Bem disse Caetano Veloso em seu livro “Verdade Tropical”: “Guilherme Araújo foi um co-idealizador do movimento [tropicalista]”. A creditação conferida por Caê é apenas um fragmento de tudo o que Guilherme, falecido aos 70 anos em 2007 vítima de complicações causadas por diabetes e hipertensão, representou para a propagação da música brasileira e da profusão noturna carioca. Uma espécie de marketeiro, bem antes do termo virar hype na seara política, Guilherme empresariou Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e o próprio Caetano. Fez Gal deixar de ser hippie, deixou Bethânia no mainstream, acompanhou a dupla tropicalista no exílio em Londres durante a ditadura, e cuidou de toda “a cara” e o comportamento tropicalista. Quando o assunto é badalo, a história vai além: ele foi a mente pensante por trás do Gala Gay, do Sugar Loaf Carnival Ball e do Jeca Chic. História para dar e vender que motivam uma ode a Guilherme por meio da exposição “Nunca fui santa”, em cartaz até janeiro de 2016 na espaço que leva seu nome em Ipanema, no Rio de Janeiro.
O Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, na rua Redentor, ocupa o mesmo endereço onde o produtor, roteirista de shows e empresário residiu pelo menos nos seus últimos 20 anos de vida. O endereço, logicamente por isso, guarda um perfume cultural por ter sido um dos perímetros badalados da cidade. O resgate dessa memória se dá agora por lá, como um pontapé na programação cultural, pela visão da fotógrafa Thereza Eugênia, curadora da exposição que reúne 60 fotos clicadas pela própria. Nos negativos? Encontros realizados durante 40 anos que vão do diabo louro Rod Stewart ao Papa João Paulo II, às produções que Guilherme assinou. Isso sem contar com esculturas de pênis mil e cartazes do relacionamento dele com a “fauna e flora carioca” em seus bailes – numa época em que Carnaval na Marquês de Sapucaí era sonho.
Thereza, grande amiga do produtor, também fez questão de compilar mais de 100 fotos num vídeo em looping. “Ele era um apaixonado por fotografia, fazia questão que tudo sempre ficasse registrado. Então eu fui a selfie de Guilherme quando tudo ainda era feito manualmente, sem as facilidades das máquinas inteligentes de hoje”, lembra a curadoria. O discurso tem tanta razão que ele ficou conhecido por um bordão sempre que encontrava um conhecido – em sua grande maioria gente importante da high society – ou estabelecia um novo contato nos badalos que iam do Leme ao Pontal: “Meu querido!!!”, gritava Guilherme ao partir para o abraço. Além desse, não era difícil ouvir um “nunca fui santa!!!” em seus rasantes por aí – o que acabou por batizar a exposição.
O Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, que foi deixado para o Governo do Estado do Rio de Janeiro e para Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro, deve passar a receber cada vez mais saraus, lançamentos de livros, discos, outras pequenas exposições e cursos . Fomento mais que justo, para, ainda como Caetano Veloso descreveu, um homem que era “um personagem fascinante, prognata, de braços finos e ombros estreitos, (…) que terminava por cativar quem quer que transpusesse a barreira do primeiro impacto e realmente dele se aproximasse”.
Serviço
Exposição – “Nunca Fui Santa”, Guilherme Araújo
Gabinete de Leitura Guilherme Araújo
Rua Redentor, 157, Ipanema
De segunda à sexta, das 11h às 18h, grátis
Classificação livre
A exposição fica em cartaz até janeiro de 2016
Tel infos: 21-2523-0676
Artigos relacionados