Comemorando 20 anos de carreira, André Piva lança livro de seu escritório de arquitetura e analisa seus projetos neste período: “Não são datados”


Em “André Piva Arquitetura”, os traços são contados em 22 obras de 2002 a 2017 que ilustram a identidade criativa do arquiteto. Segundo ele, o livro que, além de marcar as duas décadas de profissão do gaúcho ainda é um luxuoso portfólio de seu escritório de arquitetura, tem a missão de mostrar o conceito criativo para além do tempo

A arte dos traços é a profissão de André Piva e o palco que guarda suas melhores habilidades. De Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, o arquiteto escolheu o Rio de Janeiro para se formar e há 20 anos trabalha na urbe. Semana passada, alguns dos projetos que marcam a carreira de André ganharam as páginas do livro homônimo que ilustra os anos de profissão do gaúcho. Em “André Piva Arquitetura”, os traços são contados em 22 obras de 2002 a 2017 que ilustram a identidade criativa do arquiteto. Segundo ele, o livro que, além de marcar as duas décadas de profissão, ainda é um luxuoso portfólio de seu escritório de arquitetura, tem a missão de mostrar o conceito criativo para além do tempo.

O arquiteto André Piva lançou um livro em comemoração aos 20 anos de carreira com 22 projetos de seu escritório (Foto: Divulgação)

Nos 15 anos retratados, os 22 projetos não são organizados de maneira cronológica no livro. Para André Piva, um importante ponto, que, por sinal, foi descoberto com o arquivo, é que a essência das obras de seu escritório não segue padrões datados. “A ideia desse livro era representar a trajetória do escritório desde o início, que começou apenas com projetos comerciais. Então, fomos selecionando obras representativas para apresentar de maneira não cronológica. Quando fizemos isso, percebemos que o antigo e o atual conversam em uma mesma essência e que os traços não ficam presos a uma época apenas”, comentou André que, mesmo assim, afirmou que identifica expressões de evolução em seu trabalho. “Isso mostra que não estamos estáticos. No escritório fomos crescendo de apartamentos para casas, lojas e prédios e isso é muito legal”, completou.

Vanessa Borges, sócia do escritório de arquitetura, e André Piva no lançamento do livro (Foto: Ari Kaye)

Em todos os casos, o DNA permanece e o estilo de André Piva continua tendo o mesmo norte. Para esta seleção, o arquiteto contou que teve uma missão complicada. Em 20 anos de carreira, ele resumiu sua identidade criativa em 22 projetos que, cada um do seu jeito, tiveram uma representação especial para o arquiteto. No entanto, entre tantos, tem um especial. “Tudo o que a gente faz é importante para o nosso crescimento. Mas tem uma cobertura na Lagoa, de 2006, que foi um marco. A AM, como é chamada, foi muito divulgada, saiu no mundo inteiro e, inclusive, foi capa de uma revista suíça e de um catálogo alemão. Então, através dela ganhamos muito reconhecimento”, destacou André Piva que também apontou outra obra. “O último projeto do livro que também foi muito especial é o prédio do Cinema Leblon. Essa obra marca outra fase do escritório em que estamos nos dedicando também aos desenhos corporativos”, disse.

Cobertura AM na Lagoa por André Piva (Foto: Divulgação)

E neste tempo, com seu passeio por diferentes propostas e necessidades na arquitetura, André Piva também foi testemunha das mudanças no contexto da profissão. Se em uma época o idolatrado era o over info, anos depois o minimalismo passou a ser a pedida. Agora, o gaúcho apontou para outra tendência. “Eu percebo que as pessoas estão querendo projetos bacanas, mas que sejam simples também. Não existe mais aquela ideia de ambientes fechados com uma salinha para televisão, outra para receber visitas e outra de estar. Os ambientes estão mais amplos e cada vez mais integrados. A ideia é usar a casa toda e esse é o principal conceito dos novos tempos”, apontou.

Cobertura AM na Lagoa por André Piva (Foto: Divulgação)

No entanto, além deste conceito agregador, André Piva acrescentou outros elementos que estão ganhando destaque no cenário da arquitetura contemporânea. Segundo ele, como tradução de uma ideia de simplicidade, o minimalismo funcional passou a ganhar espaço e seguidores. “Os ambientes estão com menos materiais, investimentos e aparência mais limpa, mas sem esquecer o conceito de aconchego. Teve uma época em que o minimalismo era super pedido, mas era até um pouco exagerado. A casa ficava linda para ser fotografada em uma revista, mas não era muito funcional e agradável para quem fosse morar. Agora nós estamos em um momento de equilibrar esse minimalismo com as necessidades do dia-a-dia”, analisou.

Cobertura AM na Lagoa por André Piva (Foto: Divulgação)

Aliás, este é um ponto importante. Embora a identidade de cada arquiteto seja um relevante diferencial no mercado, André Piva destacou a importância de respeitar as vontades de quem vai usufruir do projeto. “Não sou eu que vou morar lá. Então, eu preciso ouvir o que a pessoa quer e, a partir daí fazer o meu trabalho. Quem me procura já conhece o meu estilo e o meu traço, cabe a mim me adaptar dentro das necessidades do cliente. Ou seja, o meu trabalho passa a ser fazer com que fique legal para quem vai morar, mas em um projeto que não agrida meus valores”, comentou André que, neste jogo de cintura, apontou um fator complicador. “Com a internet, as pessoas já chegam com muita informação e certas do que querem. Elas possuem uma pasta de referências de outros projetos e querem colocar tudo em um mesmo ambiente. Mas não é assim. E é aí que eu como profissional entro para conseguir combinar essas ideias. Afinal, anos de estudo não são à toa”, ressaltou.

Entre os novos desafios contemporâneos, André destacou o uso exagerado de referências da internet (Foto: Divulgação)

Não mesmo! Além de estudo, André Piva ainda coleciona projetos importantes, como os que ilustram o livro, para embasar suas obras e análises. Uma delas, por sinal, ultrapassa as paredes de um único apartamento. Com uma visão geral, o arquiteto comentou o atual cenário das cidades grandes em que prédios disputam espaços pequenos entre a população. “Hoje, um dos principais desafios que temos na profissão é tentar humanizar a cidade e fazer dela um lugar mais inclusivo. Os grandes centros estão muito partidos e, em países subdesenvolvidos como o nosso, isso fica ainda mais claro com a diferença social e cultural que temos. Então, a nossa missão como profissionais é minimizar isso para que todos se sintam parte de um mesmo ambiente com mais áreas verdes, por exemplo”, apontou o arquiteto André Piva.