Ana Paula Almeida, ex-Paquita, atua como micropigmentadora de sobrancelha: ‘Tenho orgulho do que faço’


Os anos de glamour que começaram ao ingressar no programa Xou da Xuxa, aos 10 anos, como assistente de palco da Rainha dos Baixinhos, participando mais tarde do grupo musical Paquitas e atuando como atriz no cinema e na TV fazem parte do passado. Há três meses, atua na área estética. “Não quero ficar como alguns artistas que estão aí passando perrengue, mas não querem se formar ou trabalhar em algo que vai ser rentável para, vamos dizer, não se diminuir aos olhos dos outros. Hoje, o mais importante pra mim é dar um conforto para o meu filho (Davi, 15 anos). Prefiro do que viver esperando por um personagem. Mas, não descarto um trabalho como atriz. Se surgir um convite para uma novela ou algo para apresentar eu vou estar bem”, enfatiza em momento no qual rememora o passado. Em abril, vai ser lançado o livro Pituxita Bonequinha – Minha Vida de Paquita, que já está em pré-venda, onde conta histórias da fase gloriosa. Nesta entrevista, Ana Paula comenta ainda o estremecimento da amizade com Xuxa e sobre como foi enfrentar a ditadura da beleza ao engordar e se tornar modelo plus size, após entrar em depressão devido à morte da mãe

Atualmente, Ana Paula Almeida trabalha como micropigmentadora de sobrancelha (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

Atualmente, Ana Paula trabalha como micropigmentadora de sobrancelha (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

* Por Carlos Lima Costa

Ana Paula Almeida brilhou como uma das Paquitas assistentes de palco de Xuxa Meneghel, quando a apresentadora vivia seu auge no comando do programa Xou da Xuxa. Estava lá, quando elas se transformaram em um grupo musical e lançaram a canção Fada Madrinha (É Tão Bom). Apelidada de Bonequinha Pituxita, atuou como atriz nos filmes Lua de Cristal e Sonho de Verão. E, posteriormente, após deixar de trabalhar com a Rainha dos Baixinhos, integrou o elenco da novela Pecado Capital. Hoje, longe daquela rotina de glamour e holofotes, enquanto rememora a época com o livro Pituxita Bonequinha – Minha Vida de Paquita, que está em pré-venda, ela trabalha há três meses na área estética, dando expediente como micropigmentadora de sobrancelha.

“Não vou mentir. Existe sim, dentro da gente, uma pontinha que fala: ‘Caramba, talvez, se pudesse escolher, não teria escolhido esse caminho. Mas, hoje, já que esse é o caminho que eu tenho, vou desempenhar da melhor forma’. Então, não me incomoda. Sou reconhecida no supermercado, na rua. Quando envio o meu portfólio de micropigmentação, sei que as pessoas devem pensar: ‘Caramba, ela foi uma Paquita!’. O que eu tiro de lição dessa vida é que a minha estrutura psicológica está muito boa em relação ao que desejo para o meu futuro. Não quero ficar como alguns artistas que estão aí passando perrengue, mas não querem se formar ou trabalhar em algo que vai ser rentável para, vamos dizer, não se diminuir aos olhos dos outros. Hoje, o mais importante pra mim é dar um conforto para o meu filho (Davi, 15 anos) e ter orgulho de mim na profissão que eu escolhi. Tenho orgulho de ser micropigmentadora”, pontua em longa reflexão, ela que, além de atender na própria casa, também executa o ofício em um espaço no Recreio dos Bandeirantes, e também no Shopping Città America e no O2, na Barra da Tijuca.

Ana Paula enfatiza que ver o resultado das sobrancelhas a faz sentir a mesma sensação de quando estava dançando em um show. “Só não estou sendo aplaudida, quer dizer, talvez aquela cliente me aplauda, mas não uma multidão. Vivi boa parte da vida tendo esse glamour e, agora, tenho outra boa parte nos próximos anos cuidando de um a um. Prefiro isso do que viver esperando por um personagem. Não gosto de ficar nessa expectativa. Mas não descarto um trabalho como atriz. Se surgir um convite para uma novela ou algo para apresentar eu vou estar bem para isso”, frisa.

