Quem passar nesta sexta-feira (11) e amanhã pela Praça Mauá, no Rio de Janeiro, não vai nem notar a zona portuária, os prédios ali perto da Avenida Rio Branco, quiçá a estátua do Barão de Mauá. O motivo? Naquela região do Centro, das 17h até 22h, se dará início projeto Visualismo Arte Tecnologia e Cidade. Idealizado e produzido por Renata Sbardelini (Suindara Radar e Rede) e Letícia Monte (Espiral), a iniciativa tem como premissa potencializar a cena brasileira de arte e tecnologia e, ao mesmo tempo, levar a arte para espaços não institucionais, para as ruas da cidade e para perto da vida das pessoas.
“Formatamos um projeto expandido no tempo, processual, desenvolvido a partir de várias ações articuladas. Isso se desenhou com um processo de encontros, seminário, oficinas e workshops, resultando na produção de obras audiovisuais e numa grande exposição pública das obras desenvolvidas, que é o Festival”, explicou Renata em entrevista ao HT. Depois de já ter passado pelo Parque Madureira e pela Central do Brasil, o Festival vai projetar as obras no teto do Museu de Arte do Rio, no edifício A Noite e no prédios nos arredores da praça Mauá.
“Ela, no início da colonização, se chamou Largo da Prainha e tem sua história de ocupação intrinsecamente ligada à história da cidade, aos ciclos econômicos e culturais do Rio de Janeiro. Esta região segue se transformando e as construções que permaneceram ao longo do tempo refletem a diversidade de ocupações na região, e convivem, ainda sem grandes transformações, com a reforma da Zona Portuária, que apresenta um novo ciclo de transformação da cidade”, justificou – não que precisasse – a escolha.
Com a curadoria do artista multimídia Lucas Bambozzi – que contou com a ajuda de Batman Zavareze, Patrícia Moran, e Henrique Roscoe – , o projeto selecionou Roberta Carvalho (PA), Milton Marques (DF), Yuri Firmeza (PE), Lirio Ferreira (PE), Virgínia de Medeiros (BA), Alice Miceli (RJ), André Parente (MG), Marilá Dardot (MG), Caio Fazolin (SP), Duva (SP), Fernão Ciampa – Embolex (SP), Raimo Benedetti (SP), Leandro Mendes (SC), Kátia Maciel (RJ) e Marcus Bastos (SP). Além deles ainda tem as obras dos convidados Regina Silveira, Vik Muniz e VJ Spetto, que elaboraram peças especiais para a ocasião.
Querendo comunicar com toda a sociedade carioca, o Visualismo Arte Tecnologia e Cidade pensa em imprimir um novo significado ao cotidiano do Rio de Janeiro e também para a própria cidade, por que não? Mas nada que anule o que já fermenta a arte na urbe-maravilha. Ou melhor, no que ela faz fermentar. “A cidade recentemente serviu de inspiração para os filmes de animação ‘Rio’ e ‘Rio 2’, da série de filmes que compuseram o longa metragem ‘Rio, Eu Te Amo’, inúmeras canções, livros, exposições, entre outras formas de arte. Além disto o Rio tem uma grande coleção de arte pública, incluindo aqui a estátua ícone do Cristo Redentor, símbolo da cidade”, listou Letícia Monte.
Carecendo de um suporte tecnológico para as manifestações nas ruas do Rio, Letícia sabe da importância de colocar a arte e o hi tech para andarem de mãos dadas. Mas admite: “Estamos tentando descobrir e aprender com o projeto. A tecnologia faz parte da vida, assim como a arte. A questão talvez seja como estas nos ajudam a viver melhor”. O projeto, que tem realização do Pontofrio e do Ministério da Cultura por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), toma de assalto a cena carioca em meio a uma recessão econômica. E as organizadoras sabem muito bem o que significa esse momento para a arte brasileira.
“O fomento à cultura sempre é fortemente afetado em momentos de crise econômica. Isto se dá tanto pelo baixo orçamento dos governos, quanto pela estrutura mais usual de fomento empresarial, amparada nas leis de incentivo, onde a iniciativa privada depende de resultados financeiros positivos para poder investir em ações culturais”, lamentou Renata Sbardelini. Mas se, mesmo em tempos nebulosos, ela e Letícia insistiram num meio de discutir o futuro dos espaços da coletividade, talvez tenham uma receita: “Como fazer a arte dar certa em meio a selva de pedra do que o Rio se tornou?”
“Projetos de arte pública são sempre um grande desafio porque envolvem um número gigantesco de pessoas, diversas instituições, inúmeros parceiros e o poder público para acontecerem. O processo é complexo, longo e demanda resiliência, muita conversa e coragem. É preciso planejar bem todas as etapas e ao mesmo tempo estar disponível para rever e modificar este planejamento, com escuta e tranquilidade para atender às mais diversas solicitações e demandas, num grande empenho de conciliação”, deram, juntas, a dica.
Agora, como ambas finalizaram, é “rezar para São Pedro, Santa Clara, Iansã, e todo este poder oculto que controla o tempo, as tempestades e paira sobre a cidade, dar aquela força”. Estamos na torcida.
Programação:
11 DE SETEMBRO – PRAÇA MAUÁ
17h – 23h: AÇÕES URBANAS ASSOCIADOS DA GOMA E OUTROS COLETIVOS
17H30: RONALD DUARTE – Nimbo Oxalá
18H: OMULU
19H30: INTERVENÇÕES AUDIOVISUAIS (SESSÃO 1)
21H – 21H30: PERFORMANCE CLARICE LIMA – Árvores
21H30: INTERVENÇÕES AUDIOVISUAIS (SESSÃO 2)
12 DE SETEMBRO – PRAÇA MAUÁ
17H – 23H: AÇÕES URBANAS ASSOCIADOS DA GOMA E OUTROS COLETIVOS
17H30 – 18H30: FESTA PHUNK!
19H30: INTERVENÇÕES AUDIOVISUAIS (SESSÃO 1)
20H45 – 21H30: CHELPA FERRO
21H30: INTERVENÇÕES AUDIOVISUAIS (SESSÃO 2)
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