Claudia Liz é um ícone na história da moda brasileira. Top model nos anos 80 e 90, com direito a desfilar para marcas como Chanel, Gianfranco Ferré, Comme des Garçons e Yohji Yamamoto, ser musa de Ocimar Versolato e capa da edição de aniversário da “Playboy” e da “Vogue” – as mais nobres do ano -, ela viajou o mundo, viu e viveu muita coisa, circulou pelos melhores salões, pelas festas mais badaladas e se transformou em uma das maiores modelos do mundo. Ela foi, aos poucos, deixando as passarelas de lado, se arriscou como atriz – com atuações elogiadas no cinema, como em “As Meninas“, ao lado de Adriana Esteves e Drica Moraes -, até encontrar o seu lugar e refazer sua trajetória. Sem cobranças internas ou externas, sem rótulos ou necessidade de se encaixar em qualquer padrão, Claudia, hoje, aos 47 anos, é ilustradora – ela faz parte do time da “Folha de S. Paulo” e da agência MissLily Comunicação – artista plástica consagrada, mãe do diretor de arte e DJ Lucca Salvatore e autora de dois livros: “O Caminho da Passarela”, de 2005, e “Colorindo o Mundo Fashion“, de 2015.
“Me sinto muito confortável. Foi escolha minha a vida que levo hoje. Estou próxima da minha essência, e com a maturidade isso é muito importante. Vivi e tive experiências maravilhosas, mas hoje me sinto muito bem onde estou. A juventude nos permite experimentar coisas, testar, ousar e tudo que vivi naquele tempo era o tempo certo para isso. Hoje posso dizer que fiz a escolha certa e por conta disso estou tranquila comigo mesma”, contou Claudia, em entrevista exclusiva ao Site HT. O papo completo, aliás, onde ela fala sobre moda, o tempo, sua arte e outras tantas coisas você pode ler aqui embaixo.
HT: Como você se descobriu ilustradora? E como chegou até aqui?
CL: Existem dois momentos que fizeram com que o hobby virasse profissão. Um como ilustradora, e outro como pintora. Quando era modelo, desenhava nas horas vagas e durante as viagens internacionais. Tinha um ateliêr em casa, mas era apenas passatempo. Em 1997, virou profissão por um período – participei de um atelier em São Paulo , que era um misto de atelier e galeria. Meus quadros ficaram expostos e tiveram uma venda significativa. Depois tive que dar uma parada em função de alguns trabalhos que fiz para a TV. Aí foi só em 2006, quando abri a MissLily Comunicação, um escritório de design gráfico e comunicação visual, que além de sócia atuava como diretora de criação. Há pouco mais de 2 anos o jornal ‘Folha de S. Paulo’ me convidou para ilustrar a coluna ‘Tendências e Debates’ de domingo, onde sou colaboradora até hoje. Nesse período eu já estava me dedicando à pintura, e foi quando resolvi deixar meu cargo de diretora, (continuo como sócia) para me dedicar integralmente ao meu trabalho com arte. Ah, e também colaboro como ilustradora no jornal recém lançado “Papermen”, além de pintar portraits sob encomenda e fazer ilustrações para marcas.
HT: De que forma seu trabalho mexe com a sua vida e com a das outras pessoas?
CL: Eu tenho dois tipos de atuação: as ilustrações e os portraits. Trabalho muito ilustrando textos sobre política. Como são textos muito sérios, acredito que meu trabalho traga uma certa leveza. Os portraits são quase um “namoro” com a pessoa retratada. Preciso entendê-la, captar sua personalidade, e na maioria das vezes eu mesmo fotografo a pessoa para poder retratá- la. Isso faz com que eu acabe desenvolvendo uma relação com essa pessoa. Toda relação tem troca emocional e são relações que nao há necessidade de máscaras .
HT: Como é viver de arte no Brasil?
CL: Meu trabalho é bastante específico. Trabalho sob encomenda tanto com os portraits, como com as ilustrações. Tenho sorte de sempre estar trabalhando e produzindo. Mas, com certeza, em tempos de crise, arte é uma das primeiras coisas que as pessoas cortam.
HT: Como define a sua arte?
CL: As ilustrações acho que tem um pouco de humor, uso braços e pernas longas e muitas cores. Nos portraits a característica maior são os olhos grandes, com os quais tento realçar a personalidade das pessoas.
HT: E como se definiria?
CL: Pergunta difícil…(Risos) Sou muito profissional. Sou boa amiga, caseira até demais, mas me sinto bem com a vida que tenho. Amo e sou amada!
HT: Sucesso, fama, carreira internacional. Você se deslumbrou em algum momento?
CL: Ter o trabalho reconhecido é muito gratificante, mas eu era muito jovem para me deslumbrar. Ainda tinha um longo caminho a percorrer. Quem se deslumbra, é porque está seguro demais, e esse não era o meu caso. Nunca tive uma vaidade extrema com meu corpo e a minha beleza. Como toda jovem modelo, achava que precisava melhorar mais e mais, mas fui considerada uma modelo com muita atitude, tanto em frente às câmeras, quanto na passarela.
HT: Qual a diferença da Claudia dos anos 90 para a Claudia de hoje?
CL: Hoje sou a Claudia dos anos 90 amadurecida, que fez novas escolhas e que prefere uma vida reservada. Tenho uma rotina de trabalho normal, sou casada há 12 anos (com o ex-piloto e restaurateur Beto Giorgi), viajo quando quero e faço minha própria agenda e meus horários.
HT: Voce ainda acompanha o universo da moda? O que acha do caminho que a moda tomou?
CL: Nao sei como anda a moda como negócio hoje em dia , mas gosto do que vejo. Gosto das imagens de moda .
HT: O que te faz levantar da cama feliz hoje em dia?
CL: Saber que eu tenho sempre algo para produzir. Tenho trabalho, amor, amigos, saúde, um filho que está bem e fazendo a vida dele de uma maneira legal. Que a noite estarei com meu marido para um jantar agradável, e de poder conversar sobre o nosso dia. Sinto-me feliz com as coisas simples da vida!
HT: Quem ou o que você gostaria de ilustrar que ainda não rolou?
CL: No jornal, espero receber um texto para ilustrar sobre o fim da corrupção no Brasil.
HT: Quais seus artistas da sua área de atuação favoritos?
CL: Difícil citar apenas alguns. Gosto muito dos fauvistas como Matisse e dos contemporâneos de Elizabeth Peyton e Ana Elisa Egreja. Mas existem muitos outros que admiro. A lista é enorme .
Para conhecer mais o trabalho de Claudia, tem o site dela (clique aqui) e seu Instagram (@claudializlily)
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