O segundo dia em Cusco começou cedo para que tivéssemos tempo de fazer tudo o que a turma da Lares Adventure tinha preparado para a gente. Depois de um café da manhã reforçado, era hora de ganhar as ruas de uma das cidades mais importantes do Peru – e o epicentro do território Inca – em busca de uma experiência autenticamente cusquenha. O primeiro passo? Uma curta caminhada até o Mercado de San Pedro, uma espécie de Mercado Central de Cusco, onde se encontra de tudo um pouco. E esta não é uma figura de linguagem. Quando digo tudo, é tudo mesmo.
Por lá, é possível descobrir alguns dos mais de 3 mil tipos de batatas – e para quem só conhecia três tipos (baroa, doce e inglesa) isso é uma grande novidade – outros 2 mil diferentes espécies de milho, os ajis, ou pimentas, que são a base de quase todo tempero de qualquer receita, e outras frutas locais como o Tumbo e a Granadilla, dois tipos da família do maracujá: um mais ácido e outro mais doce; Lucumã, que se parece um abacate, só que amarelo; chirimoya, que me lembrou muito a fruta do conde; e o pacay, que é bem próximo do Ingá.
Além de frutas e legumes típicos, que são uma explosão de cores e sabores, também se encontram itens bem peculiares e que valem uma visita. Nas barracas de poções mágicas, pode-se descobrir doses de produtos que prometem devolver o vigor sexual, curar doenças e até amarrar o amor. Entre uma bruxaria e outra há esqueletos de babys lhamas, que também são usados como componentes das poções, e até pacotes completos em uma espécie de kit oferenda, com todos os itens indispensáveis para um trabalho espiritual. Simples assim e de fácil acesso em troca de alguns poucos soles, a moeda local.
Outra área bem diferente era a das carnes, onde nos deparamos com clássicos, como fígados e estômago (ou bucho) de boi, até algo, digamos, mais raro, como focinhos de lhamas, que viram sopa, e carne de Alpaca, uma prima distante da lhama e dos camelos. Na mesma seção de aspectos culturais diferenciados podia-se escolher refeição completa – servids da hora que se abre, às 5h até o momento em que as portas são fechadas, no fim da tarde. Era por volta das 10h e via-se peruano comendo sopas de macarrão com milho e frango, porcos, porquinho da índia, que aqui é chamado de Cuy, e tomando todo tipo de sucos de frutas, que, ao que parece, cai bem em qualquer horário do dia. Eu preferi não me arriscar e segui pesquisando, cheirando, tocando e perguntando sobre tudo o que via pela frente. Uma boa dica para este ou qualquer outro mercado local em Cusco ou nos arredores do Vale Sagrado: nunca aceite de primeira um preço oferecido. Regateie, barganhe e negocie sem constrangimento. Até por que, eles (os peruanos) não têm o menor pudor em ser insistentes com suas vendas e abordagens com ofertas de serviços.
Depois de descobrir tantos detalhes gastronômicos e folclóricos da cultura peruana, era hora de voltar no tempo e adentrar o Qorikancha, um lugar que na era Inca funcionava como um espaço de adoração, algo como um templo, e pequenas huacas, ou se fizermos um paralelismo com a religião católica, capelas alinhadas em seu entorno, que, diz a lenda, era dedicado ao deus Sol e decorado com ouro. Muito ouro. O lugar, um centro importante para a comunidade inca por muitos anos, foi quase completamente destruído e saqueado pelos invasores espanhóis que trataram de construir por cima das preciosidades arqueológicas a igreja e o convento de Santo Domingo. Hoje em dia, com a preocupação da preservação da história, o lugar foi reaberto como um centro de visitação, onde a gente consegue descobrir um pouco sobre os rituais, crenças e a evolução de uma sociedade incrivelmente intrigante.
Dali, já na hora do almoço, atravessamos a cidade até chegar ao restaurante Incanto, um dos mais famosos de Cusco, onde se mistura a culinária andina com toques contemporâneos. Seguimos, já almoçados, em direção à Plaza de Armas para uma visita à catedral da cidade, com altares que são verdadeiras obras de arte barrocas, e voltamos ao hotel El Mercado para uma reunião com os guias que iriam nos acompanhar nos dias seguintes na rota Lares Adventure, que nos levaria a desbravar a região do Vale Sagrado até Machu Picchu. Mas isso é papo para amanhã.
Leia mais: O primeiro dia no Peru e a entrevista com Enrique Umbert, diretor geral da Lares Adventure
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