O figurino era terno e gravata e a posição atrás de um computador. Hoje, até a bermuda é possível como roupa de trabalho e seu lugar passou a ser atrás da lente de uma câmera fotográfica. A profissão de Ricardo Penna mudou e, com isso, sua vida, humor e rotina também. Formado em Engenharia, o fotógrafo abriu mão de um emprego estável em uma multinacional para se dedicar a um lifestyle prazeroso, que atravessa a arte em um cenário de criação. E foi isso o que ele fez os belíssimos editoriais com Vanessa Gerbelli e Julia Konrad por aqui. Nas fotos, Ricardo Penna garantiu personalidade e sofisticação ao ensaio que publicamos.
Entre um clique e outro, Ricardo contou de sua história de coragem para mudar. Desde a infância, a fotografia sempre foi algo presente na vida dele, porém apenas com status de diversão. “Eu fiz Engenharia na PUC e trabalhei durante oito anos em uma multinacional de telecomunicações na parte de TI. Mas era muito estressante. Aí, o médico disse para eu procurar experiências diferentes. Foi aí que comecei a fazer mergulho, até que ficou monótono e mudei para alpinismo. Escalei diversas montanhas, todas as do Rio de Janeiro, e ficou sem graça também”, lembrou Ricardo que, em determinado momento, ficou na dúvida entre windsurf, kitesurf e fotografia. “Nessa época, uma amiga do pré-vestibular me procurou dizendo que tinha largado a Engenharia para ser atriz e me mandou as fotos que tinha feito. E estavam horríveis. Sendo que eu nem era fotógrafo para analisar”, contou.
Foi aí que Ricardo juntou a câmera do cunhado com suas habilidades do passado e se aventurou em ajudar a amiga. E o resultado surpreendeu. Depois de dois rolos de fotos, um ensaio bem sucedido e uma nova motivação, Ricardo Penna se decidiu entre as três opções de experiências para além do escritório de telecomunicação. “Como eu gostei daquela brincadeira, comprei uma câmera e fui fazer um cursinho para começar. Aí fiz o básico, intermediário, avançado, de iluminação e fui crescendo como passatempo”, disse Ricardo que começou conciliando o trabalho com alguns books para modelos. “Eu fui ganhando espaço na fotografia como um hobby e, paralelo a isso, estava cada vez mais estressado como engenheiro no escritório. Já estava desanimado, até que eu pedi demissão e virei fotógrafo”, contou.
No entanto, esta não foi uma decisão muito simples. Como consequência, Ricardo contou que teve que explicar para seu pai que a brincadeira havia ficado séria e que fotografia também é uma profissão importante. “Meu pai ficou um pouco assustado na época, porque ele é muito conservador. Na nossa família, minha irmã é médica, meu irmão é advogado e eu era engenheiro, assim como ele. Então, ele ficou um pouco em choque porque eu era o filho que tinha me formado na mesma faculdade e estava seguindo a profissão dele”, explicou o fotógrafo que, por outro lado, reconheceu que o lado paternal também falou mais alto. “Ele viu como eu estava infeliz e insatisfeito com o trabalho. Eu não nasci para ficar trancado em um escritório por oito horas na frente de um computador com gente berrando no meu ouvido”, destacou.
Porém, mais do que reconhecer, tudo ficou ainda mais especial quando Ricardo Penna virou motivo de orgulho na fotografia. Entre tantos trabalhos importantes que ele já assinou, o primeiro de grande repercussão foi um marco para consolidar o passatempo como profissão. “Meu pai só me viu como fotógrafo quando eu fiz uma exposição e dei entrevista para a Ana Furtado na televisão e apareci em fotos ao lado dela e da Isabel Fillardis em uma página inteira da Caras. E aí minhas tias ligavam para o meu pai porque viam a revista e ele ficava todo orgulhoso. E foi aí que ele me aceitou”, contou.
E, diferente do mergulho e do alpinismo, que viraram monótonos na vida de Ricardo Penna, a fotografia não seguirá o mesmo caminho, como ele garantiu. Além de esta ser hoje a profissão dele, é ainda um ofício de descobertas constantes. “Virou profissão e agora eu não posso mais largar. Às vezes eu até me sinto na zona de conforto e, por isso, vou buscar criar e montar novos ensaios. Mas eu estou o tempo todo tentando me redescobrir na profissão para não ficar monótono. Porém, como estou todos os dias com pessoas e em ambientes diferentes, fica um pouco difícil cair nesse marasmo”, analisou.
Outro ponto que garante o status de renovação são os avanços da tecnologia. Este, aliás, é um quesito que Ricardo Penna tira de letra. Para quem pensou que a Engenharia havia ficado no passado na vida do fotógrafo, ele comentou que os conhecimentos em física são fundamentais para o clique perfeito. “Como eu trabalhava com tecnologia, quando eu mudei para a fotografia e os equipamentos digitais eu tive uma certa facilidade. Ninguém nunca me ensinou a trabalhar no Photoshop e muita gente diz que o meu tratamento é um dos melhores do Rio de Janeiro”, comemorou.
O lado negativo disto tudo é a facilidade à mão de todos, como apontou o fotógrafo. “Como tudo está avançando e ficando mais acessível, hoje, qualquer pessoa pode pegar uma câmera e dizer que é fotógrafo. E isso é um pouco frustrante. A gente passa um orçamento em cima de uma experiência, know-how e conhecimentos, enquanto o outro só tem uma câmera no automático e nunca nem leu o manual”, analisou o fotógrafo que destacou que, em um país em crise, essa diferença fica ainda maior. “Fica muito difícil, mas a gente sobrevive porque ainda existem poucas pessoas que têm um olhar sobre a qualidade e identificam a diferença entre os trabalhos”, apontou Ricardo Penna que, na profissão, possui ainda diversos projetos misteriosos para o futuro. O que será que vem por aí?
Artigos relacionados