Com seus traços disruptivos, criando uma chancela autoral, o carioca Henrique Fischer vê sua arte ganhar o mundo


Seus trabalhos estão em exposição em uma galeria na Madeira, em Portugal, repleta de obras de modernistas brasileiros, e em uma individual no espaço 5B Gastronomia e Arte, no Porto. Portanto, em sinergia com o legado da histórica Semana de Arte Moderna de 1922, cuja filosofia foi marcada pelo reverberar a identidade nacional das múltiplas artes e subverter o status quo. “É quase que intangível, estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. É um sonho que se realiza antes mesmo de se tornar um sonho”, avalia

Trineto, bisneto e neto de pintores, o carioca Henrique Fischer, 46 anos, é da quinta geração de artistas da família Peixoto, oriunda da cidade do Porto, em Portugal, e tem uma história de vida profunda com as artes. Após quase sete anos sem pintar, em 2012, um mês depois da morte de sua mãe, viu novamente na pintura uma forma de lidar com luto e assinou uma obra que hoje faz parte da coleção particular do curador e marchand, Alexei Waichenberg, proprietário de uma galeria de artes em Portugal. A partir daí, os momentos criativos com as telas foram cada vez mais se intensificando em paralelo com sua agência de comunicação.

Até que dois anos antes da pandemia, ele pintou o primeiro quadro que daria início à série “Índios”. E foi através do próprio Alexei Waichenberg, que ele teve seu trabalho exposto em Portugal e três obras vendidas para um colecionador de Dublin, na Irlanda. Com o isolamento social imposto pelo coronavírus, Henrique começou a trabalhar nas obras da série “Origem“. E elas atravessaram o Atlântico novamente e ganharam espaço na Galeria do 5B Gastronomia e Arte, na cidade do Porto. Em poucos dias, um colecionador do Porto adquiriu uma dessas obras para compor o acervo de sua Galeria de Artes na Ilha da Madeira. A obra também consta de um livro, de autoria de Alexei, “O Modernismo Brasileiro no Acervo da Galeria Lourdes“, recém-lançado e integra a exposição coletiva na Galeria Lourdes, na Madeira.

Alexei Waichenberg e o artista plástico Henrique Fischer

“Já dividi momentos entre sugestões de pautas para jornalistas e pinceladas. Sou um virginiano que não faz planilha. Sou quase caótico, um imediatista que adora fazer várias coisas ao mesmo tempo. Meu escritório e espaço de pintura ficam no mesmo lugar. Se a inspiração vier, tento não deixar escapar. Normalmente, rascunho a ideia em um papel antes de colocar na tela. Caso eu não possa pintar na hora (ou no dia), já sei que terei a inspiração salva ali”, comenta Henrique.

Sobre a retomada da pintura depois de um hiato de 7 anos, o artista nos conta que tudo teve início com “o luto, com a perda da minha mãe, que sempre me serviu de bússola. Em 2012, uma semana após sua morte, eu resolvi colocar na tela o que eu não conseguia expressar exteriormente. Comecei a pintar do nada, com um vazio como inspiração, e com fortes pinceladas sem nenhuma direção. Tinha uma certa raiva também… Ao terminar e colocar a obra na vertical, percebi que eu tinha pintado várias cabeças abstratas de pássaros sem ter nenhuma noção do que eu estava fazendo. Foi orgânico! Engraçado que eu já não tinha mais qualquer ideia de romance com a pintura. Foi uma retomada de dor, mas que me deu um caminho, uma direção para o artista que me considero hoje. Esse quadro, ao qual dei o nome de “Pássaros” e que faz parte da coleção do Alexei, me serviu como uma nova bússola nesse sentido”.

E pontua que nunca imaginou que os trabalhos ganhariam os holofotes na Europa. “Nem nos meus mais modestos sonhos. A pintura, para mim, sempre foi só um ponto de fuga, uma maneira de extravasar a minha criatividade. Nunca imaginei meu trabalho exposto além das paredes da minha casa. Se não fosse o olhar atento do Alexei Waichenberg, meu amigo e curador, nada disso seria possível. Ele viu no meu trabalho o que eu nem mesmo conseguia enxergar”.

Alexei Waichenberg e o artista plástico Henrique Fischer

Seus trabalhos estão em uma Galeria na Madeira, repleta de obras de modernistas brasileiros. Portanto, em sinergia com o legado da histórica Semana de Arte Moderna de 1922, cuja filosofia foi marcada pelo reverberar a identidade nacional das múltiplas artes e subverter o status quo. “É quase que intangível, estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. É um sonho que se realiza antes mesmo de se tornar um sonho. Eu só entendi o quanto eu era influenciado pelos modernistas brasileiros depois que o Alexei me disse que a obra adquirida por esse colecionador iria figurar entre esses grandes nomes. E justamente em uma exposição que comemora, na Madeira, os 100 anos da Semana de 22. É um grande passo!”, pontua.

E você, que sempre esteve à frente de uma agência de comunicação lidando com artistas, como se sente com o foco direcionado a você? “É ter que olhar para a Berê Biachi, minha sócia na Equipe D e também maior incentivadora, e me ver como assessorado dela. Brincadeiras à parte, é ter que lidar com o meu lado mais difícil, com alguém que sempre pensou como artista, mas que se dedica à carreira de outros. É uma cobrança em dobro, um medo enorme de errar somado à estranheza de me ver em um lugar que antes era inédito pra mim”, desabafa.

Henrique Fischer conta que, depois da coletiva na Madeira, vai ao Porto para uma individual no espaço 5B Gastronomia e Arte. Esta expo, que terá a curadoria do Alexei, será um mix de várias fases minhas durante a pandemia. Além disso, também estamos preparando uma individual que acontecerá, em breve, no Rio”, revela.