Embora o espírito possa ser carioca e o carinho pelo nosso país explícito, o sotaque não deixa mentir: o coração pode até ser brasileiro, mas a origem é francesa. No ar há dez anos no programa “Que Marravilha”, do GNT, Claude Troisgros contou ao HT que vai esbanjar seu português em mais um trabalho à frente das câmeras: o chef vai participar do filme “Duas de Mim”. Apesar de não poder contar muito e de ainda não ter começado a gravar, Claude nos adiantou que vai interpretar um personagem que conhece muito bem: ele mesmo. Sobre a experiência dentro dos sets, o francês nos disse que hoje em dia já está acostumado. Mas que, no começo, não era tão fácil assim. “Quando tem uma câmera, não tem como não ficar travado e tímido. Vai estar todo mundo me olhando, né?”, brincou.
Realmente, o nosso país está presente em muitos cantinhos da vida de Claude Troigros. Na sua especialidade, a culinária, o chef disse que não abre mão de usar ingredientes brasileiros. Segundo ele, a dobradinha franco-brasileira em seus pratos é feita pela combinação das receitas e técnicas de sua terra natal com produtos do país adotado. “A característica dos meus pratos é sempre ter um ingrediente brasileiro. Eu valorizo muito os produtos daqui, principalmente os legumes e as frutas. Eu, meu pai, meu avô e meu filho, todos nós temos uma pitada de acidez como marca Troigros. Então, as nossas comidas sempre vão ter um limão, vinagre, maracujá e tomate, por exemplo, para garantir isso. Sempre algo que dê água na boca”, afirmou. E nós já ficamos imaginando algumas delícias.
E ter uma profissão como tradição da família já é algo normal entre os Troisgros. Claude, que cresceu vendo a avó cozinhar – e relembrou as memórias do nhoque que sua nona fazia no livro “Comida de Afeto” –, é pai de Thomás e Carolina, que também já estão entre as panelas. Thomás, além de totalmente responsável pela cozinha do Olympe, restaurante da família na Lagoa, também é autor da (ma-ra-vi-lho-sa) receita do hambúrguer do Reserva T.T. Burguer, aqui no Rio. Já Carolina, é quem gere as finanças dos chefs. “Minha filha faz toda a parte administrativa do grupo com o marido Marcos, e eles fazem um trabalho incrível. Hoje em dia, com o Brasil passando por essa crise, eles são as principais pessoas que garantem o rumo financeiro adequado para nos mantermos presente no mercado. Então, são os dois filhos e mais o genro no meio culinário. Tudo em família! E eu sou o papai que controla tudo”, disse Claude animado e orgulhoso.
E por falar em crise… Apesar de garantir que a decisão fora tomada antes da atual situação econômica do país, o chef francês disse ao HT que o restaurante CT Trattorie, que tem na Lagoa, dará lugar ao CT Boucherie. Segundo ele, a mudança é uma estratégia para aumentar o movimento. “Vamos mudar o conceito de Trattorie para Boucherie. Aquele ponto onde hoje é o restaurante é da família há 15 anos, já passou por três reformas e outros nomes também. Mas é um local meio estranho, é fora de mão e não é fácil de estacionar. A Trattorie teve o seu momento bom, mas, caiu agora com a crise. Por isso, decidimos que chegamos em um momento de rever o conceito e dar uma nova energia à essa casa”, explicou. E, como alternativa para fugir da crise, assim como grande parte da população, Claude contou que vêm revendo os custos, tentando reduzir o máximo possível dos gastos e controlando mais. E completou: “Estamos conseguindo”.
Mas, para nós que nem sempre temos o dom da culinária no sangue, Claude deu uma dica bem simples para garantirmos boas refeições, apesar da crise: “Cozinhe em casa”. De acordo com ele, para quem não sabe administrar as panelas muito bem, a saída é aprender. Porém, para quem já tem intimidade, ele foi além. “Para quem sabe cozinhar, tente fazer o melhor possível com bons produtos e, ao mesmo tempo, mais baratos. Saber a época dos alimentos para ver qual está mais barato e cuidar deles é muito importante. Isso que um restaurante costuma fazer em um momento de crise: usar ao máximo os produtos de maneira inteligente e técnica sem ter perda. O lucro está no lixo”, recomendou o chef.
Na gastronomia, assim como em qualquer profissão, o reconhecimento é sempre um objetivo. Entre os restaurantes, premiações como as estrelas do Guia da Michelin, são o desejo de muitos chefs. Para Claude, que recebeu uma das três estrelas desta premiação em 2015 – nenhum restaurante avaliado recebeu o máximo –, esses reconhecimentos ajudam a levar e trazer de volta clientes para os estabelecimentos. Mas, segundo ele, tem um outro fator relevante envolvido. “Eu acho que é importante para qualquer chef e qualquer restaurante ter uma ideia do que representa para o público o local em si. Um lugar muito importante é estrelado, e eu acho que isso te faz realizar um bom trabalho para o cliente voltar. Mas a gente vive em um sistema muito grande de ego, em que o fato de você receber nota, estrela e prêmio levanta sua autoestima. E isso, de certa forma, é importante para valorizar a profissão, o restaurante e o chef. Eu acho que não pode pirar por ter muitas ou poucas estrelas, faz parte da regra do jogo”, argumentou.
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