“(…) Fisicamente habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo (…)”. As frases são de José Saramago (1922-2010) no artigo ‘Palavras para uma cidade’. O Prêmio Nobel de Literatura o publicou no que chamou de “página infinita da internet” e, posteriormente, passou a integrar o livro ‘O Caderno’.
Ao mergulharmos nas palavras eternizadas por Saramago podemos fazer uma sinergia com o que estamos vivenciando hoje, em tempos de pandemia, na nossa relação com a casa, o nosso ninho. O passado, presente e futuro estão cada vez mais latentes como uma alquimia dentro de cada um de nós e são reflexo de tempos repletos de transformações tecnológicas e um renascer de ideias com mudanças de mindset da sociedade. Reaprendemos a viver e também a conviver em um mundo phygital nesse ano e meio, no qual a informação está tão rápida, que é importante entender a posição do ser humano em relação ao tempo e ao espaço. Paralelamente, temos observado o ressignificar de cada ‘eu’ com experiências autênticas e emocionais. Sejam elas, on ou offline. Portanto, nossa casa, nesse mundo high tech, tem nos permitido também fazer viagens às nossas memórias afetivas, que nos tocam a um nível profundo. E, alinhavando sonhos, design atemporal, ênfase no orgânico e no natural para uma casa que ampliou suas finalidades, a nova coleção Edition 2021 da Artefacto, assinada por Patricia Anastassiadis, diretora criativa da label, é composta por peças que aguçam nossas memórias afetivas, lembranças, emoções, sensações de acolhimento nessa simbiose de passado, presente e futuro, e alinhadas ao trabalho fatto a mano e à pureza das formas para uso plural “dentro de casa, numa varanda semi-coberta, a céu aberto”, como pontua a arquiteta e designer.
Patricia reforça que as transformações da casa durante a pandemia propõem também uma nova relação com o mobiliário. Estamos mudando o estilo de vida, trabalhando mais em casa e necessitando mais do que nunca do bem-estar. “As nossas memórias afetivas ficaram mais latentes. Há certas coisas que precisam ser vivenciadas – não podem ser descritas ou transmitidas de outras maneiras. A casa contempla as transformações que acontecem na sociedade. E trouxe a natureza para a nova linha. É como se fosse um outdoor para a alma, pois a casa se converteu numa válvula de escape mental”, pontua.
As formas de trabalho, de produção, de relacionamento… tudo impactou nossas vidas, mostrando que o conceito de valor real é baseado na empatia, nos sentimentos e nas emoções. E os móveis desenvolvidos para a Edition 2021 dialogam com o uso indoor/outdoor em sinergia com o DNA da Artefacto do fatto a mano e do orgânico/artesanal. O resultado da equação é o seguinte: as novas tecnologias oferecem elevada resistência, ergonomia e a qualidade/durabilidade dos produtos. O fatto a mano é uma chancela da Artefacto repleta de criatividade, traços livres e repletos de leveza.
Segundo Patricia, os móveis propõem uma fluidez maior entre os espaços: “As fronteiras se dissipam, se misturam. O mobiliário transmite a liberdade outdoor ao desconstruir o modo como as pessoas interagem – são elementos meditativos, contemplativos, escapistas, feitos para serem usufruídos. Essa nova linha permite explorar todo o potencial de cada espaço”.
Organizada em três moods distintos – Jornada, In Natura e Naive –, a Edition 2021 resgata experiências do passado, propõe uma reconexão com a natureza e remete a lembranças de liberdade, ingenuidade e simplicidade. “Estamos trazendo esses componentes relativos à memória afetiva. Não estou indo ao encontro de formas surreais, pelo contrário. Estamos buscando shapes inaugurais, que remetem aos primórdios da vida. Pureza e descomplicação. Os móveis estão mais despojados, descontraídos – mais naturais”, observa Patricia Anastassiadis, acrescentando: “Quer algo mais lúdico do que uma cadeira de balanço?”.
Na prática, são móveis que sugerem a evolução de peças pré-existentes – a exemplo do sofá que vem atualizado numa encarnação indoor/outdoor, ou as poltronas e cadeiras que remetem aos arquétipos tradicionais indígenas, tão comuns nas praias brasileiras. “Há detalhes como o apoio de nuca com contra-peso e os assentos com gomos, que proporcionam mais ergonomia/conforto, ou os apoios para smartphones, carregadores USB, pernas dobráveis, estruturas em alumínio (mais leves e menos suscetíveis à corrosão), tecidos náuticos, madeira teca”, revela.
