Mais um ano onde cultura e arte se misturavam em um cenário plural e internacional. Tudo isso aos pés da Baía de Guanabara, de frente para o Cristo e com o protagonismo do Pão de Açúcar ao fundo. A sétima edição da ArtRio já deixou saudades por trazer novas atrações que marcaram o dia dos cariocas na semana passada e pela mudança de cenário, já que antes acontecia no Píer Mauá. Galeristas do Brasil, Uruguai, França e Estados Unidos expuseram suas obras na Marina da Glória em um espaço que combinava as produções artísticas com a beleza natural do Rio de Janeiro. “Foi um casamento perfeito. Acho que conseguimos colocar todos os nossos planos, ideias e galerias aqui de uma forma muito confortável tanto para os artistas quanto o público no geral que veio nos visitar. A estética é um tema recorrente aqui na feira, então agrega muito para nós estarmos em um lugar como este. Superou todas as expectativas”, afirmou a Brenda Valansi, idealizadora do evento. Ao seu lado, o empresário Luiz Calainho responsável por ajudar Brenda a tirar a ideia do papel, em 2011, completou: “O rio é arte o tempo todo em toda parte e isto aqui se eleva a enésima potência porque vemos o Cristo, o Pão de Açucar e a entrada para a baía de Guanabara. Mudamos este ano, porque queríamos arejar o evento e dar mais amplitude. Acabou acontecendo em um lugar que poucas pessoas conhecem na Marina da Glória, é impressionante”.
O evento convidou cinquenta pessoas, entre colecionadores e curadores, para vir ao Brasil e prestigiar a semana. Além de conhecerem a ArtRio, visitaram ateliês, museus e instituições culturais na cidade. Diferentemente do início da feira, o foco desta edição foi trazer a turma de fora para ver o que está sendo produzido aqui. “Foi importante internacionalizar a ArtRio no início para colocar o evento no calendário mundial das artes. Hoje, percebemos que não há mais tanta necessidade de trazer um público estrangeiro e estamos focando no que estão produzindo aqui. Estamos levando colecionadores e curadores internacionais para conhecer o trabalho artístico brasileiro o que acaba criando um fluxo de informações, um intercâmbio de ideias, culminado na experiência de um artista no exterior”, contou Brenda. A presidente do evento teve a ideia da feira quando percebeu que várias já estavam surgindo pelo mundo e sentiu que faltava uma no Rio. “Me perguntei como o Rio de Janeiro, uma cidade linda, turística, com um acervo cultural enorme e berço de vários artistas, não tinha uma ainda. Fico lisonjeada de ser a pessoa responsável por dar oportunidade para tanta gente se aproximar da arte”, lembrou. Desde então, ela focou em pessoas como o Calainho que pudessem ser seu sócio e tivessem conhecimento de mercado e contato no meio público.
Fora a mudança na localização, a feira internacional da cidade abrigou três novas atrações. “O Mira, que é uma proposta de vídeo arte, rolava todas as noites em um espaço aberto e foi curado pelo Bernardo de Souza. Tivemos o Palavra, com curadoria da Claudia Sehbe, que é um programa que usa poesias, performances e recitais como instrumento artístico. Além disso, temos o Solo, idealizado pela co-curadora do Jewish Museu de Nova York, Kelly Taxter. A exposição trouxe obras de galerias nacionais e internacionais”, informou a idealizadora. Além dos novos stands, o programa Vista continuou dando oportunidades para jovens desenvolverem obras inovadoras para a feira.
A ArtRio também entrega o prêmio Foco Bradesco que é destinado a artistas com até quinze anos de carreira, tendo sido selecionados Iris Helena Araujo, C. L. Salvaro e Ismael Monticelli. Eles todos receberão residências artísticas e puderam expor as obras no evento deste ano. “A burocracia, os impostos altíssimos na importação e a falta de educação e cultura criam empecilhos na produção artística do Brasil. A ArtRio acaba desempenhando um papel que não deveria ser o nosso que é disseminar cultura para aproximar as pessoas da arte porque se depender do país a população ficará sem instrução alguma. Não estou reclamando, porque acho um privilegio impactar as pessoas com a arte”, criticou Brenda.
Tudo isto foi possível ao patrocínio de várias empresas e órgãos públicos ligados ao evento como Bradesco, Ministério da Cultura, Secretaria Estadual De Cultura, Cielo, Granado, AmBev e outras. De acordo com Calainho, este ano foi mais complicado de conseguir investidores, mas tudo deu certo no final graças à compreensão das marcas que sentem que para se promover é preciso fazer algo a mais pelo seu cliente, além da propaganda. O CEO destacou a crise do estado no momento da inauguração da feira. “Este país precisa e vai se transformar, não tenho nenhuma dúvida de que um dos caminhos fundamentais será a arte e a cultura, afinal, são elas que moldam a personalidade de um local. Como empresário e cidadão, penso que, no mínimo, tenho que fazer a minha parte, independente do governo. Exatamente porque estamos em um ano desafiador é que temos levar a arte, pois podemos inspirar as outras pessoas a perceber que é possível virar o jogo. Estamos falando de um país continental, de um povo trabalhador, com pessoas muito criativas. Vivemos o Rock in Rio,o maior festival do mundo, e a ArtRio, uma das feiras mais importantes”, comemorou Calainho. Apesar do evento ter coincidido com a data do RiR, mais de quarenta e oito mil pessoas compareceram a feira. “As pessoas chegam ao Rock in Rio mais tarde, então, acabam passando o dia aqui. A partir de agora queremos casar sempre as semanas com o festival”, complementou. A edição de 2018 já está confirmada e ocorrerá entre os dias 5 e 9 de setembro.
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