Roberto Bitelman, dono do selo Sul Hotels, fala sobre os problemas do turismo no país e os destinos que estão entrando na rota dos brasileiros


O empresário, que representa cerca de 20 hotéis da América do Sul, analisa o fracasso do Brasil no universo do turismo: “O Ministério, como a Embratur, viraram parte do fisiologismo político brasileiro”

Basta meia hora de conversa com Roberto Bitelman sobre sua empresa, A SUL Hotels, agência que representa os mais charmosos e exclusivos hotéis na América do Sul, tais como os Lodges do Mountain Lodges of Peru, para a gente se apaixonar pela ideia e o conceito por trás do projeto. Fundada por Roberto em sociedade com Guilherme Alvarez de Toledo Padilha, empresários brasileiros, com 12 anos de experiência no segmento de viagens personalizadas com ênfase em países da América do Sul, o selo é a primeira coleção de hotelaria focada exlusivamente em América do Sul.

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Roberto Bitelman, o nome por trás do selo Sul Hotels

“Percebi que, apesar do considerável número de hotéis e barcos de pequeno porte que ofereciam serviços e estrutura excelentes, era difícil encontrá-los juntos em um grupo selecionado. A SUL Hotels nasceu, portanto, com o objetivo de reunir os melhores hotéis e barcos da região, tornando-se uma referência  para quem procura por experiências inesquecíveis neste, não tão grande, mas multifacetado pedaço de terra chamado América do Sul”, contou Roberto, que tem um histórico de viagens de mais de uma década.

Nestes anos, ele esteve em todos os melhores (e também nos mais escondidos) destinos do continente, garimpando as verdadeiras jóias locais, sempre em busca de oferecer experiências marcantes, que integrem o viajante com as características típicas da região explorada. “Selecionamos e promovemos estabelecimentos (hotéis e barcos) de pequeno porte, que ofereçam contato íntimo com a cultura do lugar onde estão”, explicou Roberto.

Nosso primeiro contato com o empresário, aliás, foi durante a nossa incursão pelo Peru Profundo proposto pela Lares Adventure, representada por ele no Brasil. Roberto foi um dos nossos anfitriões e sempre tinha uma história interessante para contar e uma dica para dar. E foi por isso que a gente resolveu trazer estas conversas aqui para o site e, também, para poder conversar sobre a Sul Hotels, mas o papo, claro, foi além e coube ainda divagações sobre o turismo brasileiro, as políticas erradas do ministério, lembranças de viagem e muito mais. Vem com a gente:

HT: Qual sua primeira lembrança de viagem?
RB: Da infância, para a “prainha”, como chamávamos a Praia de Santiago (litoral Norte SP), onde ia com minha família e outras famílias amigas, que dividiam uma casa de pescador, bem simples e acolhedora, com uma varanda enorme. Da fase adulta, minhas primeiras lembranças são da Chapada Diamantina, um dos lugares mais interessantes e bonitos que já fui.

HT: Como começou a história de trabalhar com o universo do turismo?
RB: Justamente por causa da Chapada Diamantina. No meio da faculdade, eu comecei a frequentar o destino com amigos uma, duas, três, quatro vezes… Até perceber que tinha uma paixão especial pelo lugar e que só via dois tipos de turistas por lá: os totalmente independentes e os que iam com operadores tradicionais, num esquema de guia com bandeirinha, levando 20/30 pessoas. Pensei que havia uma lacuna aí, para a pessoa que quer ter um apoio, uma estrutura e boas orientações, mas gosta de flexibilidade, quer mandar no seu próprio tempo (principalmente nas férias).

HT: E como a Sul Hotels entrou na sua vida?
RB: Surgiu da visão de que existem muitas “jóias” da hospedaria no Brasil e na América Latina, de pequeno porte, mas que muitas vezes não são conhecidas e não conseguem atingir seu público alvo. A idéia do selo SUL Hotels é dar credibilidade para este tipo de hospedagem (que também oferece muito conforto, charme, excelente serviço, boa localização e valoriza a cultura da região onde está inserida), e implantar uma plataforma comercial que possibilite que estes hotéis tenham maior presença e, principalmente, capilaridade no mercado comprador brasileiro. Ou seja, ajudar o hotel a chegar ao seu público alvo, e dar mais tranquilidade para este público na hora de escolher um hotel deste tipo, que muitas vezes estão em lugares remotos. O tiro tem que ser certeiro.

HT:Como é o processo de curadoria de escolha dos hotéis?
RB: Os critérios para convidar um hotel a fazer parte do selo são estes mencionados acima. Mas também levamos muito em consideração a empatia que temos com os proprietários do hotel e com a visão deles. Essas questões se refletem fortemente no produto final.

HT: Quais seus lugares favoritos no mundo? E quais os hoteis favoritos no mundo? E por quê?
RB: São tantos…mas para dizer apenas dois: O Vale Sagrado no Peru, que abrange atrativos bem conhecidos e, ao mesmo tempo, esconde preciosidades culturais e históricas que me surpreendem a cada visita (e olha que já fui mais de 10 vezes pra lá). E os Lodges do Mountain Lodges of Peru são a melhor forma de explorar a região, com conforto, charme e muita imersão cultural. E para não repetir Chapada Diamantina, cito a Amazônia, em especial a região do arquipélago de Anavilhanas (a 2h30min de Manaus). Natureza impressionante, muitas atividades, comida boa, passeios de barco e hidroavião (e não tem mosquito). Imperdível se hospedar no Anavilhanas Lodge.

©AndrŽ Conti/2014

Roberto Bitelman em uma de suas muitas reuniões para tratar de turismo na América do Sul

HT: O que um hotel precisa ter para ser perfeito?
RB: Alma, profissionais da linha de frente alegres e bem treinados, boa comida (mesmo que só sirva café da manhã) e excelentes abajures para leitura nos quartos.

HT: Quais suas próximas apostas no mercado de turismo? 
RB: Acredito muito no aumento de procura por destinos na América Central e Caribe, pela maior oferta de vôos e pela busca de destinos fora do comum, como EUA e Europa.

HT: Por que o Brasil não consegue deslanchar no universo do turismo? Quais são nossos maiores erros?
RB: Nosso principal erro é a promoção, principalmente internacional. Entre 2002 e 2005 (se não me engano), tivemos um trabalho muito sério de identidade turística e foco em promoção. Tínhamos profissionais muito capacitados, liderados pelo presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, e as motivações eleitoreiras não prevaleceram neste período. Depois disso, com raras exceções, tanto o Ministério do Turismo, como a Embratur, viraram (ou voltaram a ser) parte do fisiologismo político e estamos empacados desde então, nunca passando de 5 ou 6 milhões de turistas por ano no Brasil. Se não me falha a memória, cidades como Las Vegas e Orlando – sozinhas – recebem mais de 30 milhões de turistas por ano. Devem levar o assunto turismo muito mais a sério que nós…É uma grande pena, já que o turismo traz frutos tão bons em tantas vertentes, gera muita renda e emprego de bom nível, além de valorizar nossa cultura. Na América Latina, admiro muito o trabalho que a Promperu (órgão responsável por promover o Peru) faz. Dá um show no Brasil.