Ana Paula ingressou recentemente na faculdade de Biomedicina (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

Ana Paula ingressou recentemente na faculdade de Biomedicina (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

Atualmente, além da pigmentação, Ana Paula também executa a despigmentação, quando retira o que foi feito há alguns anos e refaz a sobrancelha. Mas ela não pretende ficar restrita a somente essa parte na área estética. Para se aprimorar, começou a cursar a faculdade de Biomedicina. “Quero mexer também com realinhamento facial, fazer enzima para flacidez (atua na restauração da pele), enzima de gordura, camuflagem de estria, preenchimento. Então, preciso dessa faculdade”, ressalta. E conta que as pessoas com as quais trabalha trouxeram mais de dez cursos de Dubai e dos Estados Unidos.

A partir do próximo mês, ela vai dividir as atenções desta nova função com o lançamento do Pituxita Bonequinha, Minha Vida de Paquita, da Editora Chiado, escrito por Luciana Castro. O livro já está em pré-venda em formato e-book e físico, através da plataforma www.livrariaatlantico.com.br. E vai ser lançado presencialmente, em abril, na Livraria da Travessa, no BarraShopping, Rio. “Pensei em abordar a minha vida inteira, mas, depois, resolvi dar ênfase ao sonho da menina. Digamos que é uma história contada pela Pituxita, não pela Ana Paula, mulher, hoje. Quero que o leitor sinta a Paquita. Então, ele vai vivenciar as emoções, as alegrias, os shows, os bastidores, tudo isso recheado com fotos que ajudam a contar essa época de ouro da Xuxa e das Paquitas”, explica Ana Paula, que ingressou no grupo em 1987, aos 10 anos, permanecendo até 1996. Depois, continuou trabalhando com Xuxa até 2001, exercendo outras funções. Por exemplo: foi produtora de programas como o Planeta Xuxa.

Capa do livro em que Ana Paula Almeida relembra os tempos de Paquita

Capa do livro em que Ana Paula Almeida relembra os tempos de Paquita

No livro, ela aborda sobre as gravações do programa na Argentina, as turnês de shows, o dia a dia das Paquitas, muita nostalgia para os baixinhos da época. “Não vai acrescentar nada na vida de ninguém saber das fofocas lá das outras Paquitas e da Xuxa, até porque a vida foi delas. Se quiserem, elas que façam isso”, diz Ana Paula, que ainda naquela fase de ouro, namorou o então, jogador de futebol Romário. “Tenho o maior carinho por ele. Foi uma pessoa muito boa pra mim e até hoje é meu amigo. Ele foi o meu primeiro namorado. Eu tinha o sonho de casar virgem e ele sempre me respeitou e não foi meu primeiro homem. Na época, foi uma polêmica, porque eu era muito nova, uma Paquita, e Romário já era mais velho. Depois, o povo se acostumou”, recorda.

No momento, está ansiosa para realizar os lançamentos pelo Brasil (o livro vai ocupar também livrarias de Portugal, Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos), para reencontrar os fãs que sempre torceram por ela. E relembra a importância do período retratado na obra. “Me vem à cabeça um sonho realizado, uma história bem escrita. Gostaria que meu filho tivesse essa escola que eu tive. Além de ter aprendido muito no ramo profissional, de desfilar, fotografar, se portar na frente das câmeras, falar em público, também aprendi muito na vida pessoal de ter responsabilidade, compromisso de fazer sempre o meu melhor, respeitar o outro. Tínhamos suspensões se algo com relação a fofocas acontecesse. E, se tirasse nota baixa, ocorresse briga entre uma Paquita e outra, até entre as mães, como punição ficava sem receber, sem viajar. Com tudo isso, aprendemos a ter disciplina. Essa é a palavra que me move da época de Paquita”, reflete.

Ana Paula e Luciana Castro, autora do livro Pituxita Bonequinha - Minha Vida de Paquita (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

Ana Paula e Luciana Castro, autora do livro Pituxita Bonequinha – Minha Vida de Paquita (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

E reforça que foi uma grande conquista estar naquele lugar, naquele momento. “Todo mundo sonhava estar perto da Xuxa. Eu, como morava longe, em Vista Alegre, levava duas horas para chegar na casa dela, então, cheguei a morar dois anos com Xuxa. A gente malhava muito de madrugada, éramos muito amigas”, recorda.

