Erika Januza: “Entendo que o preconceito pode acontecer em qualquer lugar e eu não o deixo passar. Racismo é crime”


A atriz, que terminou de gravar em dezembro a novela “Amor de Mãe”, que deve voltar à grade da Globo ainda em 2021″, é capa e recheio da revista POP-SE em uma edição que fala sobre antirracismo e anti misoginia. Erika amplia a voz na luta por igualdade de direitos e contra a discriminação

“Já fui aquela que se calava diante do preconceito. E eu entendo quem se cala. É um tipo de violência que a gente não está preparada. Ele acontece do nada e só por causa da cor da sua pele. Hoje entendo que o preconceito pode acontecer em qualquer lugar e eu não o deixo passar. Se for preciso, vou para a Justiça. Racismo é crime! E temos a lei para nos defender. Não me calo diante de racistas” A frase contundente é de Erika Januza, 35 anos, e, como sempre frisamos aqui no site, referência de talento e empoderamento de sua geração ao construir uma linda carreira como atriz, lidando com o racismo estrutural existente em nosso país. Pois vocês estão vendo em primeira mão estas fotos incríveis que são capa e recheio da POP-SE, revista com cara, atitude e conteúdo de livro, idealizada pelos jornalistas Allex Colontonio e André Rodrigues e que lá no primeiro número eternizou uma frase do integrante da Academia Brasileira de Letras Ignácio de Loyola Brandão: “Papel pode ser fetiche: você compra pelo cheiro, e há papeis que, misturados às tintas, são fascinantes, chegam a ser sensuais”.

A quinta edição da revista se junta a tantas vozes no Brasil e no mundo pelo antirracismo e a anti misoginia. Erika protagoniza um ensaio surrealista pelas lentes do fotógrafo Victor Affaro. Quando a pandemia chegou, a atriz gravava ‘Amor de Mãe’ como a batalhadora tenista Marina, que para seguir seu sonho se dividia entre o trabalho em um bar e as quadras. A novela foi interrompida em março para evitar a contaminação da Covid-19 e completou um ano da sua estreia em dezembro passado. A volta às telas, em princípio, está programada para esse 2021. E a atriz estará também na segunda temporada da série “Anjo Renegado“.

"Hoje entendo que o preconceito pode acontecer em qualquer lugar e eu não o deixo passar" (Foto: Victor Affaro)

“Hoje entendo que o preconceito pode acontecer em qualquer lugar e eu não o deixo passar” (Foto: Victor Affaro)

A entrevista para a POP-SE tem uma pergunta que faço questão de reproduzir aqui: “Sua importância como mulher negra que influencia e serve de exemplo para outras é absolutamente incontestável. Você considera a sua imagem como, de fato, um ato político efetivo no combate às práticas racistas? De que maneira você faz uso ativo desta imagem para expressar suas ideias? O entendimento da sua imagem como ícone/símbolo sócio-político-comportamental para uma nova geração é um fardo muito pesado?”. E vamos à resposta de Erika: “Entendi que muitas meninas negras veem em mim a possibilidade de se inspirarem e acreditarem que podem ter um futuro melhor. E é isso o que eu quero incentivar. Quero que elas sonhem e acreditem que podem ter o que desejam. Com muita luta e foco mas é possível sim. Como mulher negra, a minha luta é manter as portas abertas para todas as outras que virão. Assim como fizeram no passado. Se hoje estou aqui é porque existiu uma Ruth de Souza, é porque existe uma Zezé Motta e eu quero preservar essa porta que elas abriram. Eu mostro com meu discurso e posicionamento que nós podemos desejar e querer uma vida melhor. Que merecemos respeito e as mesmas oportunidades iguais. Não vejo como um fardo porque essa é uma luta que vem desde o dia que nasci. Ela me acompanha desde então”.

Sobre a POP-SE, o publisher Allex Colontonio nos contou que ele e André Rodrigues juntaram “todos os saberes como grande amálgama para fazer um produto com aspecto um pouco mais pop, não no sentido de popularesco, e sim mais próximo do sentido da abrangência”. Com volume e acabamento de livro de arte, em sua quinta edição, a revista mais uma vez se posiciona como um manifesto de seu tempo materializado em forma de almanaque, com grande força na construção de imagens e textos mais profundos, intensos. Entre os conteúdos mais destacáveis, um grande dossiê mapeia 100 arquitetos negros que estão driblando as adversidades para conquistar seu espaço.

É permeada pela responsabilidade ambiental também: “Nosso papel é reciclado, todas as etapas da construção da revista são sustentáveis e certificadas, mas mesmo assim investir tanto em um meio impresso que causa um impacto ao meio ambiente, por mais que façamos de forma sustentável, só se justifica se realmente trouxermos um diferencial. Nós optamos por uma qualidade autoral e as matérias são mais vividas, humanizadas, em que tudo é produzido por nós, mesmo as matérias que vêm de fora têm uma interferência forte de nossa parte, seja através de um recorte ou de uma experiência sobre aquele assunto. Não se trata de um diário, porque o foco não é a nossa vida, mas sim dos nossos personagens. É isso que abordamos, com força, garra, cuidado e recorte. Quanto a posicionamento, nós assumimos algumas questões polêmicas que as grandes corporações não conseguem porque existem muitos interesses envolvidos”, pontua Allex.