*Por Simone Gondim
O isolamento social, uma das medidas adotadas para tentar conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, vem mexendo com a cabeça das pessoas. Com o passar dos dias, muita gente desenvolve sintomas de ansiedade e há quem evolua para um quadro depressivo, causado pelo estresse do confinamento. Além disso, psicólogos e psiquiatras alertam que o medo de contrair Covid-19 pode levar à fobia social e ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Para ajudar a lidar com essas questões, a psicóloga em formação Bárbara Catelli desenvolveu “O guia do introvertido para sobrevivência na quarentena”, um manual colaborativo e ilustrado disponível online. “Antes de entrarmos em quarentena, eu já acompanhava a situação nos Estados Unidos e em países da Europa. Quando chegou ao Brasil a possibilidade de que o isolamento fosse acontecer aqui, também, comecei a ver as pessoas ficando muito nervosas e ansiosas”, lembra ela.
Preocupada com a reação dos brasileiros em meio à pandemia, Bárbara decidiu escrever em forma de guia algumas dicas para preservar a sanidade física e mental enquanto durar a quarentena. “O nome foi inspirado no livro ‘O guia do mochileiro das galáxias’. Sou o tipo de pessoa que prefere ficar em casa a maior parte do tempo, então deixar de sair não era uma questão tão delicada. Ao mesmo tempo, sofro de ansiedade. Inicialmente, escrevi o texto para mim, de forma que eu pudesse organizar meus pensamentos”, conta a autora. “Fiz uma lista com vários recursos pesquisados em diferentes lugares, para que as pessoas tivessem a chance de tentar passar pelo isolamento da melhor forma possível”, acrescenta.
Para ajudá-la com o guia, Bárbara convidou 14 mulheres com linguagens artísticas diversificadas: Luiza Scarpa, Laura Loyola, Márcia Monteiro, Jane Herkenhoff, Paula Villar, Karenina Marzulo, Júlia Gonçalves, Tainá Alvim, Biju Belinky, Rafaela Líbano, Dany Lopes, Julia Barcha, Lívia Santos e Isabela Fonseca. “Pensei que ficaria muito legal se o formato do guia fosse um livrinho em PDF, com várias ilustrações. Vi que eram 15 partes ao todo, então precisaria de artistas diferentes para cada uma delas. Acabei fazendo uma das ilustrações e chamei 14 mulheres para criarem as outras”, explica a autora.
O material foi produzido em parceria com o coletivo Do Feminino na Arte, que se define como uma iniciativa independente para mulheres artistas. A edição é assinada por Biju Belinky e Rafaela Líbano. Para Karenina Marzulo, que lidera o coletivo Do Feminino na Arte, já é possível tirar várias lições da pandemia. “Nós nos vimos em meio à ganância em um momento que requer maior conscientização e fraternidade. A natureza grita desesperada! É preciso rever nossa relação com o meio ambiente de forma urgente e efetiva. Promovam a mudança em seus núcleos para que ela possa se expandir como uma corrente”, diz Karenina.
Paula Villar, que também faz parte do time das ilustradoras, considera o coronavírus um paradoxo. “Temos a necessidade de nos distanciar, mas ao mesmo tempo o mundo se une para combater o vírus. A analogia da flor de Lótus faz todo o sentido nesse momento: essa específica flor nasce na lama. É nesse momento caótico que vemos a solidariedade. Meditem, leiam, escrevam, comuniquem-se e rezem, seja lá qual for sua crença. Todo sofrimento tem data e hora para terminar”, acredita.
O guia é dividido em duas partes: sobreviver e prosperar. Na primeira, dicas para se exercitar, tendo cuidado para não exagerar na dose e acabar se machucando; cuidados com a saúde mental, como evitar o excesso de informações e separar um tempo para botar em prática técnicas de respiração que levam ao relaxamento; criar uma rotina, evitando passar o dia de pijama; procurar manter uma alimentação saudável; e cuidar da higiene pessoal, não apenas lavando as mãos, mas tomando banho, escovando os dentes todos os dias, lavando roupas e limpando a casa.
Já a segunda parte é mais focada em atividades para ocupar o tempo durante a quarentena. Desenvolver novas habilidades fazendo cursos gratuitos pela internet; aprender a preparar receitas diferentes; retomar passatempos da infância e da adolescência; botar a leitura em dia; assistir a filmes clássicos e icônicos; adiantar os estudos; jogar alguma coisa, seja de tabuleiro, baralho ou videogame; criar conteúdo, como listas, podcasts, memes ou mesmo material educativo; e dar aquela caprichada na organização e limpeza da casa, mexendo em todos os cantinhos que sempre ficavam para depois.
Para Luiza Scarpa, estudante de psicologia e artista plástica, é natural que os leitores do guia foquem nas tarefas com as quais se sentem mais confortáveis. “Consegui seguir o guia à risca, embora acabe tendo mais interesse em fazer mais umas coisas do que outras. Como tenho preguiça de cozinhar, criar receitas é algo que faço pouco, por exemplo. Já arrumar a casa, ver filmes e entrar em contato com os amigos, mesmo que virtualmente, eu adoro”, revela.
Bárbara ressalta que muitas pessoas estão se sentindo mal com o isolamento, mas não chega a ser o caso dela. “Tenho dias melhores e dias piores. Há momentos em que não consigo fazer nada, outros em que estou superprodutiva. Em algumas ocasiões, penso que nada é real, porque o tempo não faz mais diferença, todos os dias da semana são iguais”, confessa.
Outro problema levantado por Bárbara é a questão da violência contra mulheres e crianças, que vem aumentando durante a pandemia. “A violência doméstica é uma parte terrível disso tudo. Aquele pai ou marido abusivo que, antes, saía para o trabalho, agora está em casa o dia todo e é meio que uma bomba-relógio”, lamenta.
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