Desde o começo, aprendi que tenho que estudar muito para trabalhar em qualquer área. Hoje, sou micropigmentadora, mas antes disso, fiz cursos, estudei um ano e meio para isso. Estou começando agora Biomedicina, a minha quarta faculdade (Ela cursou Comunicação Social, em Publicidade e Propaganda, depois, fez seis períodos de Direito, transferiu para Designer de Interior). Esse lado de estudar, ler muito, ter postura vem da Marlene (Mattos, diretora do Xou da Xuxa)”, reforça.

Ana Paula Almeida e a apresentadora nos tempos do programa Xou da Xuxa (Foto: Arquivo Pessoal)

Ana Paula Almeida e a apresentadora nos tempos do programa Xou da Xuxa (Foto: Arquivo Pessoal)

E destaca os laços de amizade que criou com Xuxa naquela época. “Ela é uma pessoa muito simples, amorosa, fez questão de me ter como irmã mais nova. Com ela, aprendi tudo que você puder imaginar da esfera mulher, como me maquiar, desfilar, fotografar, comer de forma saudável, praticar atividade física, gostar de bicho, natureza. Morávamos juntas o ano inteiro e, nas férias, ainda íamos para uma ilha em Angra dos Reis”, recorda.

E fala mais sobre a mãe da Sasha: “A Xuxa tem voz e personalidade fortes, sabe bem o que quer. Ela que decidia tudo na carreira dela desde os produtos que tinham o seu nome, coreografias, roupas. Tudo passava por ela antes. A Xuxa sempre tomou as rédeas da vida em relação a forma como queria conduzir sua imagem e acho que, até por isso, concordou com o que a Marlene falava ou fazia, porque era mais tranquilo colocar nas mãos dela a parte burocrática”, frisa.

A relação de Ana Paula com Xuxa deu uma estremecida em 2019. Ela, inclusive, saiu do grupo de WhatsApp do qual participava com a Rainha dos Baixinhos e com outras ex-Paquitas. “Na verdade, ela ficou chateada comigo, magoada e eu resolvi sair desse grupo. Temos o WhatsApp uma da outra, a gente se fala muito superficialmente sobre coisas básicas, Não tem mais aquela amizade e eu respeito”, lamenta.

Além de Paquita, Ana Paula Almeida também atuou como produtora de programas como o Planeta Xuxa (Foto: Arquivo Pessoal)

Além de Paquita, Ana Paula Almeida também atuou como produtora de programas como o Planeta Xuxa (Foto: Arquivo Pessoal)

E acrescenta sobre como ficou o entendimento com as outras Paquitas. “Por conhecerem o meu caráter, algumas ficaram perto de mim, outras não. Ainda tenho contato com a Catia (Paganote), a Roberta (Cipriani), a Priscila (Couto) e a Andrezza (Cruz), da Nova Geração”, conta Ana, que planeja, no futuro, lançar outro livro. “Vai ser sobre superação, altos e baixos que a vida te traz e você tem que estar preparada para isso”, ressalta.

"Era muito exigente, crítica em relação a ser atriz”, ressalta Ana Paula (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

“Era muito exigente, crítica em relação a ser atriz”, ressalta Ana Paula (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

E relembra aqui algumas das provações. “Quando me separei há sete anos, com um filho pequeno, eu não pensei em glamour ou o que as pessoas iriam achar. Fui trabalhar como secretária de um cirurgião plástico e tinha os meus aluguéis. Assim, consegui me manter. Eu desconstruí muita coisa em função do meu bem estar. Quero ser feliz com as minhas escolhas e não esperando que todo o passado volte. Fui feliz financeiramente e pessoalmente, me realizei, tive conquistas, mas ficou naquela época. Não vivencio mais a Paquita. Se me perguntar sobre aquela época, vou ter o maior prazer em contar, mas ela ficou em uma parte da minha história. Hoje é a de uma mulher de 45 anos que vem com todas as suas conquistas e aprendizados”, aponta.

E relembra histórias, reforçando a importância do aprendizado em sua vida. “No passado, estudei para estar boa ao atuar como atriz. Não queria que dissessem que estava ali somente porque fui Paquita. Eu queria realmente ter propriedade em atuar. Quando participei da novela Jesus, uma diretora me disse: ‘Você me surpreendeu, é uma excelente atriz’. Só que eu me boicotei a vida inteira, sempre achei que não era boa o bastante. Quando eu levava um ‘não’, aquilo validava mais a minha desconfiança. Isso foi o que tive de tratar depois de anos de terapia, porque eu tinha um bloqueio comigo, era muito exigente, crítica em relação a ser atriz”, observa.

