Rótulos da vinícola chilena Estampa voltam ao menu de restaurantes e empórios brasileiros


Vinhos produzidos no Valle do Colchagua passaram dez anos sem representante no país. A enóloga da vinícola, Johana Pereira, antes de vir ao Rio dia 10, conversa sobre vinhos com o site Heloisa Tolipan

Parte do clima perfeito para o cultivo de vinhos no Valle do Colchagua se deve à Cordilheira dos Andes, que traz a água do degelo e barra os ventos (Foto: Divulgação)

*Por Jeff Lessa

Há dez anos, os rótulos da vinícola chilena Estampa não têm representação no Brasil. Situada no Valle de Colchagua, na região central do Chile, a vinícola se beneficia de condições geográficas únicas, que geram um clima mediterrâneo com estações definidas, extremamente favoráveis à produção de vinhos de altíssima qualidade. Neste mês, porém, nove vinhos da Estampa voltarão ao menu de restaurantes e empórios cariocas pelas mãos da importadora Hannover. Inclusive o célebre Estampa Gold Carmenère, tinto que também leva as castas syrah e cabernet sauvignon, cotado com 90 pontos no “Wine Advocate”, do aclamado crítico americano Robert Parker.

De acordo com o proprietário da Hannover, Niels Bosner, os vinhos da Estampa passaram tanto tempo afastados do mercado nacional pela falta de uma estrutura capaz de distribuir seu produto em todo o país.

–  Os vinhos que estão chegando ao Brasil são modernos, todos feitos a partir de assemblages, e têm preços interessantes – conta. – Em breve eles vão lançar uma linha italiana somente com uvas tintas e brancas plantadas no Valle de Colchagua.

A sede da Vinícola Estampa, no Valle do Colchagua, tem uma arquitetura que impressiona por suas linhas moderna e arrojadas

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Enóloga da vinícola Estampa, Johana Pereira conversa sobre vinhos com o site Heloisa Tolipan

Ela acredita que o melhor caminho para o Brasil seria apostar na produção de espumantes de alta qualidade

Johana Pereira, enóloga da Estampa, estará no rio no dia 10 para falar sobre os vinhos da Estampa

Enóloga da Vinícola Estampa, Johana Pereira falou sobre o que torna o Valle de Conchagua, região ainda pouco conhecida por aqui, tão especial. Conversamos também sobre vinhos brasileiros e sobre o trabalho dela, que já foi incumbida com a árdua missão de transformar totalmente o perfil de uma vinícola chilena em uma empresa cujo produto nada fica a dever aos melhores exemplares do mundo da bebida. (Sim, ela cumpriu a tarefa.) No próximo dia 10, a bela Johana estará no Rio de Janeiro, onde falará sobre os vinhos da Estampa durante um almoço para plateia de convidados, no restaurante Mr. Lam.

SITE HELOISA TOLIPAN: Há dez anos, a senhora foi responsável por mudanças radicais na vinícola Bisquertt. Como uma enóloga trabalha para mudar o perfil da produção de vinhos de uma vinícola? O que o vitivinicultor necessita fazer, na prática, para que seus vinhos passem de uma bebida de qualidade mediana a excelente?

JOHANA PEREIRA: As mudanças acompanham a estratégia e o mercado alvo. Nós, enólogos, temos a missão de identificar o potencial da uva e encontrar a combinação que permita obter um vinho que interprete de maneira honesta o lugar de origem e a variedade. Ao mesmo tempo, é necessário trabalhar de forma coordenada com o vinicultor e transmitir claramente o que se está buscando. Conjugar o trabalho vinícola e enológico em uma busca de identidade é determinante para que o resultado seja excelente.

HT: A senhora trabalhou nos Estados Unidos e na Argentina antes de atuar no Chile. Como foi a experiência nesses países?

JP: Foram experiências muito distintas da que eu vivo no Chile. Na Califórnia fiz parte do desenvolvimento de um belo projeto da E&J Gallo (Vinícola e distribuidora com sede em Modesto, Califórnia. Fundada em 1933 por Ernest e Julio Gallo, é a maior exportadora de vinhos da Califórnia.) Trabalhei com enólogos de vários países e de maneira transversal com variedades (de uvas) diferentes. Tive também a oportunidade de participar de atividades relacionadas à definição do estilo dos produtos. Na Argentina, participei de maneira pontual da avaliação de processos muito específicos.

HT: E como é trabalhar no Chile?

JP: No Chile, minha experiência tem sido muito mais intensa e abarca áreas distintas, que vão de acompanhar a vitivinicultura até o controle do envasamento. Trabalhei apenas para duas empresas, ambas conchalguinas e familiares, nas quais as relações entre patrões e funcionários é muito estreita. As empresas para as quais eu trabalhei nos Estados Unidos e na Argentina eram muito diferentes.

HT: A senhora planeja novidades ou mudanças para os vinhos da Estampa?

JP: Estamos trabalhando na linha Innovación, alguns até já fazem parte do nosso portfólio atual. Em junho, vamos lançar a linha Inspiración, constituída por três vinhos da região de Paredones, incluindo um blend com cepas brancas italianas. Este projeto está sendo desenvolvido e já tem pequenas produções industriais engarrafadas.

HT: O que torna o Colchagua uma região especial para a fabricação de vinhos? Qual a especificidade da área e o que os vinhos produzidos ali têm de único?

JP: Sua topografia e sua clara definição entre as zonas de Cordilheira, Entre Valles e Costa. A marcada diferenciação dos solos entre a cordilheira e o mar: solos alúvio-coluviais (solos que ocorrem ao pé de encostas e escavações), mistura de alúvio-coluvial com argila e solos graníticos. A combinação disso com o clima excepcional fazem do Colchagua um lugar ideal para a produção de vinhos de qualidade.

HT: Como vai a produção de vinhos no Chile? É um bom momento para a vitivinicultura do país?

JP: A produção de vinhos se caracteriza por ser bastante cíclica. Acredito que atualmente, em alguns níveis, a situação seja um tanto complexa. No entanto, quando pensamos na produção de vinhos de qualidade e baixo volume (de produção), sinto que se abriram oportunidades interessantes. A produção em termos qualitativos está ótima. Em relação à realidade comercial, varia de acordo com o modelo de negócio.

HT: Poderia comentar brevemente as principais diferenças entre os vinhos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros?

JP: Sem conhecer profundamente os vinhos dos três países, identifico o Uruguai com os interessantes Tannat, a Argentina com os atraentes Malbec e o Brasil com os extraordinários espumantes. Acredito que a principal diferença com os vinhos chilenos está na nossa capacidade de produzir uma maior diversidade de cepas com as quais podemos obter bons resultados comerciais.

HT: Sabe algo sobre a produção de vinhos no Brasil? Se sim, quais são as regiões com maior potencial de crescimento nos próximos anos? Atualmente mais de dez estados produzem a bebida no país.

JP: Do Brasil, conheço e admiro a capacidade de produzir espumantes de qualidade. Também provei Pinot Noir e Cabernet Franc interessantes do Rio Grande do Sul. E sei que há zonas produtoras mais ao norte e na região de fronteira com o Uruguai, mas não tive a oportunidade de experimentar esses vinhos. Se pensamos em produtos de qualidade, acredito que, sem dúvida, a consolidação da produção de espumantes no Brasil é o que teria um maior potencial imediato.