Conheça o artista cearense Militão Queiroz, que viralizou Brasil afora com sua arte #EleNão


Morador de Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, ele é designer por devoção e estudante de Letras, com foco em inglês, por vocação. Gay e defensor das causas LGBT, o artista confessou ter medo de retaliações: “Tenho receio que algum grupo simpatizante do inominável candidato me aborde na rua e me cause algum constrangimento”

(Arte: Militão Queiroz)

Sabe esta imagem que abre nossa matéria? Pois bem: se você não esteve em Marte, certamente viu esta arte passar na timeline das suas redes sociais nos últimos dias, publicada por uma turma da pesada, como Pabllo VittarCamila Pitanga e Nathalia Dill, que queria deixar bem claro que, em hipótese alguma, dará seu voto ao candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, nas eleições 2018. Mas você sabe quem é o autor da obra? Provavelmente não. O site HT foi atrás de Militão Queiroz, 32 anos, o criador da criatura. Morador de Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, ele é designer por devoção e estudante de Letras, com foco em inglês, por vocação. “Sou muito tímido, ainda mais para enfrentar uma sala de aula, mas penso na possibilidade de ser professor. Já me disseram que eu levo jeito. Por outro lado, um grande sonho mesmo que eu tenho é poder viver da minha arte, poder expandir a loja online que tenho na Touts, a Staycool, para ver mais pessoas aderindo produtos com as minhas criações. É muito gratificante, me enche de orgulho”, enumerou.

Militão Queiroz

Orgulho, aliás, não deve ter faltado nesses dias na vida Militão ao ver sua filha, a arte #EleNão, rodar o Brasil e o mundo. “No primeiro momento, eu não achei que fosse tomar uma proporção tão grande. Depois que alguns amigos me comunicaram que a arte estava viralizando no Instagram é que eu fui perceber que a minha contribuição para o movimento tinha sido importante. Muitos artistas ajudaram com trabalhos formidáveis, mas fiquei feliz de ver a minha arte em destaque”, contou. Por não ter assinado a obra, Militão não teve créditos na maioria das tais postagens. Mas você acha que isso o aborreceu? Muito pelo contrário. “Ver o sucesso que a arte fez, independente de não conhecerem o autor, me deixou muito feliz”, entregou, em papo com o site HT, que vocês podem ler aqui embaixo.

Site Heloisa Tolipan: Como foi o processo de criação do cartaz Ele Não, que viralizou?
Militão Queiroz: Eu tive a ideia de fazer a arte depois que eu vi uma postagem no grupo LGBTs contra “Ele”, no Facebook. O post trazia a informação que as participantes do grupo Mulheres Contra “Ele” iriam postar em todas as redes sociais a tag #elenão. Então, decidi contribuir para o movimento com a arte, que por si só viralizou.

HT: Qual sua opinião sobre Bolsonaro? E sobre as eleições deste ano?
MQ: Eu evito falar o nome dele. Eu o vejo como uma grande ameaça a minha comunidade. Já estão saturadas todas as falas machistas, misóginas, racistas e homofóbicas do sujeito em questão. Um líder não pode ter esse discurso, nunca, jamais. Sobre as eleições, esse momento está sendo muito complicado para o país. Não lembro de ter visto um cenário parecido com este antes. A única certeza que eu tenho é que ‘ele’ não serve para governar.

(Arte de Militão Queiroz)

HT: Sua arte sempre tem uma pegada política ou esse caso foi uma exceção?
MQ: Gosto de trabalhar vários temas, mas o meu foco maior é a comunidade LGBTQI+, feminismo, cultura pop e literatura.

HT: Você mora no interior, no Nordeste, é um homem gay. De que forma essas questões influenciam no seu trabalho e no seu posicionamento político?
MQ: Apesar do movimento LGBT ser conhecido aqui na cidade, Limoeiro do Norte ainda é uma cidade muito conservadora, como em todas as cidades do interior. Como LGBT, não me sinto à vontade em estar em determinados espaços públicos. Eu prefiro usar a internet para expressar a minha arte. Nesse momento, com a visibilidade e reconhecimento da arte “Ele não”, eu tenho receio que algum grupo simpatizante do inominável candidato me aborde na rua e me cause algum constrangimento.

HT: A loja Staycool é sua? De que forma ela funciona? É o seu ganha pão?
MQ: Sim, ela é uma conta que eu tenho na Touts (clique aqui para conhecer), um site de gerenciamento colaborativo de vendas. Eu envio a arte e eles cuidam de toda a logística, desde a produção a entrega do produto. A comissão que eu ganho do site é um complemento da minha renda.

HT: Muita gente tem se utilizado, inclusive comercialmente, da sua arte. O que pensa sobre isso?
MQ: Não me incomoda quem utiliza a arte para fins pessoais, inclusive até disponibilizo o arquivo em alta resolução pra quem me pede. Mas não acho legal quando utilizam a arte para uso comercial, principalmente quando não solicitam ou não me dão os créditos.