Esqueça o “Sítio do picapau amarelo” de Monteiro Lobato ou a obra de Ruth Rocha. Mayra Dias Gomes – sim, ela é filha de quem você está pensando – foi uma criança obcecada por filmes e livros de terror. “Sempre fui fascinada por histórias de espíritos e assassinatos. Aos 6, 7 anos de idade já escrevia peças e roteiros de terror. Era apaixonada pelo Freddy Krueger“, revelou ao Site HT direto de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde reside. Isso explica “Finalmente famosa”, seu mais novo suspense de terror inspirado em fatos reais e que foi escrito nos metros quadrados mais assombrados da capital do cinema americano, Hollywood.
E a história que o envolve é tão macabra quato a que está impressa. A começar por um sonho. “Eu sonhei com o espírito de um senhor que me dava um código. Eu escrevia este código em uma parede, mas não era minha letra. Quando acordei, contei este sonho para uma amiga. Um mês depois, o julgamento de meu ex-vizinho, acusado de assassinato, foi marcado. Ao procurar pelo local onde seria, me deparei com o código do sonho, identificando o processo. Fiquei em choque e vi aquilo com um sinal. Eu tinha que acompanhar todo o julgamento criminal, e o fiz. No fim, meu ex vizinho foi condenado à prisão perpétua pela morte da noiva”.
Mayra, que já se sentiu “pressionada e intimidada” por ser filha de Dias Gomes (autor de “O bem amado” e “Roque Santeiro”), já recebeu um recado do pai via sonho. “Ele me disse: ‘Na vida, há apenas um começo e um começo'”, nos contou enigmática. Se inspirando em Hollywood para escrever seus livros pela “cultura que gira em torno da morte”, ela entregou que ganhar dinheiro no ramo da literatura é “extremamente difícil”. Se ela pretende embarcar na carreira do pai – morto em 1999 – e escrever novelas? A resposta – e outras tantas – na entrevista a seguir!
HT: Por que se mudar para os Estados Unidos e por que escolher Hollywood?
MDG: Meu plano inicial não era me mudar para os Estados Unidos. Eu vim para Los Angeles para passar um mês de férias, e talvez encontrar inspiração para um novo livro. Acontece que me apaixonei assim que cheguei, e em seis meses acabei me casando. Me apaixonei também pela cidade, onde me sinto livre para ser quem eu sou. Então liguei para minha mãe e disse que não iria mais voltar para o Rio de Janeiro. Foi assim que fiquei.
HT: Em que lugares da capital do cinema você rodou para se inspirar? Hollywood é mais macabra que mágica?
MDG: Hollywood é um lugar mágico e inspirador, mas também tem uma cultura que gira em torno da morte e de histórias mal assombradas. Aqui nós temos diversos tours que passam por locais onde assassinatos e mortes famosas ocorreram, e muitas pessoas vão para estes lugares, pois têm vontade de ter uma experiência sobrenatural. As histórias são tão mórbidas quanto glamurosas por se tratar de Hollywood. Muitos prédios têm fama de serem mal assombrados por grandes astros do cinema, como Marilyn Monroe, por exemplo.
Inicialmente, um prédio específico me inspirou a começar a escrever o livro. Foi o primeiro prédio em que morei em Hollywood, se chamava The Hollywood Hillview. Este prédio foi construído nos anos 20 para abrigar atores do cinema mudo. Charlie Chaplin chegou a ser um dos donos. Enquanto eu morava lá minha vizinha foi assassinada brutalmente no corredor do prédio. Foi este assassinato que me inspirou a escrever “Finalmente Famosa”.
Depois disso, me mudei propositalmente para a Hollywood Tower, outro prédio com fama de ser mal assombrado. Eu escrevi grande parte do livro na Hollywood Tower, onde ainda moro. Outras partes do livro foram escritas no Hotel Del Coronado, na Ilha de Coronado, em San Diego, que tem a fama de ser assombrado pelo fantasma de uma moça chamada Kate Morgan, numa mansão que pertencia a John D. Spreckels, um dos principais investidores de San Diego, e também no cemitério Hollywood Forever. Eu queria que o livro todo fosse todo escrito em lugares considerados mal assombrados.
HT: Mas essa atração que você tem por temas macabros nasceu como?