Quando se casou, o então marido era dono de uma empresa de decoração. Ela cursava o sexto período de Direito, aí se transferiu para Designer de Interiores e, durante oito anos, trabalhou com ele na empresa. “Naquela época, foi mais fácil pra mim. Ainda quero o caminho que me dê uma segurança financeira, que eu não precise ficar a mercê de uma hora tem, uma hora não tem trabalho. Eu vivo dos meus aluguéis, que a minha família trabalhava com construção, e tenho também apartamento que comprei com o dinheiro de Paquita. Isso já me dá uma boa segurança e aí agora posso me dar ao luxo de escolher o que eu quero fazer. Gosto de lidar com gente, com a beleza. A televisão é muito ingrata. Quantos artistas não foram naqueles programas de fofoca que as pessoas iam falar que estavam sem emprego. Então, é sempre bom a pessoa ter um plano B. No futuro, se me chamarem para atuar ou apresentar, eu vou. Nós que somos artistas, nunca vamos dizer ‘não’ para a arte. Mas, hoje em dia o meu plano B é a micropigmentação, a área estética”, ressalta.

"Na minha cabeça, era inadmissível engordar. Mas passei por depressão, devido a perda da minha mãe", observa Ana (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

“Na minha cabeça, era inadmissível engordar. Mas passei por depressão, devido a perda da minha mãe”, observa Ana (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

Ana está focada também em ter uma vida e um corpo saudáveis, praticar suas atividades físicas. “Mas não é para falarem: ‘Ela está com o corpo igual a da época de Paquita’. É porque quero estar correndo com meu filho, viajando. Não quero chegar aos 60, 70 anos cheia de dor, travada”, afirma.

Quando era Paquita, Ana Paula, que mede 1,72m de altura, pesava 58 quilos. Em um determinado momento, começou a engordar e chegou a 100. Atualmente, tem variado entre 76/77. E explica como foi a aceitação até por ela ter trabalhado com a questão da imagem e não estar no padrão da ditadura de beleza imposta pela sociedade.

“Era uma cobrança muito forte comigo mesma por trabalhar em televisão por muitos anos. Na minha cabeça, era inadmissível engordar. Só que eu passei por uma depressão muito forte, devido à perda da minha mãe (Margarida morreu em 2013, de insuficiência renal). Fui cuidando e vendo ela definhar sem poder fazer nada para mudar. Meu consolo era o chocolate. Eu comia muito toda hora e todos os dias. Eu, literalmente, me abandonei. Eu só vivi o luto e não me questionava naquele momento. Minha mãe faleceu, daí 15 dias eu me separei, então, foi tudo junto. E, nessa época, fui trabalhar em dois empregos, correr atrás do que era melhor para mim e para o meu filho, não olhei para corpo”, desabafa.

"Sentia vergonha quando comecei a desfilar como plus size. Só aceitei por necessidade financeira", lembra e ax-Paquita (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

“Sentia vergonha quando comecei a desfilar como plus size. Só aceitei por necessidade financeira”, lembra e ax-Paquita (Foto: Roberto Maciel/Produção de moda: Suellen Franca Concept e Atelier Luci Marçal)

A vida transcorria até que um repórter da Record a filmou, provocando uma enorme repercussão por conta do novo shape. Na época, foi convidada para trabalhar como modelo plus size. “Sentia muita vergonha quando comecei a desfilar. Só aceitei por necessidade financeira, porque estava comprando um apartamento e pra mim todo dinheiro que entrasse era importante. Aí depois, refleti: ‘Estou fazendo algo para aquelas pessoas que estão iguais a mim. Então, preciso apoiá-las, mostrar que estou com orgulho de estar com esse corpo, que é minha opção’. Foi um trabalho bem rentável, principalmente fora do Rio de Janeiro”, diz.

Mas chegou um momento que não conseguia mais se ver daquele jeito. “Por mais que eu me amasse, precisava daquela Ana Paula antiga, aí fui para o Além do Peso, um programa da Record, emagreci 20 quilos lá, a gente malhava muito todo dia. Aí comecei esse meu Instagram que até hoje o boom dele é sobre autoestima, você se valorizar, cuidar e venho nesse período até hoje, nesses seis anos, batalhando. Mas é no meu tempo. Não tenho que agradar ninguém”, pontua.