UM MERGULHO NO UNIVERSO EDITION 2021 ARTEFACTO
Sofá Costa
Com estrutura em fibra de vidro para resiliência extra às intempéries, o sofá Costa proporciona às áreas externas mobilidade, versatilidade e fluidez. A inspiração veio de outro ícone da Artefacto: o sofá Geta (Edition 2020), modelo para interiores que faz referência aos tamancos japoneses e parece levitar. Estrutura em fibra de vidro, encosto de alumínio e tecido outdoor. Acabamento em couro classic outdoor no encosto, base e botões
Poltrona Brezza
Com formato geométrico, esta poltrona resgata a memória afetiva ao propor uma releitura das clássicas cadeiras de praia. O modelo propõe simplicidade sem perder a elegância e o conforto. Sua estrutura de alumínio, material usado nesta coleção, reforça o conceito de leveza já que permite que a peça seja transportável do interior para o exterior da casa. “As pessoas desejam cada vez mais essa itinerância, esse poder carregar os pertences de um lugar ao outro na casa, sem dificuldades”, explica Patricia Anastassiadis. Estrutura em alumínio, madeira teka e tecido outdoor. Acabamento acetinado outdoor 34 nos braços de madeira.
Mesa Josef
A cartela de cores e o formato destas peças foram inspiradas pela obra do artista alemão Josef Albers, que foi fortemente influenciado pela escola Bauhaus, pelo construtivismo e a Op-art. Sua estrutura é em alumínio e o tampo é feito em cerâmica.
Poltrona Luna
Inspirada pelas formas e os ciclos lunares, esta poltrona prima pelo conforto e pela ergonomia, tornando-se a peça ideal para um cantinho de leitura em casa. A estrutura foi feita a partir de uma concha em fibra de vidro. Estrutura em fibra de vidro com tapeçaria de couro natural, madeira pau ferro (na base) e tapeçaria no encosto e assento de linho. Base giratória.
Caixa-Bar Pietra
Esta caixa bar, feita em madeira, chama a atenção pelo puxador em pedra natural, que reforça o aspecto contemporâneo em sintonia com a natureza. A peça é exclusiva para uso no interior da casa. Material: Madeira Pau Ferro, aço inox, puxador de mármore grigio, camurça no interior das gavetas, tecido interior é jacquard savane outdoor silver. Gaveta refrigerada – sistema 127 volts
Chaise Mora
Com seu formato orgânico e curvilíneo, a chaise Mora é uma das peças que exemplificam a versatilidade e leveza da coleção. Pode ser usada em ambientes internos e externos. Estrutura em aço inox e estofado.
Stools Capo, Occhio, Bocca e Piede
As referências à ancestralidade indígena e ao fazer artesanal surgem com força em móveis contemporâneos como os stools Capo, Occhio, Bocca e Piede. Além de servirem como assento, as peças ajudam a organizar e armazenar com seus interiores ocos e tampa superior removível.
Capo: Fibra sintética, aço inox, fibra de vidro e couro
Occhio: Fibra sintética, aço inox, fibra de vidro e couro
Bocca: Fibra sintética, aço inox, fibra de vidro e couro
Piede: Fibra sintética, aço inox, fibra de vidro e couro
Mesa de centro Sole
Seguindo a mesma linha dos stools, a mesa de centro Sole remete diretamente ao sol que nos abastece.
Aparador Linea
O aparador Linea revela o apelo atemporal que marca o trabalho de Patricia Anastassiadis para Artefacto. Com linhas retas e um tampo discretamente curvilíneo, a peça tem um design limpo e versátil.
Poltrona Erba
Esta poltrona de balanço é um dos móveis que propõem um resgate à memória afetiva já que evoca lembranças da casa da avó. Com um desenho contemporâneo, a peça se destaca pela leveza e pela possibilidade de uso indoor/outdoor. Estrutura em alumínio e estofado.
Balanços Seed e Grano
Ao olhar para a maneira e a pureza com que as crianças se relacionam com as realidades – sem julgamentos ou preconceitos – Patricia Anastassiadis apresenta duas versões de poltronas penduráveis: Seed e Grano. As peças representam o início do nosso processo de desenvolvimento e resgatam o universo lúdico. “Quero propor um resgate da infância, mas sem infantilidade, sem parecer algo datado. A ideia é recuperar o sentimento de pureza, que vamos gradativamente neutralizando ao longo da vida”, comenta Patricia.
Seed: Estrutura em aço inox, malacca e estofado
Grano: Fibra de vidro, alumínio e couro
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