‘É muito difícil, mas eu torno público o meu gosto por viver do sonho’, conta o poeta Allan Dias Castro


Dupla Reverb, formada também pelo músico Tiago Corrêa, faz apresentação única de show em que mistura poesia e música de forma original e alto-astral nesta quinta (dia 1º), no Solar de Botafogo. “Poesia é uma forma de diálogo que, de alguma forma, atinge o coração das pessoas. E, se todo mundo está com pressa e descrente nesses dias difíceis, nós vamos facilitar o acesso às mensagens e lembrar que vai ficar tudo bem”, diz Allan, que levou poesias para o Youtube e hoje são mais de 90 milhões de visualizações

Allan Dias Castro e Tiago Corrêa formam o Reverb e se apresentam no Solar de Botafogo, dia 1º de agosto

*Por Jeff Lessa

Allan Dias Castro e Tiago Corrêa se conheceram em Porto Alegre em 2006. Allan é poeta. Tiago é cantor e produtor musical. Estava formada a base para uma amizade e uma parceria com mais de uma década – e que deu origem ao projeto Reverb, dedicado a valorizar a poesia e a desmistificar a ideia de que este tipo de literatura é “difícil” em tempos de internet full time. Juntos, Allan e Tiago escreveram um livro (“Reverb – Poesia e Música. Música e Poesia”) que foi transformado em show e levado para a internet. É esse show que chega agora ao Rio, em única apresentação nesta quinta-feira (1º de agosto), às 21h, no Solar de Botafogo.

No palco, Allan declama enquanto Tiago canta. Suas letras e canções levam mensagens de bem-estar aos ouvintes, questionando sempre se “o que você faz para viver é aquilo que faz com que você se sinta vivo”.  Temas como medo, sonho e perdão são abordados sempre mirando a evolução pessoal. “O Reverb veio do impulso de focar no autoral e de valorizar a poesia”, conta o poeta Allan Dias Castro, gaúcho de Porto Alegre, de 37 anos. “Para mim foi um processo de sair de trás da caneta e ir para cima do palco”.

Não espere, porém, ouvir uma história de sucesso instantâneo com final feliz imediato. Nã-nã: Allan conta que a trajetória que o levou do conforto do anonimato à exposição pública de seu corpo, sua voz, seus pensamentos, gestos e palavras foi muito difícil e nada tranquila. “O Reverb é o que eu gostaria de ser. Procurei um fonoaudiólogo para me descobrir. Tinha sempre alguém fazendo um comentário do tipo ‘Por que você não fala para fora?’. O que é ‘falar para fora’? Precisei crescer muito, uma vez que sou extremamente tímido. Mas não deixaria jamais de fazer o que gosto por timidez”, revela o poeta, acrescentando que essa coragem foi muito incentivada pelo amigo Tiago.

O começo dessa libertação veio com a série de vídeos “Voz ao Verbo”, na qual o artista fala seus poemas no YouTube. Sucesso total e já são mais de 90 milhões de visualizações. “Eu só falo. Aos poucos, fui quebrando barreiras internas, me expondo a críticas e elogios. Me expor foi um alívio. É muito difícil, mas eu torno público o meu gosto por viver do sonho”, explica. “No começo eu nem conseguia ver os vídeos, ficava muito incomodado. Depois, pensei: ‘Se me incomoda é porque tem alguma sinceridade. É sincero’. E relaxei”. Os vídeos deram origem ao livro “Voz ao Verbo – Poemas para Calar o Medo”, lançado em maio deste ano pela editora Sextante, com prefácio da conterrânea Marta Medeiros.  Tiago mora há oito anos em São Paulo. Ele tem ganhado destaque pela criatividade e inovação em seu trabalho e já fez parte de grandes eventos das marcas Google, Globo, Spotify, Facebook e Samsung e também se apresentou em festivais como o Brazilian Day Canadá e o Festival de Verão de Salvador. Ganhador de prêmios internacionais – com artistas como John Legend e Lily Allen -, no Brasil, já dividiu o palco com Luan Santana e Anitta.

