*Por Rafael Moura
Ocupação: substantivo feminino que significa preencher. Dança: substantivo feminino que designa conjunto organizado de movimentos ritmados do corpo. E quando essas duas essências se encontram? Essa é a proposta da ‘Ocupação A língua da vértebra’, que será realizada até dia 28 de julho, no Teatro Cacilda Becker, no Rio. A dança como linguagem universal, como língua capaz de unir pessoas de todos os lugares e abraçar toda a diversidade humana. “A arte já é inclusiva por si só, porque não tem limites, não tem barreiras. Ela é um espaço livre de construção de criação para uma nova realidade, sobretudo a dança, que é um material contínuo de pesquisa e de movimento de criação artística que tem o corpo como infinito. Qualquer pessoa indiferente de sua condição física e sensorial pode explorar e deve explorar essa manifestação”, explica a orientadora Moira Braga, que exerce o mais lindo dos trabalhos e sempre foi ligada às artes mesmo depois de ter perdido a visão muito jovem por conta de uma doença degenerativa na retina.
A bailarina Nina Terra, integrante dessa ocupação corrobora com Moira sobre esse ‘não limite’ da dança. “Quando dançamos ou improvisamos, criamos uma espécie de cultura: que fala, gesticula, olha… Sinais percebidos pelos espectadores. Ao pesquisarmos, convivermos e ensaiarmos os grupos criam sua cultura, um sistema, uma identidade que é construída no fazer, na criação, na permanência e resistência, sendo preservada e reconstruída na insistência do fazer artístico coletivo. A universalidade se dá quando um grupo se afirma e se mantém re-existindo a cada vez que tomamos a decisão de estar junto mesmo diante dos desafios e obstáculos”.
Realizado por dez mulheres formandas da Escola Angel Vianna, o evento tem como eixo curatorial a relação artística com a metodologia criada pela grande dama da dança brasileira (que dá nome à escola), convidando o público a experimentar diferentes possibilidades de um corpo em movimento. “A dança nos toca num lugar muito comum, e antigo. Todos nós temos um corpo e somos capazes de dançar, afinal, um simples gesto, como acenar, pode ser dança, assim como, a ação de sentar. Muitas vezes as palavras nos escapam, e a dança tem como realizar esse papel, de dizer o indizível. É uma arte que fala do corpo, e é efêmera, o que acontece ‘no palco’ é único. Diferentemente do vídeo, da fotografia ou da pintura, a dança acontece no momento, e depois naquele. É uma expressão do aqui e agora”, enfatiza a bailarina Ayeska Ariza.
A ocupação se encerra com duas apresentações de estreia do espetáculo ‘A língua da vértebra’, trabalho resultado da conclusão do curso técnico em bailarino contemporâneo da escola. Entre as dez artistas criadoras, dez corpos e muita diversidade. Além da orientação de Moira, que traz consigo uma bagagem de sensibilidade, e do coreógrafo e bailarino Dilo Paulo, de Angola, entre as mulheres do grupo há tantas histórias quanto cabem em uma turma. “Certa vez, Angel foi ver uma apresentação de dança no hospital Hospital Sarah Kubitschek e ficou muito emocionada, porque um dos bailarinos só mexia os olhos e ela ficou extremamente tocada com a delicadeza daquele momento. Dentro da filosofia da escola cada corpo é único a gente aprende a explorar as potências de cada integrante, indiferente das condições físicas”, conta Moira Braga.
‘A língua da vértebra’ é uma criação coletiva que surge a partir de experiências sutis vividas por dez mulheres em contato com a metodologia Angel Vianna, ao longo de dois anos e meio de convivência e estudos contínuos. Angel é a grande convidada e estará presente na ocupação facilitando uma oficina e participando de uma conversa com Moira Braga, orientadora do espetáculo e artista integrante da Cia Pulsar.
Essa ruptura de barreiras para a movimentação do corpo é algo natural como no caso de Julia Severo, que descobriu seu lado artístico no canto por meio do contato com pais surdos. Ou como Rose Benzaquen, com 65 anos, que quebrou as barreiras da idade, a partir do conhecimento do corpo. “Acredito e carrego comigo que realmente a dança e a metodologia de Angel Vianna sejam capazes de se comunicar com todos, porque nos ajudam a entender, pesquisar e cuidar do nosso corpo e do corpo do outro. Elas não só nos conectam, mas também nos transformam em seres humanos melhores”, afirma o orientador Dilo Paulo.
PROGRAMAÇÃO DA OCUPAÇÃO
QUINTA 25/07
15h – Oficina Cia Pulsar
17h – Oficina Angel Vianna
19h às 21h – Conversa com Angel Vianna e Moira Braga
SEXTA 26/07
15h às 17h – oficina VIVA PELVE com Dora Selva
17h às 19h – oficina AfroGangu com Lenna Santos
20h – SoundPainting
SÁBADO 27/07
20h – Apresentação do espetáculo A Língua da Vértebra
DOMINGO 28/07
19h – Apresentação do espetáculo A Língua da Vértebra
SERVIÇO:
A Língua da Vértebra
Ingressos para o espetáculo: R$ 20 (inteira)
Teatro Cacilda Becker – Rua do Catete, 338 – Largo do Machado
INSCRIÇÃO PARA DEMAIS ATIVIDADES DA OCUPAÇÃO:
através do e-mail: laranjaturma@gmail.com
VALOR DAS OFICINAS
R$ 20 (solidário)
R$ 30 (sustentável)
R$ 45 ou mais (abundante)
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