Na semana em que a Chilli Beans se lança como grife de roupas, Caito Maia fala ao HT: “Tem que ser maluco para investir. Mas a gente gosta de encrenca”


Enquanto o Chilli Beans Fashion Cruise zarpava próximo a Búzios (RJ), o todo-poderoso da grife contou que ampliará território fincando lojas na Tailândia, mas com a cabeça em um desafio antigo: “As 15 lojas que temos nos Estados Unidos são os nossos grandes alvos para dar certo”

Feche esse texto agora se você ainda não ouviu, não importa em qual contexto, um papo de crise por aí. Ciente de que ainda temos você por aqui, caro leitor, comece a entender que a recessão econômica (ela existe, é só abrir o caderno de economia do jornal mais próximo) não atinge quem tem jogo de cintura e pensamento visionário. Ou melhor, nesse caso, quem tem uma boa dose de pimenta – e malagueta! Um bom exemplo desse papo é Caito Maia, o todo-poderoso da Chilli Beans – a mais apimentada grife de óculos, relógios e acessórios em geral. Em conversa com HT enquanto o MSC Splendida (maior transatlântico que já singrou os mares brasileiros) navegava no circuito Santos-Búzios-Ilhabela-Santos sob a alcunha de Chilli Beans Fashion Cruise; Caito adiantou: vai abrir 100 novas lojas em 2016, fechando o ano com cerca de 800 pontos de venda.

Caito Maia (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)

Caito Maia (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)

Nesse momento no qual muita empresa está fechando as portas, demitindo funcionários e cortando gastos, a Chilli Beans rema contra a maré. A lente de Caito para o momento? “Meus óculos, em tempos de crise, têm lente vermelha, apimentada. Eu visitei algumas lojas do interior e meus gerentes falavam: ‘Tem gente querendo comprar meu produto, mas não tem dinheiro’. Foi quando eu diminuí o preço das peças. Com isso, meu giro aumentou em 10%”. E os planos são mais ousados ainda: 12 lojas na Tailândia, estreando o mercado asiático, em um mês e meio; além de passar a vender os óculos da grife em óticas, e não mais apenas em lojas próprias. “Quero com isso, um aumento de 40% de vendas no atacado”.

Lançando quatro novas coleções simultâneas (Cazuza, Beatles, Nirvana e Alexandre Herchcovitch – esta, com pegada noventinha, que a grife enxergou, há um ano, como forte tendência), a Chilli Beans, desde 2000, quando o primeiro quiosque num shopping foi aberto, não conversa olho no olho com a sazonalidade da moda (leia-se: outono/inverno e primavera/verão). Se você entrar uma vez por semana, sequencialmente, em uma loja da grife, encontrará novas peças. Exagero enquanto se discute o caráter obsoleto do mundo fashion? “Desde o começo desencanei da sazonalidade. E sei que muita marca gostaria de não ser escrava disso, como a gente não é”.

Caito Maia durante o Super Dose Chilli Beans Fashion Cruize - Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press

Caito Maia durante o Super Dose Chilli Beans Fashion Cruize – Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press

Caito continua: “Nós não temos estoque. Tudo que lançamos, vendemos”. O mesmo resultado quer, agora, conseguir vendendo roupas (um mercado, para o empresário, muito “competitivo”). Explicamos: a Chilli Beans passará a ser marca de vestuário. A novidade é fruto de uma parceria com o grupo AMC, maior conglomerado de marcas da América Latina – com grifes como Colcci, Fórum e Triton sob seus braços. “Várias marcas procuraram a gente para isso. Nós queremos a democratização da moda. E, em tempos de dólar nas alturas, você tem que ser meio maluco para investir. Mas a gente é louco e gosta de encrenca”, provocou.

Loucura, aliás, foi o próprio navio em que essa conversa aconteceu. “Depois da correria da primeira edição do Chilli Beans Fashion Cruise, tivemos a adesão de marcas fortes na sequência. Tem que ser louco para fechar um navio como esse. Mas cerca de 400 pessoas não conseguiram embarcar por falta de vaga”, vangloriou-se. Coisa de quem tem um mantra: “Vamos esquecer a palavra crise”. Caito explica: “A gente não ficou sentado e chorando. Adaptamos preço a consumo. Quanto mais mexermos no molho, mais adesão teremos”. Um tempero plus, no entanto, precisa ser jogado no caldo americano. “As 15 lojas que temos nos Estados Unidos são as nossas maiores dificuldades. São os nosso grandes alvos para dar certo lá”, admite.

Caito Maia durante Super Dose Chilli Beans Fashion Cruize - Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press

Caito Maia durante Super Dose Chilli Beans Fashion Cruize – Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press

Nada muito desesperador para quem viu a Las Chicas Tienen Fuego, sua banda de rock, dar um tempo e, na sequência, ter tentado ganhar a vida trazendo óculos dos Estados Unidos, onde morava. O final dessa história ou está em seu rosto ou na caixinha de óculos de sol mais próxima, leitor. Haja crise ou não, o Sol sempre vai raiar. E nada melhor que mexer o molho protegido.

 A coleção

A moda da Chilli Beans é comercial. A presença estratégica da logomarca nas T-shirts é só o começo dessa conclusão. O desfile da primeira coleção, apresentado com exclusividade aos convidados do Chilli Beans Fashion Cruise, foi claro e conciso para passar o recado: é moda para já, para agora – principalmente num tempo onde esperar é perder dinheiro e muita elaboração acarreta em aumento de custo. Urbana, casual, é a cara dos looks padrões de lojas multimarcas – afinal, é onde você poderá encontrá-los. A cartela de cores? Cinza e P&B tomaram as atenções de assalto -, bem como a unidade do que foi proposto. Looks detonados – o homem e a mulher da Chilli é cosmopolita, onde o “mais” não é over, se carregado com estilo -, fizeram companhia a detalhes na barra das peças, com cortes sem uniformidade.

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*O jornalista viajou a convite da Chilli Beans e da Dreamworks