Conto de fadas moderno evita clichês e busca não infantilizar a leitura para crianças


‘Miranda Metratone: Divorciada em Tétris’, de Renata Vazquez, será lançado nesta quarta (17), na Travessa do Barra Shopping

*Por Jeff Lessa

“Fada balzaquiana se divorcia de mago mau caráter e vai viver em outro reino, onde se apaixona por gnomo, mas ainda sente desejo de se vingar do ex-marido, que tenta difamá-la.” Você ousaria dizer que essa curta sinopse é o resumo de um conto de fadas? Nem eu. Mas estaríamos errados, leitor. Essa é, de forma extremamente resumida, parte da história contada em “Miranda Metratone: Divorciada em Tétris”, o mais novo livro da escritora Renata Vazquez, que será lançado nesta quarta-feira (17), na Livraria da Travessa do BarraShopping, às 18 horas.

 

Renata Vazquez lança ‘Miranda Metratone – Divorciada em Tétris’ na quarta-feira (17), na Travessa do Barra Shopping

Carioca formada em Direito, com mestrado em Jornalismo pela Universidade de Barcelona e a Columbia University, Renata deixou para trás sua escrita habitual (este é seu quarto livro) para criar universos mágicos dentro do conceito de literatura fantástica.

– É um livro híbrido, agrada a crianças e adultos. Um menino de dez anos vai gostar, assim como uma pessoa de 30 – conta. – Foi muito difícil chegar a esse consenso editorial em que o adulto entende certas passagens de uma forma e a criança compreende de outra sem prejuízo para a história.

A capa do livro é no estilo antigo, para não infantilizar os leitores crianças, e traz uma Triquetra Celta estilizada com um coração

Renata buscou evitar todos os clichês dos contos tradicionais. Segue aqui a sinopse, digamos, mais legítima da história: Miranda Metratone é uma fada de 30 anos. Ela se divorcia do mago Crucius porque acredita que ele esteja vendendo pó de fadas ilegalmente. Poderosa, muda-se sozinha para o Reino de Tétris, onde se apaixona pelo gnomo Gus, produtor de uma marmelada azul que permite ler a mente de qualquer pessoa ao ser ingerida. Apaixonada e com vontade de se vingar de Crucius, ela penetra em um universo lúdico onde se depara com um menino precoce de seis anos, uma serpente albina feiticeira e atriz e um mico que acredita ser detetive.

Dá para ver que não tem clichê aqui. Fada de 30 anos… divórcio… paixão por gnomo… Enfim, o drible nos clichês foi dado. Mas a principal preocupação de Renata foi com a não-infantilização do leitor criança.

– Hoje as crianças já sabem mais do mundo adulto. Não queria tratá-las como ignorantes, elas sabem o que está se passando. No livro dou uma zoada na Cinderela, por exemplo. É um humor que se poderia chamar de politicamente incorreto – observa. – O menino de seis anos é um personagem importante. Eu quis mostrar que muitos pais, ao se separarem, falam mal uns dos outros. Os filhos de pais separados ganharam representatividade.

A escritora saiu de sua zona de conforto para criar uma história fantástica que agradasse adultos e crianças

Mantendo-se fiel à ideia de não infantilizar a história, Renata optou pela total ausência de ilustrações:

– Ilustrar já definiria uma faixa etária, justamente o que eu não queria. É um romance, com capa de livro antigo, inclusive.

Apesar de conter diversos elementos contemporâneos, “Miranda Metratone…” mantém arquétipos da magia tradicional – ou não seria um conto de fadas. Na capa, inclusive, encontra-se a Triquetra Celta, símbolo pagão adotado pelos cristãos para significar trindade e eternidade, pois sua composição se assemelha a três peixes (o peixe é um dos símbolos mais antigos do cristianismo). Os primeiros cristãos usaram a Triquetra como símbolo secreto na tentativa de se defender das perseguições que sofriam.

Renata conta que a autora do prefácio, a amiga e assistente de direção do humorístico “Zorra”, da TV Globo, Alice Demier, ficou tão encantada com o que chamou de “viagem com seres míticos” que sugeriu transformar a história em filme.

– Com certeza aumentaria o alcance do livro. Eu adoraria e correria atrás dessa ideia. Poderia ser um musical, talvez. Tem um humor ali que eu nem sabia que tinha – surpreende-se Renata.

A ideia de filmar a história nos leva à comparação quase óbvia com a saga de Harry Potter. O que Renata acha disso?

– Olha, a única comparação possível é com o público, que é formado por adultos e crianças. Fora isso, as aventuras não têm nada a ver uma com a outra!

Perguntamos se a escritora pensa em repetir a experiência de fazer um livro para adultos e crianças ao mesmo tempo:

– Penso, mas não será o meu próximo trabalho. Tenho muito carinho por esse público, penso em repetir a experiência um dia. Também pode ser uma continuação, quem sabe? Às vezes, o processo criativo não se encerra na entrega do livro. E o final deixa algo no ar…