Desde o dia 3 desse mês, quem visita a galeria Homegrown, em Ipanema, pode se aprofundar na “Fotossíntese”. Explicamos: o talentoso artista Smael fez uma mostra que é continuidade de uma série antiga sobre plantas até dia 3 de outubro no local. Inspirado pelo seu convívio desde cedo com a natureza, o carioca trabalha com as mais variadas espécies desde muito antes. “O tema vem de 2005. Comecei com “Plantas esquisitas”, depois fiz o “Jardim fantástico”, “Plantas do meu jardim” e agora a “Fotossíntese”, além da “Flower power”, em São Francisco, que ficou um mês e me inspirou para a nova série no Brasil”, definiu o autor das obras, assumindo que gosta de usar elementos que fazem parte de sua vida. “Estou agora de frente para a minha horta. Todos os temas que desenvolvo são parte do que vivo. Já morei em uma fazenda, minha casa sempre teve plantas e é uma justa homenagem. Estamos vivendo momentos de violência e resgatar essa temática me traz paz e preenche a vida”.
O primeiro contato de Smael com arte foi em 1997, através do grafite. Depois, inserido no mercado em quatro galerias, o artista se distanciou das ruas. “Trabalhava muito, então só pintava telas. Nos momentos de descanso não tinha ânimo para sair e grafitar, então fiquei um período sem. Isso começou a me incomodar e resolvi virar o jogo esse ano”, explicou ele, que largou uma galeria na Holanda, no Rio de Janeiro e uma outra na França e, atualmente, se dedica à Galeria Onega, também na França, onde fará sua próxima exposição de tema livre, que mistura séries abstratas e elementos de “Flower power” e “Fotossíntese”.
Apesar do tempo afastado, Smael considera o grafite sua escola e em “Fotossíntese” trouxe elementos e materiais como spray, tinta acrílica, madeira, areia, papel, cordas de nylon, terra, nanquin, guache, polímero acrílico, posca e pastel oleoso. “O grafite foi onde tudo começou e continua. Nunca deveria ter me afastado da street art, quero interagir cada vez mais com os muros e os artistas. Devo tudo que eu tenho ao grafite, que me traz muita inspiração. Quando eu queria um início de série, eu ia pra rua, porque são livres e tem a troca com o público. Nós pintamos e recebemos o feedback na hora”, disse ele, emendando que ter uma mostra na Galeria Homegrown é essencial para esse resgate. “Essa relação foi parte de tudo. Eu já queria fazer um trabalho com a Homegrown desde que começaram. Sempre acompanhei eles e surgiu o convite para fazer a exposição. Achei perfeito, como se fosse o universo conspirando”, declarou ele que, em breve, pretende fazer uma visita guiada por “Fotossíntese”.
Além de grafiteiro, o artista de dedica ao ciclismo e ao surf e já apresentou, em Paris, uma exposição sobre bicicletas que foi sucesso absoluto. “A exposição de bicicletas nasceu nos muros como protesto a favor dos ciclistas. Era forma de chamar atenção para o respeito aos ciclistas. Quando surgiu o convite para fazer uma mostra individual, nasceu a série para as telas. Foi um sucesso, vendi todas as 25 obras. A França tem tudo a ver com bicicleta e os franceses receberam muito bem um tema que amo tanto”, contou ele. Perguntado se ainda deve uma exposição inspirada no surf, o artista riu. “Penso no surf como temática e a minha próxima série vai ser no fundo do mar ano que vem”, prometeu.
Smael fez questão de frisar que suas obras são de livre interpretação. Ele, que começou a grafitar em uma época que quase não se falava disso, sempre buscou seu diferencial. “A interpretação do artista é sempre lúdica, no meu caso é uma sugestão de temas e formas. Quem vê tem vícios de olhares, limitações e opiniões. Eu sempre sugiro algo, mas gosto que desenvolvam junto comigo e, baseado nisso, chego nas minhas temáticas”, explicou ele, que, por trabalhar muito com cores, teve a ideia de, nessa exposição, colocar uma obra em terceira dimensão. “As pessoas às vezes não veem a estrutura. Na Homegrown tem uma escultura, quero que as pessoas se desprendam dos tons”, disse ele, emendando que só colore as obras depois. “Essa escultura 3D mostra de onde vem a estrutura. Sempre faço tudo em preto e branco, só depois insiro cor. Meu desenho tem dois lados: o espontâneo e o de pesquisa”, declarou.
O artista, que realiza mostras internacionais, principalmente na Europa, avaliou a dificuldade de viver de arte no Brasil, principalmente em tempos de crise. “É muito complicado, culturalmente falando. Eu trabalho nos dois mercados e vejo as diferenças. No Brasil arte é algo restrito à colecionadores e pessoas com muito dinheiro”, analisou ele, garantindo que o mercado europeu é o que o sustenta. “Na Europa a classe média compra arte. Existe a cultura de museus, mostras. Eu tive a sorte de ser adotado pelo mercado desde 2003 e viver de arte, mas é muito difícil. O que salva minha pele são as mostras internacionais”, garantiu.
Seus trabalhos fora começaram através de uma galeria holandesa que fazia feiras por todo continente europeu. “Os holandeses tem um estilo de cores rigorosas e traços livres muito parecido com o meu. Fiquei por cinco anos trabalhando lá e recebi o convite para uma exposição individual na França, foi quando fiz a mostra ‘Belezas do Rio’”, contou ele. A partir daí, os convites não pararam de chegar. “O mercado de street art em Paris é impressionante, acho que o Brasil só vai dar valor a isso daqui há uns dez anos”, opinou.
Recentemente, Smael inaugurou uma galeria alternativa na Gávea, voltada para novos profissionais. A Paçoca vive de parcerias e tem como objetivo desmitificar a questão do que é bom ser caro. “Queremos proporcionar esse intercâmbio de linguagens, somos dispostos ao novo, é um lugar caseiro de amigos”, garantiu. Para ele, a linha que une os artistas da nova geração é a criatividade. “Acho que o processo criativo, a maneira de inventar soluções e o amor pela arte é o elo principal entre todos”, declarou. De uma ligação como o amor, só pode sair arte.
Serviço:
Fotossíntese
Período de exposição: De 3 de setembro a 3 de outubro
Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 20h, sábados e feriados, das 12h às 18h
Endereço: Rua Maria Quitéria, 68 – Ipanema – RJ
Telefone: (21) 2513 2160
Entrada Gratuita/ Classificação livre
Contato: galeria@hg68.com.br
Artigos relacionados