* Por Carlos Lima Costa
Profissionalmente, o ator Joaquim Lopes vem investindo na verve apresentador – recentemente esteve à frente do Cook Island – Ilha do Sabor, reality gastronômico do GNT – e empresário formado em Gastronomia, e está às voltas com o projeto de um restaurante. Mas as filhas gêmeas, Pietra e Sophia, de um ano, do casamento com a cantora Marcella Fogaça, são prioridades na vida dele, desde que realizou o sonho da paternidade aos 40 anos. A presença das meninas tem sido vital para Joaquim seguir forte depois de enfrentar a dor da morte do pai, Antonio Lopes, cinco meses depois do nascimento das bebês. “Eu sempre quis ser pai, era um sonho de criança ter uma família grande, porque venho de uma assim. Eu tenho quatro irmãos, um por parte de pai e mãe, e três por parte de pai, além de muitos primos. A casa estava sempre cheia, a ceia de Natal era com todo mundo junto. Mas aconteceu um joguete do destino, porque perdi o meu pai cinco meses depois de as meninas nascerem. Tive uma referência paterna maravilhosa e a última frase que falei para ele foi: ‘Você vive agora em mim e nas minhas filhas e vou fazer a minha vida ser tão maravilhosa para honrar a sua que foi tão incrível’. Ah, vou chorar aqui… A paternidade trouxe essa perspectiva, esse novo gás. Sou grato a Deus pelas meninas terem aparecido na minha vida”, desabafa, emocionado.
A segurança que Joaquim percebia em seu pai é um dos ensinamentos que deseja transmitir para as filhas. “Meu pai era uma rocha, um porto seguro. Podia estar no avião com uma turbulência horrorosa, mas estava sempre sereno. Ele transitava muito bem pelas turbulências da vida, inclusive. Pra mim, foi importante saber que a pessoa que estava comandando o barco da minha família estava sempre sereno. Passar essa segurança é fundamental. Ele criava um ambiente seguro para que o filho pudesse se desenvolver na sua potência máxima, sem medo de arriscar, de se encontrar, se entender e se tornar um ser humano forte, contribuir com o mundo e não apenas viver”, avalia.
Além dessa segurança, Joaquim explica como ele e a mulher conduzem a educação das meninas: “Graças a Deus, está havendo uma mudança de paradigma comportamental na sociedade que demorou para acontecer: o advento da mulher realmente ocupar o lugar que ela merecia desde sempre. Então, eu e a Cella temos uma grande preocupação de continuar esse processo e de transformá-las em duas mulheres fortes e cientes de quem elas são”, ressalta Joaquim.
Pais de meninos precisam educá-los para que no futuro eles não sejam machistas, nem misóginos e tenham respeito pelas mulheres – Joaquim Lopes
A paternidade mudou a perspectiva de Joaquim. “O que importa na vida é o bem estar, a saúde das minhas filhas. Quando se torna pai, você tem que abrir mão de você, tem que se doar completamente. Em um primeiro momento, quem está ouvindo pode achar isso assustador, mas, ao contrário, é libertador e é muito bom essa sensação de se doar”, pontua.
No Brasil, existe uma sociedade muito machista. Quase que diariamente, se vê estampadas em sites e jornais manchetes sobre feminicídio e agressões às mulheres. Em meio a tantas notícias ruins, ele explica como fica a cabeça do pai Joaquim diante do futuro que as duas vão encontrar. “Esta é uma preocupação muito presente tanto em mim quanto na Marcella. Mas, os pais de meninos precisam educar os filhos para que não sejam machistas, nem misóginos, tenham respeito pelas mulheres e saibam que os pais cresceram em uma sociedade na qual o machismo era estrutural. Tomara que sejam pais em desconstrução. Tem que criar meninos feministas. Caso contrário, a gente coloca mais uma vez sobre elas a obrigação de algo que elas não têm o que fazer. A preocupação tem que ser dos homens. É importante e urgente que isso aconteça. Os pais é quem têm que assumir a responsabilidade por esse machismo intrínseco que existe na sociedade e fazer algo para mudar e não as mulheres”, assegura Joaquim.
“Nesse momento, a minha atenção e a da Marcella está muito voltada para crianças, a todo tipo de ajuda que a gente puder dar para a causa infantil. Eu trabalhei muito tempo também com o pessoal do GRAAC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer)”, relembra Joaquim, que mostra otimismo em relação ao Brasil, que passa por momento de extrema polarização por conta da questão política.
“Eu sempre acredito que as coisas vão melhorar e têm que melhorar, não temos outra opção. A polarização é burra. Não se consegue andar se a gente se recusar a ouvir o outro lado. Precisa estar sempre aberto a novas ideias. Isso é a democracia. Temos a nossa opinião, ouvimos a opinião do outro, trocamos ideias e achamos um denominador comum. Quando se fala em polarização, pensamos logo em uma escolha presidencial. Mas tão importante quanto é escolher os deputados e todo mundo que está ali em volta desse presidente. Para fazer a melhor escolha possível, devemos pesquisar sobre os candidatos, entender quais são as propostas deles. E, como cidadãos, temos a obrigação e o dever de cobrar os governantes. Agora, a polarização não acontece só no Brasil e vemos que não dá certo. Todo radicalismo é improdutivo”, analisa Joaquim.
