeram de tudo para que eu superasse. O anjo final foi o pai do meu filho, que me mostrou que é possível eu ser alguém realizada”, afirmou Rebeca. A nadadora reuniu toda esta fantástica trajetória de vida nas páginas do livro Virada Olímpica – a Carreira, a Queda e a Superação.

O exemplar foi lançado no ano passado, duas semanas antes do pequeno Zeus nascer. Devido a celebração da chegada de seu primeiro filho, Rebeca Gusmão resolveu adiar a divulgação do livro. Na época, ela não deu entrevistas ou fez tardes de autógrafo. Isto fez com que poucas pessoas soubessem da existência da publicação. Um ano depois, ela resolveu seguir carreira com a biografia. “Ninguém sabia que eu tinha um livro publicado. Acho importante divulgar, porque muita gente quando está na depressão precisa de um conselho, uma palavra, em relação ao momento que está vivendo. As pessoas me mandam mensagem nas redes sociais pedindo ajuda e foi a forma que encontrei para explicar a eles como pedir ajuda”, afirmou a personal.

Atualmente, a atleta é personal trainer (Foto: Renata Ferraz)

No livro, Rebeca quis passar toda a angústia e sofrimento de uma pessoa que precisa lidar com a depressão. Ela contou com a ajuda de uma escritora que a ajudava a direcionar a história, através de perguntas que iniciavam a reflexão. Durante os momentos em que sentava na frente do computador do seu quarto ou escritório para escrever, a atleta se emocionava com as lembranças de seu passado. “Quando lembramos de um momento em que sofremos, estamos colocando o dedo em uma ferida. Mas acho que a vida foi feita para cicatrizar. Se a pessoa é guerreira e batalhadora, tem que aprender a lidar com isso para seguir em frente. Ao olhar para aquele passado, tem que lembrar que superou aquilo. Quando olho para trás, vejo o quanto me tornei uma pessoa forte. Não é qualquer um que enfrentaria tudo como fiz”, comemorou. Para ajudar na inspiração, Rebeca contava com a ajuda de uma taça de vinho.

Em 5 de novembro de 2007, a atleta recebeu o resultado positivo no teste para anabolizantes esteróides em amostras coletadas durante os jogos. A análise foi confirmada culminando na perda das quatro medalhas que ela alcançara assim como a retirada dos recordes sul-americanos que havia conquistado. “Senti que estava perdendo o meu chão. É complicado passar toda a sua vida trabalhando para aquele momento e a vitória ser tirada de você. Foi realmente muito difícil, ainda mais porque não entendia o que de fato estava acontecendo. Passei por tudo isso muito nova, então não tinha maturidade para saber o que estava acontecendo. Tive que, praticamente, enfrentar isso sozinha”, lamentou. A Federação Internacional de Natação a suspendeu por dois anos, em 2008, e mesmo tentando reverter a pena Rebeca não obteve sucesso. No ano seguinte, o Tribunal Arbitral do Esporte informou que a nadadora seria banida do esporte.

Em Virada Olímpica – a Carreira, a Queda e a Superação, a ex-nadadora fala sobre este processo de ter sido acusada de dopping. Na época, houve muitas críticas por conta desta acusação e mesmo assim ela não tem medo de ser julgada pelo público que for ler o livro. “Nós nunca seremos cem por cento aceitos por todos. Não quero mudar a cabeça de ninguém, quero apenas contar a minha versão da história. Quem acredita em mim continuará apostando. As pessoas que nunca acreditaram podem ou não mudar de ideia lendo o livro, mas nunca tive receio de receber críticas, elas não me abalam. Desde que comecei a minha carreira como nadadora, eu já escutava julgamentos de outras pessoas. Fui treinada para saber lidar com isso”, afirmou.

Apesar de estar longe das competições, no auge dos seus 33 anos, as olimpíadas continuam no DNA da ex-nadadora. Em homenagem a sua passagem pelas Olimpíadas de Atenas 2004, Rebeca batizou o seu filho de Zeus, o Deus do Olimpo, de acordo com a mitologia grega. Segundo ela, o pequeno de apenas 1 ano é a principal razão que a faz se considerar uma mulher realizada. “Ser mãe é uma coisa louca porque abrimos mão de tudo pela criança. Não sei mais o que é pintar a unha, ir ao salão ou comprar uma roupa sem antes dar tudo o que preciso para o meu filho. Antes de fazer as coisas para mim, tenho que ter roupa, fralda e assessórios para ele. O Zeus está em primeiro lugar na minha vida. Sou uma pessoa mais sensível, mais solidaria e com mais amor pelo próximo”, afirmou.

Rebeca afirmou que se sente uma pessoa realizada, principalmente após a chegada de Zeus (Foto: Renata Ferraz)

Mesmo tendo muitas tristezas envolvendo a natação, Rebeca afirmou que se surgisse a proposta para se tornar técnica, ela provavelmente aceitaria. No entanto, devido a maternidade, a personal trainer desistiria desta possibilidade. “A vida dá muitas reviravoltas. Se surgisse uma oportunidade eu toparia, com certeza. Mas agora a minha prioridade é o Zeus e ser técnica demanda muito esforço, finais de semana e viagens. Uma disponibilidade que agora não tenho”, confirmou.