MDG: Sou apaixonada por filmes e livros de terror desde a infância. Sempre fui fascinada por histórias de espíritos e assassinatos. Aos 6, 7 anos de idade, já escrevia peças e roteiros de terror. Era apaixonada pelo Freddy Krueger quando era criança.
HT: Pode contar a história do sonho que ajudou a dar um fio condutor ao livro?
MDG: Eu não diria que o sonho ajudou a conduzir o livro. Eu já estava terminando de escrever o livro quando tive este sonho. Eu sonhei com o espírito de um senhor que me dava um código. Eu escrevia este código em uma parede, mas não era minha letra. Quando acordei, contei este sonho para uma amiga. Um mês depois, o julgamento de meu ex-vizinho, acusado de assassinato, foi marcado. Ao procurar pelo local onde seria, me deparei com o código do sonho, identificando o processo. Fiquei em choque e vi aquilo como um sinal. Eu tinha que acompanhar todo o julgamento criminal, e o fiz. No fim, meu ex vizinho foi condenado à prisão perpétua pela morte da noiva
HT: E a do assassinato no seu prédio? Não tem medo de vasculhar e se inteirar de um mundo, para muitos, sombrio e motivo de medo?
MDG: Tenho muito mais curiosidade do que medo. Nunca passei por uma experiência assustadora, apenas experiências reveladoras. Sobre o assassinato, eu sentia que alguém tinha que contar aquela história e que havia sido escolhida. O assassino foi preso após cometer o crime, então eu não estava em perigo. Para mim é muito interessante ir ao tribunal e acompanhar estes casos.
HT: Da mesma forma com que você sonha com um espírito, por exemplo, você já sentiu a presença do seu pai, ou algo desse plano mais surreal?
MDG: Eu apenas sonhei com meu pai algumas vezes. Em um dos sonhos, ele me disse uma frase: “Na vida, há apenas um começo e um começo”. Porém, isso já tem quase dez anos.
HT: Ser filha de quem é gera uma cobrança do mercado ou até mesmo dos leitores? Você se sente ou já se sentiu pressionada?
MDG: Já me senti muito pressionada e intimidada, mas aprendi a lidar com isso e hoje em dia não me incomodo. Tenho um orgulho imenso de ser filha do Dias Gomes, um dos maiores e mais importantes dramaturgos brasileiros. Também acredito que estabeleci meu estilo e meu público. Hoje em dia não há mais tanta comparação.
HT: Quando o sobrenome atrapalha? E quando ajuda?
MDG: Não sinto que me atrapalha em nada. Pode até gerar cobranças e comparações, mas atrapalhar, nunca.
HT: E quando ajuda?
MDG: Certamente ajuda a chamar atenção, mas depois que chamo esta atenção inicial, acredito que consigo provar que tenho meu próprio talento.
HT: Já pensou em enveredar pelo lado das novelas?
MDG: Até hoje não considerei. Minha paixão é escrever livros. Porém, se surgisse um convite, com certeza pensaria duas vezes.
HT: É fácil ganhar dinheiro no ramo da literatura? Como você avalia o mercado?
MDG: Não, não é fácil. É extremamente difícil, pois a porcentagem que o autor recebe é mínima. É preciso ter muitos livros circulando para começar a ganhar alguma quantia significativa, e isso pode demorar muitos e muitos anos. Escrever livros é para quem realmente ama escrever, pois a recompensa financeira é mínima. A recompensa emocional é muito maior. Não há nada mais valioso do que o reconhecimento dos leitores.
HT: Quais são seus próximos projetos? Vai continuar buscando inspiração em Hollywood?
MDG: Planejo escrever outro livro na mesma linha de “Finalmente Famosa”. Ainda estou decidindo se será uma continuação ou não. Os leitores querem muito uma continuação. Além disso, planejo traduzir o livro para inglês, transformá-lo em roteiro e tentar fazer um filme em Hollywood.
Serviço
“Finalmente famosa”
Autora: Mayra Dias Gomes
Editora: Record
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 13,6 x 21
Páginas: 208
Ano de edição: 2015
Edição: 1ª
Preço médio: R$ 28,00
Fotos feitas por Flavia Caruso e Vinicius Mochizuki; produção e styling de Flavia Caruso; fotografia e beleza de Vinicius Mochizuki
Artigos relacionados