FOCO NA CARREIRA DE COMUNICADOR E NA INAUGURAÇÃO DE TRATTORIA
Joaquim não deseja exatamente abandonar a ficção, na qual esteve presente em novelas como Sangue Bom, Império, Orgulho e Paixão e Malhação – Toda Forma de Amar, seu mais recente trabalho como ator, exibida até abril de 2020. Ele que, entre 2016 e 2018, marcou presença no comando do Vídeo Show, tem nos últimos anos focado mais em seu lado comunicador/apresentador, comandando programas e eventos, e também à culinária, paixão que surgiu antes do desejo de ser ator. Joaquim, inclusive, é formado em Gastronomia e durante o isolamento social ministrou um curso de gastronomia com a renda doada para instituições de caridade.
“Graças a Deus, nunca precisei escolher. Eu consegui transitar bem entre a dramaturgia e o entretenimento, que acabou se tornando mais forte. Foi o lugar onde eu me encontrei mais, onde eu tinha possibilidades de crescer e de apresentar as minhas ideias. O ator está sempre na paralela. Sou fã de cozinha de caldeirão, então, gosto de ter todas as possibilidades no meu caldeirão e não tiro nenhum ingrediente. São paixões e lugares diferentes, mas com muita intensidade”, observa ele, que na ficção, uma única vez interpretou um chef: o Enrico, de Império.
No momento, o foco está em inaugurar o próprio restaurante, como empresário, em sociedade com Paulo Yoller, vencedor do Cook Island – Ilha do Sabor, reality gastronômico do GNT, apresentado por Joaquim este ano. “Ele é um renomado chef de cozinha, que há mais de dez anos possui um restaurante de hambúrgueres na Rua dos Pinheiros, o Meats, em São Paulo, mas que teve uma formação gastronômica em Napoli, na Itália. Então, queremos montar uma trattoria e pizzaria ‘veramente’ napolitana. Se Deus quiser, esse projeto deve acontecer até a metade do ano que vem para todo mundo chegar, ter uma experiência gastronômica inesquecível e ao mesmo tempo familiar. Queremos colocar os melhores produtos com receitas típicas e outras mais inovadoras. Um menu coeso, sempre em modificação para que as pessoas sintam-se em casa”, explica ele, que mora no Rio de Janeiro e não descarta a possibilidade de voltar a viver no estado onde nasceu.
PAIXÃO PELA GASTRONOMIA SURGIU NA INFÂNCIA
Paulo é quem vai ser o chef desse restaurante. Mas Joaquim planeja preparar um prato especial fora do menu, receita dele, de vez em quando. “Estamos pensando em um menu com memórias afetivas, pratos que nós crescemos comendo”, comenta ele, acrescentando que em relação ao Cook Island, ainda não existe a confirmação de uma segunda temporada.
“Por enquanto, existem apenas conversas sobre essa possibilidade. Mas o programa ficou entre os top five, as maiores audiências dos canais Globosat. Esteticamente foi maravilhoso, com direção incrível do David Feldon. Espero que tenha sido o primeiro de muitos trabalhos com o GNT”, observa Joaquim, que, recentemente, foi mestre-de-cerimônias do Rio Gastronomia 2022 e do 3ª Gala Minas, evento beneficente promovido pela Brazil Foundation.
Nos últimos dois anos e meio de pandemia, o ator também compartilhou receitas no Reels do Instagram. “Eu e a Marcella desenvolvemos um projeto familiar colocando receitas fáceis de fazer, que eu conhecia da minha vida e que as pessoas pudessem fazer as substituições que achassem convenientes. Eram vídeos bem divertidos, sem pretensão de nada. Éramos eu e ela na cozinha e uma câmera na mão”, recorda.
O lado chef de Joaquim surgiu de forma natural. “Minha família por parte de mãe teve figuras femininas fortes. Minha avó e minha tia eram cozinheiras inacreditáveis. Tem receitas das duas, que tenho até medo de reproduzir, porque a minha memória afetiva está tão exacerbada que qualquer coisa que eu faça, vai ficar aquém do que realmente era o prato”, frisa ele, que adiou os planos de lançar o livro A Cozinha da Minha Avó. “Sabe quando você termina uma obra e aí depois de um tempo a revisita? Achei falhas e preferi dar uma segurada para lançá-la de maneira 100%”, conta.
Em sua casa, Joaquim também prepara pratos para a mulher e as filhas. “Eu cozinho praticamente todos os dias. Pra mim, isso não é uma tarefa, mas um prazer. Sempre tomamos cuidados para selecionar os melhores alimentos para as meninas. A Marcella estuda muito sobre isso e eu executo”, explica ele, acrescentando que ela gosta bastante de seu espaguete ao molho de tomate. “Comida caseira, simples. O truque é o molho. Tem uns toques secretos que eu não conto pra ninguém. E as meninas gostam de crepioca e um ovinho feito com um pouquinho de mussarela de búfala. Variamos o cardápio com a preocupação de que elas desenvolvam esse conhecimento de paladar para que se alimentem saudavelmente quando crescerem”, aponta. Por sua vez, Joaquim gosta de comer de tudo: “Sou aquele cara que não tem frescura para comida, como o que tiver na minha frente. E, por incrível que pareça, o prato que eu mais gosto é carpaccio de carne”.
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