*Por Brunna Condini
“Me sinto decolando”, diz uma bem-humorada Ana Furtado. Prestes a completar 50 anos no próximo 22 de outubro, a apresentadora acaba de lançar o livro ‘Até nunca mais’, um relato franco sobre sua história com o câncer, as ferramentas que a ajudaram nesta jornada e toda transformação que veio da experiência. O lançamento da obra neste Outubro Rosa – movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama- também é uma celebração pelo fim do tratamento de um câncer de mama em que Ana foi submetida durante cinco anos. “Me sinto vitoriosa e voando… sabe quando você está parada na pista, esperando para decolar, e vai pegando velocidade, vai entendendo como a máquina voa, como chega até o final da pista para finalmente decolar? Isso traduz muito como me sinto agora: eu finalmente estou voando, então o céu para mim é o limite. A vida está recomeçando agora de uma forma muito linda, leve, clara e objetiva. Só quero fazer o que traz felicidade. É para esse lugar maravilhoso que voo”.
Estou no bônus. Descobri e comecei a tratar um câncer no início e estou curada. Eu poderia não estar aqui – Ana Furtado
E continua revisitando a trajetória recente com a doença: “O câncer fez com que eu me deparasse com a minha finitude, ler o laudo foi o pior momento. Abriu um buraco debaixo de mim e fui despencando. Ainda bem que tinha meu marido comigo (Boninho), que me segurou, amparou e ajudou a tirar desse lugar. De mãos dadas, a gente seguiu até esse momento de vitória e se Deus quiser até o resto das nossas vidas. Esse foi um dos grandes propósitos nesse caminho, queria viver, queria envelhecer ao lado do meu marido, ver minha filha (Isabella) crescer, conhecer os meus netos, se ela tiver, e quem sabe até, olha que ousada (risos), conhecer meus bisnetos. Quero viver ao lado das pessoas que mais amo, inclusive dedico o livro aos dois, porque foram o meu melhor remédio. É para eles que vivo”.
Ana também faz questão de destacar a importância do Outubro Rosa: “É uma campanha extremamente valiosa. Ela nos lembra que precisamos cuidar do nosso corpo, prestar mais a atenção nos sinais que ele dá. Precisamos nos tocar. Descobri um tumor em mim fazendo o auto exame, apesar de nem todo tumor ser palpável. Mas para a cura, o diagnóstico precoce é fundamental. Por isso digo: não deixem de fazer seus exames periódicos, a mamografia, o Papanicolau, ultrassonografias, repitam anualmente. Vou repetir: só estou aqui, conversando com vocês, porque detectei um tumor na minha mama em estágio inicial”, diz, emocionada.
Mulheres, se toquem. E para quem está desconfiando de algo, não perca tempo! Se procurar e achar, cuide, não perca a fé, o foco. É uma caminhada difícil, mas ela é possível. Desejo que todas que estão passando por isso conquistem suas vitórias – Ana Furtado
Embaixadora e conselheira do Instituto Protea, uma organização não-governamental que proporciona o tratamento do câncer de mama para mulheres de baixa renda, ela aponta a importância da rede de apoio para quem precisa lidar com um tratamento. Casada há 23 anos com Boninho, que foi seu parceiro do diagnóstico ao tratamento, Ana sabe que essa é uma condição privilegiada, já que segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, 70% das mulheres com câncer lidam com o abandono do parceiro durante o tratamento. “É mesmo um privilégio. Meu marido, além de meu grande amor, alma gêmea, tudo pra mim, sempre foi o meu melhor amigo. Ele esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida e se tornou ainda mais presente neste processo de cura”, compartilha.
Agradeço ao meu marido por sempre estar ao meu lado, porque é realmente algo muito especial. Sei que essa não é a realidade da maioria das mulheres que descobre um câncer. A maior parte delas sofre com o abandono dos seus parceiros e parceiras- Ana Furtado
“Ser abandonada em um momento como esse é muito triste, cruel. O câncer é uma doença devastadora e a rede de apoio neste momento é fundamental. E seu parceiro ou parceira não ficar ao seu lado, porque não entendem o processo ou não conseguem segurar a onda, é muito doloroso. Nunca estive neste lugar, graças a Deus, mas me solidarizo totalmente com essas mulheres. Não conheço essa dor, mas o que posso dizer para elas, é que apesar disso, não estão sozinhas. Nunca estarão. Existem muitas ONGs, institutos, pessoas que estão dispostas a abraçar, cuidar delas. O câncer faz a gente perder muito. Perdemos a saúde, a energia, muitas de nós a beleza, a autoestima, a esperança, o caminhar. E outras, ainda perdem os parceiros ou parceiras. São muitas perdas juntas para lidar. Mas acreditem, não precisam lidar com tudo isso sozinhas. Procurem esses lugares, e no que depender de mim, nunca soltarei a mão de vocês. Pretendo sempre ser uma porta-voz, estar por aqui falando do assunto, tentando de alguma forma ajudar”.
Me sinto vitoriosa e voando…sabe quando você está parada na pista, esperando para decolar, e vai pegando corpo, velocidade, vai entendendo como a máquina voa, como chega até o final da pista para finalmente decolar? – Ana Furtado
Ana se diz honrada de ter a possibilidade de ajudar, de alguma forma, as pessoas através da sua história. “Esse livro é ferramenta neste sentido. Nele faço um relato muito sincero de tudo o que eu vivi. Abro o jogo e falo sobre tudo. Exatamente para que essas mulheres se reconheçam na minha história e entendam que é uma jornada difícil, mas possível. Esse livro tem um propósito maior que contar a minha trajetória com o câncer, que é ajudar mulheres com o câncer de mama. Toda renda das vendas do “Até nunca mais’ vou doar para o Instituto Protea, que proporciona um tratamento digno, completo, para mulheres de baixa renda com a doença. Faço parte do instituto há cinco anos, é um trabalho lindo. Já impactamos mais de 4 mil mulheres. Queremos atuar no Brasil todo, por isso precisamos de apoio, doações. Esse livro também é instrumento para dar mais visibilidade para o propósito”, observa.
Transformação
Esta é uma obra sobre a minha jornada com o câncer, mas também pode ser uma fonte de inspiração para qualquer pessoa que esteja passando por um momento difícil, que se sinta perdida como me senti no momento do meu diagnóstico, de um acontecimento que fuja completamente do controle – Ana Furtado
E finaliza: “O câncer veio como um professor, me ensinando de cara que não controlamos nada nessa vida. Temos que viver o agora, é o que temos. Sem o hoje, não temos o futuro. Por isso, encerro o livro como uma carta de despedida para o câncer, não quero mesmo ele na minha vida nunca mais, é o fim desta carta que dá nome ao livro. O câncer de vilão virou um mestre, me transformei em alguém melhor, primeiro para mim, e consequentemente, para os outros. As pessoas que comprarem o livro entrarão nessa história, e de quebra, poderão ajudar a transformar a vida de outras mulheres que estão passando pelo mesmo, sem recursos”.
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