De olhos bem vendados: Tomie Ohtake faz 100 anos em expô no MAR com obras que pintou às cegas


Baluarte das artes, a centenária artista reúne no Museu de Arte do Rio 24 obras da série ‘Pinturas cegas’, que produziu com os olhos vendados

Neste mês em que completa 100 anos, a artista plástica Tomie Ohtake, ganha uma bela homenagem dos brasileiros: 24 obras de seu extenso acervo foram selecionadas para a mostra ‘Pinturas cegas’, com inauguração prevista para o próximo dia 19 de novembro, no Museu de Arte do Rio – MAR, dois dias antes de seu aniversário. Japonesa naturalizada brasileira, Ohtake faz parte daquelas instituições acima do bem e do mal que, vez por outra, o Brasil decide venerar, com toda razão. Ela faz parte de um seletíssimo grupo de personalidades que têm muito a dizer, mas que preferem  se exibir pouquíssimo – como Fernanda Montenegro e Pelé – em uma época marcada pelo excesso de exibicionismo e quase nada de conteúdo, dominada por mulheres-fruta e ex-participantes de reality shows. Excessos nunca seduziram a artista, a não ser quando ela contrapõe o excesso com a tenuidade em sua obra, uma de suas marcas. Seu trabalho apresenta um mundo de entrelaces de sombras, cegueira, luminosidade plena e vibração que revelam o aparato conceitual que enlaça sua trajetória.

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Tomie Ohtake, artista plástica japonesa de grande destaque no Brasil, completa 100 anos no dia 21 de novembro. (Foto: Reprodução)

A artista, que tem como hábito pintar de olhos cobertos, busca ajustar seu olhar ao ponto cego e, a partir dele, se engajar nesta experiência ímpar. As pinturas cegas de Tomie remetem à mais pura tradição do questionamento, estabelecendo convulsões na relação entre cegueira e arte. Além disso,   formam uma corrente única na história da arte brasileira, uma vez que a modalidade de pintar com os olhos cobertos não é nada comum no panorama artístico brasileiro. “Quando fiz esta série de olhos fechados, buscava retirar a cor e a forma para encontrar o osso da pintura”, afirma a artista com a propriedade de um arqueólogo que desencava o solo para alcançar uma ossatura encravada nas entranhas da terra. O trabalho de Tomie Ohtake é assim: visceral, profundo, aterrador, contagia quem o observa até a medula.  Para Paulo Herkenhoff, curador da mostra, Ohtake se põe em estado de cegueira apenas porque vê: “Negado o olhar na etapa da execução, as pinturas cegas inutilizam a claridade e os dispositivos sensoriais”.

As pinturas cegas dessa artista centenária estabelecem de forma contumaz a sua posição no panorama histórico situado no final da década de 1950, quando que se prenunciou o esgotamento da arte moderna e a ruptura pós-moderna. A exposição, que fica no MAR até março de 2014, já foi exibida no Instituto Tomie Ohtake (2011) e na Fundação Iberê Camargo (2012).

 Serviço:
MAR – Museu de Arte do Rio
Horário: 10h às 17h
Aberto aos sábados, domingos e feriados
Fechado às segundas-feiras
De 19 de novembro a 2 de fevereiro
Ingressos: R$ 8 | R$ 4 (meia-entrada)