A exposição “Somos Memória” traz imagens de um Japão silencioso e mostra a solidão em meio a multidão


O primeiro trabalho individual da artista Ana Teresa Bello retrata o contraste entre a tradição e a modernidade do país oriental e levanta questões sobre o mundo virtual

“Somos Memória” é o nome da primeira mostra individual de Ana Teresa Bello e teve seu vernissage no dia 20 de outubro em São Paulo. A série, resultado da busca da artista carioca pela compreensão do tempo, do silêncio e do próximo, reúne imagens de uma viagem que Ana Teresa fez sozinha ao Japão. “Respiro e silêncio”, “Pequenos desvios do olhar”, “Arquitetura da luz” e “A solidão de cada um” são as categorias que compõe a exposição de 15 registros de paisagens urbanas e cenas atemporais de um cotidiano oriental fascinante. “Sempre fotografei em todas as minhas viagens, mas me deslocar com a fotografia como objetivo só se deu na minha ida ao Japão”, explicou a artista, que também trabalha como designer de interiores.

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A exposição de Ana Teresa Bello retrata um Japão silencioso (Foto: Divulgação)

Aliás, as noções de arquitetura adquiridas na profissão foram elementos essenciais para a composição das imagens, que contam com harmonia de linhas e ângulos, preservação da cena original e nada de pós-edição. Ela, que em seus registros costuma buscar a presença humana dentro das brechas de obras concretas, inspirou-se em Tadao Ando, um dos maiores arquitetos japoneses contemporâneos, e registrou um grupo de turistas como se estivessem parados dentro de uma fenda de cimento. “Misturei minha observação da área em que atuo há 10 anos, procurando exaltar o rasgo característico das construções do Tadao Ando, que pesquisei bastante nessa viagem”, explicou.

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A artista preza por traços retos e se inspira na arquitetura de Tadao Ando (Foto: Divulgação)

Além disso, ela também colocou a memória humana em foco através de suas lentes. Em imagens espontâneas que revelam detalhes, Ana Teresa mostrou que a maior parte do que lembramos, atualmente, é graças aos nossos celulares e redes sociais. “Muito me interessa o quanto o impulso de compartilhar na virtualidade, para legitimar uma experiência, arranca as pessoas de um senso de presença no real”, disse ela, que registrou uma “geisha pós-moderna” andando pela rua de Harajuku, um famoso destrito-desfile de Tóquio, solitária e alheia às pessoas ao redor, focada apenas em seu telefone. Para se afastar desse universo, a própria Ana Teresa deixou seu smartphone de lado. “Eu queria usar uma câmera que me fizesse imergir totalmente no momento, que me fizesse, inclusive, observar como as pessoas estão se isolando do mundo dentro de seus celulares”, explicou. O resultado do clique? Solidão em meio ao caos de penteados, roupas, cores, texturas e estados de espírito. “A memória é um recorte do mundo”, disse a artista.

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Ana Teresa foi ao centro de Harajuku, lugar cheio de cores e referências, para fotografar a solidão (Foto: Divulgação)

Com curadoria de Thomas Baccaro, a primeira exposição de Ana Teresa Bello propõe uma Tóquio desacelerada, totalmente diferente de como a cidade ocupa o imaginário ocidental. A artista, que em março desse ano foi selecionada para o workshop da Magnum, instituição internacional de fotografia de prestígio, aprimorou seu olhar e mostrou sensibilidade através de fotos que retratam o contraste entre a tradição e a modernidade do Japão, responsáveis por fazer dele um país singular e único. A mostra fica em cartaz na Galeria Vilanova até o dia 14 de novembro. É correr para conferir.

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Essa é a primeira mostra individual da artista e fica até o dia 14 na Galeria Vilanova, em São Paulo (Foto: Divulgação)

Serviço:
Galeria VilaNova
Rua Domingos Leme, 73- Vila Nova Conceição
São Paulo
Tel: 011 2691-1190
Horário de Visitação: Terça a Sexta com horário marcado. Sábado de 11h as 19h