A timidez em excesso também levou Allan a procurar o teatro como meio de “cura”, há 15 anos. “Com a fono, eu resolvi o problema da ‘batata na boca’ (risos). Tinha questões com a minha voz, com o sotaque gaúcho. Mas não deixo de falar como falo. Em Porto Alegre, acham que falo como carioca. Aqui no Rio, identificam imediatamente o gaúcho”, revela, divertido. “No teatro, eu busquei controlar a timidez. O professor dizia: ‘Fala o menos possível’, mas é como eu disse, nunca deixaria de fazer o que quero por conta de timidez”. E fez muitíssimo bem.

Morando no Rio de Janeiro há dez anos, Allan ingressou assim que chegou no curso de teatro da CAL: “Eu já tinha 26 anos. Estudava lá às quartas-feiras à tarde. Na minha turma éramos eu, o professor e dois adolescentes (risos). Recomendo muito. Procurei a escola em busca de autoconhecimento e deu certo”. Ele se diz apaixonado pela cidade, e que sua ligação com o mar é das coisas que mais o prendem aqui. “O Rio é a minha casa. Vim para passar um mês e estou aqui há dez anos. Funcionou muito vir para cá. Sei que a cidade tem problemas, claro, mais ainda me emociono mais positivamente do que sinto qualquer negatividade que me levaria a me mudar daqui”, elogia.

Sobre a cidade natal da dupla do Reverb, Porto Alegre, as perspectivas não são das mais animadoras, infelizmente. “A cena artística lá está bastante complicada. Temos muitos personagens interessantes na música e na literatura, mas o mercado é limitado. Se o artista quiser falar para mais gente, tem de ir para São Paulo ou vir para o Rio”, lamenta.

O show de quinta-feira, no Solar de Botafogo, gera as melhores expectativas possíveis: “O clima do teatro tem tudo a ver com o Reverb. É um local sagrado, não é? Tem a nossa cara. Já fizemos um show aqui, num lugar menor, no Centro. Lotamos com 60 pessoas e foi sensacional. Mas agora vamos encarar um teatro pelo qual tenho muito carinho. Vai dar tudo certo”, diz Allan.

Alguém duvida?

SERVIÇO

Reverb Poesia e Música

Solar de Botafogo: Rua General Polidoro 180, Botafogo – 2543-5411

Quinta-feira (1º de agosto), às 21h

R$ 50, R$ 25 (meia-entrada) e R$ 30 mais 1Kg de alimento não-perecível (Ingresso Solidário)

Veja o clipe da canção “O que é Pior?”, do Reverb

Veja aqui a apresentação do livro “Voz ao Verbo – Poemas para Calar o Medo”, de Allan Dias Castro

Prefácio de Martha Medeiros para o livro “Voz ao Verbo – Poemas para Calar o Medo”, de Allan Dias Castro

“Estava no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, quando um garoto bonito, de traços fortes e fala doce, se apresentou como meu conterrâneo, escritor também. Seu nome era Allan. Ele me entregou um livro de sua autoria, trocamos algumas palavras e rapidamente nos despedimos. Li seu livro durante o voo de retorno para Porto Alegre e gostei: tinha algo genuíno ali. Mas, assim que desembarquei, a rotina me engoliu – e com ela o esquecimento.

Passaram-se meses – anos? – quando, pesquisando as redes sociais, deparei com aquele mesmo garoto, agora mais encorpado e seguro, falando seus textos de forma pausada, olho no olho, com uma serenidade perturbadora.

Quantas pessoas gostariam de escrever livros, transmitir seu recado, ter um canal? Allan era apenas mais um sonhador e por pouco não se desviou de seu destino, mas corrigiu a rota a tempo. Era pra ser e foi. Profissão: poeta. “A gente só nasce inadequado para aquilo que não nasceu.” Determinação. Não é que funciona?

Seus vídeos têm hoje mais de um milhão de visualizações, chovem convites para participações em eventos culturais e, agora, ele lança este novo livro, que é uma espécie de making of de uma trajetória errante que terminou bem.

Além de publicar seus belos poemas, Allan Dias Castro revela aqui o caminho que trilhou até chegar à sua literatura de autodescoberta, abre sua intimidade para que a gente entenda como alcançou a contundência de suas escolhas e discorre sobre angústia e solidão, dois alicerces da alma humana que foram compensados com o que veio depois: o encontro consigo mesmo – e o nosso com seus versos.”

MARTHA MEDEIROS